Neste 30 de setembro, a Igreja celebra a memória litúrgica do Santo que viabilizou a Bíblia Vulgata, a edição comum a todo o Ocidente dos textos bíblicos
![](https://ik.imagekit.io/osaopaulo/wp-content/uploads/2020/09/Jeronimo.png)
São Jerônimo nasceu na região da Dalmácia no começo do século IV. Seu pai, um homem de posses, mandou seu filho a Roma, depois de completados os estudos básicos, para estudar Retórica e Gramática, o que seria a base de seu trabalho para a tradução dos textos sagrados. Na Cidade Eterna, Jerônimo estudou sob a direção do famoso gramático chamado Donato.
Batizado em 366 d.C. pelo Papa Libério, Jerônimo dedicou-se aos estudos e à oração. No ano seguinte, em 367 d.C., o Santo viajou para a corte do Imperador Valentiniano I (364-375), em Tréveris. Lá ele travou conhecimento do legado de Santo Atanásio de Alexandria, que viveu na cidade em exílio e nela introduziu a vida monástica no Ocidente.
Jerônimo, então, abraçou a vida monástica e se interessou pelos estudos teológicos. Mudou-se para Aquileia e, com alguns amigos, viveu uma vida de oração e estudo. Em 374 d.C., São Jerônimo dirigia-se com alguns companheiros para Jerusalém, mas foi obrigado a permanecer em Antioquia devido a uma doença que lhe atingiu. Na cidade, conheceu Apolinário de Laodiceia, amigo íntimo de Santo Atanásio, fato que o incentivou a viver uma vida de ermitão no deserto de Cálcis.
No deserto, começou a copiar livros, a aperfeiçoar-se no grego e a aprender hebraico com um judeu convertido. Após três anos de vida eremítica, Jerônimo voltou à cidade para resolver uma controvérsia teológica que havia surgido entre seus amigos monges. Em Antioquia, foi ordenado bispo. Viajou para Constantinopla, sede à época do Império Romano, e depois se dirigiu para Roma.
Em Roma, a pedido do Papa Dâmaso, Jerônimo começou a revisar as traduções latinas dos textos bíblicos que existiam na época, o que foi o começo do trabalho hercúleo de tradução de toda a Sagrada Escritura para o latim.
A Vulgata
O termo vulgata tem origem na palavra latina vulgus, que significa “multidão” ou “público”. A Bíblia Vulgata, portanto, foi feita com a intenção de ser a edição comum a todo o Ocidente dos textos bíblicos.
Variadas e carentes de autoridade e cientificidade, as traduções anteriores para o latim eram realizadas a partir de provincialismos de cada região e de esforços individuais. As traduções eram tantas, que Santo Agostinho dizia que qualquer um que tivesse um manuscrito grego e soubesse latim se aventurava a traduzir os textos.
Os esforços de tradução de São Jerônimo ocorreram em três etapas. Na primeira, ele se preocupou em revisar a tradução latina dos quatro Evangelhos a partir dos manuscritos gregos. Em um segundo momento, em 387, quando estava em Belém, Jerônimo começou a revisão dos textos latinos do Antigo Testamento a partir de uma versão grega da Septuaginta. A terceira etapa, a mais trabalhosa, foi a tradução para o latim dos textos hebraicos do Antigo Testamento. Seu objetivo em realizar a tradução era evitar a alegação de judeus da época de que os cristãos não tinham acesso ao texto verdadeiro das Escrituras.
O texto de São Jerônimo apresentava três qualidades marcantes, que logo fizeram dessa versão a mais usada pela Igreja latina:
- A primeira e principal característica é a clareza de exposição. De maneira geral, pode-se afirmar que nenhum dos tradutores anteriores a Jerônimo expressava o real sentido dos textos como ele, mesmo se, às vezes, o Santo cometesse um pequeno deslize. Para tornar o sentido do texto claro, ele, algumas vezes, adicionava uma palavra, traduzia os nomes hebraicos pelo seu sentido etimológico e usava expressões populares ou mitológicas.
- A segunda característica é a fidelidade da tradução. Para obter o sentido real do texto original, frequentemente São Jerônimo consultava várias versões, para traduzir com fidelidade para o latim.
- A terceira característica é a elegância. Frases hebraicas, que, se traduzidas literalmente, soariam mal em latim, eram escritas por Jerônimo com uma sintaxe elegante. Frases hebraicas e longas eram quebradas, para que o texto latino corresse com naturalidade.
O Concílio de Trento, em 1546, declarou a Vulgata de Jerônimo o texto oficial da Igreja Católica, pois era o texto mais usado há mil anos pela tradição. O decreto Insuper do Concílio declarou que a “Vulgata, que tem sido aprovada pelo seu longo uso por muitos séculos pela Igreja, deve ser considerada autêntica em leituras públicas, discussões, pregações e exposição, e que ninguém pode rejeitá-la sob nenhuma circunstância”.
Entretanto, a intenção do Concílio era afirmar a autenticidade da Vulgata em relação às verdades de fé e da moral, e não que ela pudesse substituir os textos originais ou não contivesse imprecisões e erros de tradução em algumas passagens.
Com o desenvolvimento dos estudos bíblicos, principalmente a partir do começo do século XX, foi sendo preparada uma revisão da Vulgata. Apenas em 1979 ela foi substituída pela Nova Vulgata, que é uma tradução mais acurada, entretanto, sem deixar de ter como base a tradução de São Jerônimo.
Fontes: The History of the Latin Vulgate – Jonh E. Steinmmeuller; The Vulgate– Samuel Angus