RD do Congo: os ‘3Ts’ que exemplificam a exploração de recursos congoleses

Cassiterita (estanho, “Tin” em inglês), volframite (Tungstênio), coltan (Tântalo) – estes “3Ts ” – são os principais recursos objeto de predação no leste da República Democrática do Congo (RD Congo), segundo documentos das várias entidades da ONU, que há anos elabora relatórios sobre o assunto.

“A África não é uma mina para explorar, nem uma terra para saquear”, enfatizou o Papa Francisco em seu primeiro discurso em terras congolesas, dirigido às autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, reunidos no Jardim do “Palais de la Nation” em Kinshasa, na terça-feira, 31 de janeiro.

“Depois da exploração política, desencadeou-se um ‘colonialismo econômico’ igualmente escravizador. Assim, largamente saqueado, este país não consegue beneficiar suficientemente dos seus recursos imensos: chegou-se ao paradoxo de os frutos da sua terra o tornarem ‘estrangeiro’ para os próprios habitantes. O veneno da ganância tornou os seus diamantes ensanguentados. É um drama face ao qual, muitas vezes, o mundo economicamente mais desenvolvido fecha os olhos, os ouvidos e a boca”, enfatizou o Papa.

Desde o início da colonização, iniciada pelo rei da Bélgica, o Congo sempre foi visto sob a ótica de uma terra a ser explorada.

Uma exploração que continua, mas de uma forma mais sofisticada e diversificada. Como disse o ativista congolês dos direitos humanos Pierre Kabeza, em coletiva de imprensa no Vaticano, a exploração dos recursos congoleses “pode ser descrita como uma árvore cujas raízes são as grandes potências do mundo, junto com suas multinacionais. O tronco da árvore são os países próximos da RDC (Ruanda e Uganda) que recebem a ajuda das grandes potências e por fim os ramos são os vários grupos guerrilheiros que operam em território congolês. A seiva que nutre a árvore são os interesses econômicos”.

No território, mais de 100 grupos que lutam pelo controle das três províncias do leste congolês (Kivu Norte, Kivu Sul e Ituri) cometem crimes contra a população civil para poderem explorar ilegalmente os recursos naturais.

Além dos 3Ts, há ouro, diamantes, cobalto e cobre, mas também animais selvagens, carvão e madeira, além de cannabis. Mercadorias que são depois transferidas para o Ruanda, Burundi e Uganda e destes países para os mercados internacionais.

O andamento das operações militares dos vários grupos rebeldes (mas também do exército congolês, cujos departamentos não são estranhos ao tráfico ilegal) reflete o mapa dos recursos da área.

Como assinala o último relatório enviado à Agência Fides pela Rede Paz para o Congo, o ressuscitado Movimento 23 de Março (M23) tem entre seus objetivos “manter o ‘pequeno norte’ de Kivu do Norte, ou seja, a cidade de Goma e os territórios de Nyiragongo, Rutchuru, Masisi e Walikale, muito ricos em minerais (ouro, coltan, cassiterita, cobalto), sob a influência econômica, militar e política do regime ruandês”. Motivo pelo qual, o M23 ocupou mais de 100 povoados na área de Rutchuru nas últimas semanas; em muitos deles estabeleceu uma administração paralela à do Estado, nomeando novas autarquias leais a ele e impondo impostos ilegais.

Por fim, são exploradas as pessoas, os mineiros, muitas vezes entre os 14 e os 25 anos, que realizam trabalhos de alto risco em locais perigosos, em condições difíceis, com risco de vida devido a deslizamentos de terra e doenças que poderiam ser evitadas se tivessem formas de proteção, ainda que mínimas.

Fonte:  Agência Fides

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