Como parte de sua 45ª viagem apostólica internacional, Francisco desembarcou no País na segunda-feira, 9, e falou às autoridades, sociedade civil e corpo diplomático
Em seu primeiro discurso em terras timorenses, no encontro com as autoridades, a sociedade civil e o Corpo Diplomático em Dili, capital de Timor-Leste, no Palácio Presidencial, na segunda-feira, 9, o Papa Francisco destacou as belezas naturais do país – independente deste 2002 –, uma terra que desperta sentimentos de paz e alegria no coração, que passou por uma fase dolorosa no seu passado recente , que viveu as convulsões e violências que frequentemente sucedem quando um povo, ao vislumbrar a independência plena, vê a sua procura de autonomia ser engada ou contrariada.
O Papa destacou que após viver anos de calvário e da maior provação, o país soube reerguer-se, encontrando uma senda de paz e o início de uma nova fase, que pretende ser de desenvolvimento, de melhoria das condições de vida e de valorização, a todos os níveis, do esplendor impoluto deste território e dos seus recursos naturais e humanos.
“Demos graças ao Senhor porque, atravessando um período tão dramático da vossa história, não perdestes a esperança e, depois de dias sombrios e difíceis, despontou finalmente uma aurora de paz e liberdade”, frisou o Pontífice.
ENRAIZAMENTO NA FÉ CATÓLICA
“Para alcançar estas importantes metas, serviu de grande ajuda o vosso enraizamento na fé católica, como salientou São João Paulo II durante a sua visita ao vosso país em 1989. Na sua homilia, em Taci Tolu, recordou que os católicos de Timor-Leste têm ‘uma tradição em que a vida familiar, a educação e os costumes sociais estão profundamente radicados no Evangelho’; e uma tradição ‘impregnada dos ensinamentos e do espírito das Bem-aventuranças’, de ‘humilde confiança em Deus, de misericórdia e perdão e, quando necessário, de paciente sofrimento em tempos de provação’ (12 de outubro de 1989)”, recordou Francisco.
“A este propósito e de modo particular, desejo recordar e louvar o vosso esforço assíduo para alcançar uma plena reconciliação com os vossos irmãos da Indonésia, atitude que encontrou a sua primeira e mais pura fonte nos ensinamentos do Evangelho”, prosseguiu.
“Mantivestes firme a esperança mesmo na aflição e, graças ao caráter do vosso povo e à vossa fé, transformastes a dor em alegria! Queira o Céu que em outras situações de conflito, em diversas partes do mundo, prevaleça igualmente o desejo de paz e de purificação da memória, para sarar as feridas e substituir o ódio pela reconciliação e a contraposição pela colaboração!”
OS DESAFIOS DE UM PAÍS INDEPENDENTE
“É ainda motivo de grato louvor o fato de, no 20.º aniversário da independência do País, terdes incorporado como documento nacional a Declaração sobre a Fraternidade Humana, que assinei juntamente com o Grão-Imã de Al-Azhar, a 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi. Como a própria Declaração deseja, prosseguiu o Santo Padre, fizeste-o para que possa ser adotada e incluída nos currículos escolares. E isto é fundamental: o processo educativo”, comentou.
“Agora, efetivamente, abriu-se diante de vós um novo horizonte, com o céu limpo, mas com novos desafios a enfrentar e novos problemas a resolver. Por isso, quero dizer-vos: a fé, que vos iluminou e susteve no passado, continue a inspirar o vosso presente e o vosso futuro. ‘Que a vossa fé seja a vossa cultura!”’ isto é, que inspire critérios, projetos e escolhas segundo o Evangelho.”
CHAGAS SOCIAIS
Francisco falou de questões sociais que o preocupam na jovem nação, entre as quais o fenômeno da emigração, “que é sempre indicador de uma valorização insuficiente ou inadequada dos recursos; bem como da dificuldade de oferecer a todos um emprego que produza lucro equitativo e garanta às famílias um rendimento que corresponda às suas necessidades básicas”.
“Penso na pobreza, presente em tantas zonas rurais, e na consequente necessidade de uma concorde ação de longo alcance, envolvendo distintas responsabilidades e múltiplas forças civis, religiosas e sociais, para remediar e oferecer alternativas viáveis à emigração”, disse Francisco.
“Penso naquelas que podem ser consideradas chagas sociais, como o excessivo consumo de álcool entre os jovens e a formação de bandos que, munidos dos seus conhecimentos de artes marciais, em vez de os utilizarem ao serviço dos indefesos, utilizam-nos como ocasião para mostrar o poder efémero e nocivo da violência. Não esqueçamos também muitas crianças e adolescentes feridos na sua dignidade: todos somos chamados a agir de forma responsável para evitar qualquer tipo de abuso e garantir que as nossas crianças cresçam tranquilamente”.
Mas o Pontífice não apenas apontou problemas; ele também indicou chaves para solucioná-los e para melhor a gestão dos recursos naturais do País. “em primeiro lugar, das reservas de petróleo e de gás, que poderiam oferecer possibilidades de desenvolvimento sem precedentes – é indispensável preparar adequadamente, com uma formação apropriada, aqueles que serão chamados a ser a classe dirigente do País num futuro não muito distante. Desta forma, poderão dispor de todos os instrumentos indispensáveis para traçar um planeamento de longo alcance, tendo em vista exclusivamente o interesse pelo bem comum”.
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
“Como base para este processo formativo, a Igreja oferece a sua doutrina social. Ela constitui um pilar indispensável, sobre o qual se podem construir conhecimentos específicos e no qual é sempre necessário apoiar-se, para verificar se estas ulteriores aquisições beneficiaram verdadeiramente o desenvolvimento integral ou se, pelo contrário, significaram um obstáculo, produzindo desequilíbrios inaceitáveis e uma elevada quota de descartados, deixados à margem.”
A Igreja católica, a sua doutrina social, as suas instituições de assistência e caridade, educativas e sanitárias estão ao serviço de todos e são também um recurso precioso, que permite olhar para o futuro com olhos cheios de esperança. A propósito, merece apreço o fato que o empenho da Igreja em prol do bem comum possa contar com a colaboração e o apoio do Estado, no quadro das relações cordiais desenvolvidas entre a Santa Sé e a República Democrática de Timor-Leste, reconhecidas pelo Acordo entre as Partes que entrou em vigor a 3 de março de 2016.
“Timor-Leste, que soube enfrentar momentos de grande tribulação com paciente determinação e heroísmo, vive hoje como um País pacífico e democrático, destacou Francisco, empenhado na construção de uma sociedade solidária e fraterna, desenvolvendo relações pacíficas com os seus vizinhos no seio da comunidade internacional. Olhando para o vosso passado recente e para o que foi realizado até agora, há razões para estar confiante de que a vossa Nação também será capaz de enfrentar as dificuldades e os problemas atuais com inteligência e criatividade”, prosseguiu.
“Confio Timor-Leste e todo o seu povo à proteção da Imaculada Conceição, vossa celeste Padroeira, aqui invocada com o título de Virgem de Aitara. ‘Que Ela vos acompanhe e ajude sempre na missão de construir um país livre, democrático e solidário, onde ninguém se sinta excluído e todos possam viver em paz e com dignidade’”.
O Timor-Leste é o terceiro país que o Papa visita nesta 45ª Viagem Apostólica Internacional, iniciada no dia 2, e durante a qual ele já esteve na Indonésia e em Papua-Nova Guiné. Seu próximo e último destino, a partir da quarta-feira, 11, será Cingapura.
Fonte: Vatican News