Ucrânia à espera de uma visita papal

País do leste europeu sofre há anos com invasões e conflitos em seu território, almeja a paz e acredita que uma visita de Francisco seria um grande incentivo para demover a Rússia de suas ambições expansionistas

Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em visita ao Papa em fevereiro de 2020 (foto: Governo da Ucrânia)

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fez um telefonema ao Papa Francisco, no fim  de junho, durante o qual o convidou a visitar o país, apelando para a “autoridade moral” da Igreja Católica.

“A Santa Sé é a autoridade moral do mundo”, disse o líder ucraniano. Ele lembrou o 20º aniversário da visita de São João Paulo II ao país, de 23 a 27 de junho de 2001.

O presidente afirmou que os ucranianos têm uma boa lembrança dessa visita e relembrou a famosa declaração do Papa polonês de que “a Europa deve respirar com dois pulmões: ocidental e oriental”, com a Ucrânia sendo parte do pulmão oriental.

Nesse contexto, Zelensky disse que uma visita papal à Ucrânia seria o “oxigênio de que tanto precisamos”, especialmente à luz do conflito em curso na região de Donbass, no leste do país.

“O povo da Ucrânia espera a visita de Vossa Santidade”, exortou o presidente, insistindo que a Ucrânia é um lugar de coexistência pacífica, onde representantes de diferentes tradições religiosas vivem lado a lado.

O PAPA E A PAZ

De acordo com o comunicado do governo ucraniano, Zelensky elogiou o Papa Francisco por sua atenção às questões globais como a paz, o diálogo inter-religioso, a situação dos migrantes e refugiados e a atenção aos pobres.

Ele também agradeceu a Francisco as orações frequentes pela paz na Ucrânia, observando que mais de 14 mil pessoas morreram no conflito em Donbass e 1,5 milhão foram deslocadas como resultado da violência.

“Esperamos trabalhar com a Santa Sé e seu apoio para levar a paz a Donbass”, disse o mandatário ucraniano, acrescentando: “O apoio da comunidade mundial e dos líderes espirituais é extremamente importante”.

HISTÓRICO

Nos últimos sete anos, a Ucrânia foi afetada por uma guerra que eclodiu após a anexação da península da Crimeia pela Rússia, em 2014. Embora a Rússia afirme que a Crimeia agora faz parte de seu território, a península ainda é reconhecida internacionalmente como pertencendo à Ucrânia, que a quer de volta.

O conflito estourou imediatamente com separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia após a anexação, dando início a uma guerra violenta de anos que custou a vida de milhares e deixou milhões de desabrigados.

ACORDOS DESRESPEITADOS

Numerosos acordos de cessar-fogo ao longo dos anos falharam, com outros líderes europeus continuamente tentando persuadir a Rússia a reduzir sua presença militar na fronteira oriental da Ucrânia, onde cerca de 100 mil soldados russos estão reunidos.

Em março, a Rússia implantou divisões terrestres e aerotransportadas nas regiões fronteiriças de Rostov, Bryansk e Voronezh, bem como na Crimeia, provocando retaliação das forças ucranianas.

Um mês depois, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, disse que algumas forças seriam retiradas, mas os moradores insistem que nada mudou.

INICIATIVAS DA IGREJA

Naquele mesmo mês, o Conselho Ucraniano de Igrejas e Organizações Religiosas fez um apelo à comunidade internacional para ajudar a restaurar um acordo de cessar-fogo de julho de 2020.

O arcebispo de Kiev-Halych, Dom Sviatoslav Shevchuk, arcebispo-mor da Igreja Greco-Católica Ucraniana e presidente do conselho, exortou os ucranianos no exterior a falar sobre a situação e ser “testemunhas da verdade” sobre a realidade do conflito.

Ao longo dos anos, Dom Shevchuk e outros representantes da Igreja Greco-Católica Ucraniana apelaram a uma visita papal de Francisco, insistindo que a sua presença poderia ajudar a trazer a paz.

Falando a jornalistas em 8 de julho de 2019, após um encontro de dois dias entre bispos greco-católicos ucranianos e autoridades do Vaticano, Shevchuk e os bispos naquela ocasião convidaram Francisco a visitar a Ucrânia.

“Se o papa colocar o pé em solo ucraniano, não haverá mais guerra”, disse ele.

MOTIVAÇÕES

Há muito se especula que o motivo de o Papa Francisco – que visitou o Iraque devastado pela guerra em março – não ter viajado à Ucrânia ainda, apesar dos repetidos apelos da Igreja e dos líderes políticos, é o medo de uma possível reação da Rússia.

O Papa Francisco e o Patriarca Ortodoxo Russo Kirill II tiveram um primeiro encontro histórico em Cuba em 2016, e é improvável que o Vaticano, ou o Papa, faça qualquer coisa que possa perturbar o progresso feito durante aquela ocasião.

Fonte: Crux Now

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