Éva Pál, 37, é da Hungria e participou da JMJ pela terceira vez: esteve também em Cracóvia, em 2016, e no Panamá, em 2019. Na missa de encerramento da JMJ Lisboa, cinco jovens foram escolhidos para representar cada um dos continentes e ter um encontro com Francisco. Eva foi a representante da Europa.
Você nasceu numa família católica? Ou converteu-se depois?
Nasci num berço católico e, quando criança, conheci pela primeira vez o milagre das aparições de Fátima durante minhas aulas de Religião. Tínhamos a história dela em uma fita de videocassete em preto e branco e, quando estava no jardim de infância, minha mãe tinha que colocá-la para mim o tempo todo, pois fiquei completamente cativada pela história dos três pastorinhos e não me cansava de assistir a ela. Quando recebi meu primeiro Terço, não entendi muito bem o que deveria fazer ou o que os mistérios significavam; apenas sabia que era o maior presente que eu poderia ter e acreditava muito nisso.
Em 1992, com 7 anos, depois da mudança de regime na Hungria, fiz a minha primeira Comunhão em Százhalombatta. Nós, então, nos mudamos para Érd, a 20km de Budapeste, e comecei a frequentar a escola católica. Aos 14 anos, fui crismada e escolhi a Santíssima Virgem Maria como minha padroeira. Aos 20 anos, me afastei de Jesus e novas influências surgiram.
Aos 28 anos, em 2013, fui a Roma e assisti à missa de Natal do Papa Francisco. Ali, no meio da multidão, me senti mal por não poder comungar; então, decidi que quando chegasse a casa, iria confessar e mudar minha vida e meus valores. Minha vida parecia vazia, meus relacionamentos superficiais, meus valores completamente deturpados sem a presença de Jesus. Eu estava cheia de remorso sobre como poderia ter me afastado tanto Dele em comparação com a maneira que o acolhi quando acreditei Nele.
Mudei-me sozinha para Budapeste. Desde 2014, participo das missas diárias, passei a Páscoa em Medjugorje e tenho rezado o Terço desde então. Frequento regularmente a Igreja Franciscana em Margaret Boulevard. A minha história é semelhante à do filho pródigo. Tenho grande respeito e amor pelos padres hún- garos e muito orgulho do caminho que estão trilhando. Recebi muito amor e cari- nho deles. Posso dizer honestamente que devo muito a eles porque me apoiaram em tudo, mesmo quando tudo era difícil e eu me sentia muito solitária. Voltei a ter aulas de Religião e várias vezes fizemos pe- regrinações, o que me proporcionou uma experiência duradoura e uma verdadeira recarga espiritual.
Uma vez que você já participou de outras edições da JMJ, descreva o que elas representaram para você e sua caminhada de fé.
Em 2016, estive em Cracóvia, na Polônia, pela primeira vez como peregrina na JMJ e fiquei profundamente impressionada com tantos jovens católicos reunidos. Senti que nossa fé estava viva e que juntos poderíamos vivê-la e orar com um só coração. Decidi que gostaria de ser voluntária na próxima edição da JMJ. Voluntariado é muito importante para mim e sinto que estou oferecendo algo livremente. Estou devolvendo para a comunidade dos crentes o melhor que recebi da Igreja.
Quando foi anunciado o lema da JMJ no Panamá, “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38)”, senti que Nossa Senhora me chamava, que eu tinha que dizer sim a ela, que tinha que ir para o Panamá porque era lá que a encontraria. Não posso dizer exatamente o que esperava do encontro; só posso dizer que desejava estar ali e rezar a Nossa Senhora.
Como não tinha um salário adequado, não tinha o dinheiro necessário para ir ao Panamá. Meus pais, então, me presentearam com uma passagem aérea para lá, como presente de Natal [na ocasião, a JMJ ocorreu no mês de janeiro]. Tive a oportunidade de ficar um mês no país centro-americano.
Conheci Nossa Senhora de Fátima pela primeira vez no Panamá. Rezei um Terço em frente à imagem, fiquei muito feliz quando soube que o próximo encontro seria em Lisboa. Depois de voltar para casa, fiz uma peregrinação a Lourdes, na França, para onde estou ansiosa em voltar como voluntária. Gosto de orar pelos outros, acho que as orações de intercessão são muito importantes.
Quando voltei para a Hungria, consegui um emprego como assistente, mas Budapeste estava sediando o 51º Congresso Eucarístico Internacional [ocorrido em setembro de 2021], e fui convidada para trabalhar como designer gráfico. Eu nunca teria me imaginado fazendo um trabalho de design gráfico para a Igreja e vejo aí a mão de Deus em mim, pois, por mais que eu quisesse me afastar da arte, Ele deu sentido aos anos que passei nessa profissão. O Congresso foi um sucesso em todos os sentidos: encontrei amigos que amo e a quem sou muito grata. Rezamos pela renovação espiritual da Hungria e sinto que isso aconteceu. Nós todos somos orgulhosos da comunidade católica húngara.
E como se deu a sua ida a Portugal para a JMJ Lisboa 2023?
Terminado o Congresso, me ofereci como voluntária para a equipe de design gráfico da Jornada Mundial da Juventude e começamos a trabalhar juntos. Atuei inicialmente nas redes sociais. Em novembro de 2022, descobri que havia uma oportunidade de ficar aqui em Lisboa em longo prazo e trabalhar com a equipe. Eu me inscrevi imediatamente, pois sabia que realmente era isso que queria. Tive minhas dúvidas, tive muito medo de não ser aceita. Tive que confiar em Nossa Senhora e colocar minha vida nas mãos de Deus novamente. Larguei meu emprego e vim dar o melhor do que eu tinha.
Quais as impressões que você extrai da experiência em Portugal?
Estou muito grata à comunidade de Lisboa por ter me acolhido e permitindo trabalhar com todos eles na organização. Adoro ir ao escritório para trabalhar, todos os dias, das 9h às 18h. Entro de bom humor e volto para casa de bom humor!
Moro com uma família muito bacana, que tem quatro filhos. A filha mais velha deles é casada e não mora mais com eles, o que me permitiu ficar com o quarto dela. Magda é o tipo de mãe que eu gostaria de ser, se Deus quiser. Ela é incrivelmente gentil com seus filhos e os ama muito, muito. Ela cria os filhos com uma paciência que nunca vi. Eu sou acostumada a estar sempre sozinha, morando sozinha.
Esta é uma nova situação de vida, vivendo com uma família. Eles me aceitaram na casa deles, na família deles, vamos juntos à missa aos domingos. Eu dei uma imagem de Nossa Senhora de Szentkut a esta família, para que sejam cuidados e mantidos com amor.
A comunidade portuguesa é formada por pessoas muito simpáticas. Todos são atenciosos, gentis e receptivos. Eu estou aprendendo muito sobre amor e sobre família.
Fui a Fátima, agradecer a Nossa Senhora por não me abandonar. Eu me perdi, mas encontrei meu caminho de volta porque ela nunca me deixou, eu consegui e agora estou aqui em Portugal. Cresci e estou vivendo o sonho que tive quando criança: ser católica e nunca me arrepender de Jesus. Não estou aqui como turista ou peregrina, mas para Ele. Estou servindo a comunidade cristã jovem.
Posso dizer honestamente que estava ansiosa para encontrar o Papa Francisco um dia, para apenas ser capaz de lhe dizer “obrigada”. Para dizer “muito obrigada, do fundo do meu coração”, puro e simples. Eu queria segurar a mão dele. Meu sonho se tornou realidade durante a JMJ e devo isso à equipe organizadora portuguesa. Na missa de encerramento da Jornada, cinco jovens representavam os cinco continentes, e fui eu quem representou a Europa. Minhas pernas, mãos e olhos tremiam. Eu estava lutando para não chorar e sentia um nó no meu estômago. Eu estava muito nervosa. Eu pensei que ia chorar até dormir, e então ele olhou para mim e lá estava um amor que me acalmava. Ele sorriu docemente e olhou nos meus olhos. E tudo que eu pude dizer foi “obrigada, obrigada, obrigada” em todas as línguas que eu poderia pensar. Achei que ia segurar a mão dele por um muito tempo e que me seria dito para deixa-lo ir. O tempo parecia tão longo que até desacelerou. Mas só para mim foi muito tempo. Eu o amo e o respeito muito. O Espírito Santo o escolheu para esta tarefa e eu rezarei para que ele guarde nosso Santo Padre no amor.
Qual mensagem você deixaria aos jovens a partir de sua experiência nas JMJs?
Acho que Deus escolhe as melhores pessoas para organizar a Jornada Mundial da Juventude. Foi um verdadeiro esforço de equipe. Todo mundo é especial e único. Todo mundo é adorável. Eu abraçaria a todos para que nunca nos separássemos. Vamos trabalhar juntos todos os dias, vamos à missa e demos as mãos, vamos ficar juntos. Mas aos poucos temos que nos despedir.
Às vezes, sinto que perdi minha juventude. Mas pelo menos assim posso apreciar a juventude dos outros. Sei o quanto são lindos e importantes estes anos. E quando olho para esses jovens, tudo o que posso pedir é: ‘Deus, que seus sonhos se tornem realidade. Que eles amem e sejam amados de volta. Que ninguém nunca os machuque, que nada os decepcione. Ensine-lhes bondade, paz, gratidão. Que eles sejam os pequenos tesouros preciosos da Igreja, a serem protegidos com orgulho de todo o mal’. As pessoas mais queridas e puras que já conheci. Estou orgulhosa de todos eles e rezo por eles. Vale a pena mover montanhas por eles. O presente mais precioso que eu poderia ter recebido é o amor deles. Obrigada!
A cada três anos, temos a oportunidade de nos conhecer, de nos abraçar. Eu gostaria que cada jovem pudesse tirar tanto proveito da Jornada Mundial da Juventude quanto eu. Acredito que um encontro como este tem um impacto extraordinário nas pessoas porque vemos quantos cristãos somos e o quanto podemos apoiar uns aos outros, levantar uns aos outros e ajudar uns aos outros quando o outro está perdido. E algumas pessoas se perdem e Jesus abraça aqueles que foram longe sem Ele. Sou testemunha de uma bela conversão. É muito difícil no mundo de hoje, porque há tantas influências sobre todos. Eu sei o que é duvidar, o que é estar longe de Jesus e não lidar com Deus. Eu sei o que é tentação e sei o que é pecado, infelizmente. Eu acredito na unidade, no poder da multidão, no amor e na comunidade. A Jornada Mundial da Juventude é a melhor oportunidade para ajudar aqueles que caíram. Deus me ama muito, senão eu não estaria aqui.