Plantas ganham cada vez mais espaço nas casas e apartamentos!

Uma quitinete de um grande centro urbano pode abrigar uma horta? Confira as histórias de quem cultiva plantas em casa e dicas para começar a cuidar do seu jardim!

Quem disse que ter planta em casa é coisa da época dos avós? O movimento e o hábito de cultivar horta, jardim ou plantas ornamentais, mesmo em pequenos espaços, têm ganhado cada vez mais adeptos.

Seja em uma quitinete no bairro de Santa Cecília, região central da cidade; seja em um apartamento um pouco maior no calor de Copacabana, no Rio de Janeiro; seja em uma grande casa com quintal em Arinos, interior de Minas Gerais, cuidar de plantas tem se tornado uma prática cada vez mais comum e benéfica.

No coração de São Paulo

Quando se mudou para uma quitinete no bairro de Santa Cecília, Fábio de Lima Martin, 33, sabia que a região tinha uma fama: a de abrigar pessoas “apaixonadas por plantas”. Esse paulistano, porém, que é fotógrafo e editor de vídeos, não tinha o hábito de cuidar delas.

“Minha primeira samambaia comprei na feira. Fui buscar frutas e legumes e vi a barraca das plantas. Achei aquela samambaia tão bonita, que não resisti”, contou.

A segunda planta ele ganhou de uma amiga no dia do aniversário e, a partir de então, as plantas foram ganhando cada vez mais espaço dentro do seu pequeno apartamento, que se trata de uma quitinete sem divisões entre quarto, sala e cozinha.

“Como se trata de um espaço único, percebi que plantas ajudaram a deixá-lo menos árido e mais aconchegante”, disse Martin, que espalhou as plantas pela casa aleatoriamente e foi, com o tempo, percebendo qual precisava de mais ou menos água ou sol.

A facilidade de ter um garden para comprar novas mudas e vasos bem perto de casa também ajudou o paulistano. “A cada nova aquisição, eles me orientam se a planta gosta mais de sol ou de sombra, a frequência das regas e outros cuidados necessários. Isso também facilitou muito”, disse.

 “Senti que minha casa mudou muito e que as plantas me fazem companhia, sobretudo agora durante a quarentena. Tenho um afeto por elas, não são simplesmente uma peça de decoração”, continuou Fábio.

Herança familiar

No caso da carioca Ana Caroline Vieira, 34, assistente social e gerente de projetos, o gosto pelas plantas começou por admiração: “Sempre me chamou a atenção a relação que minhas avós e mãe tinham com as plantas. Minha avó paterna sempre teve um quintal com muitas plantas e árvores. Um jardim esplêndido que chamava a atenção de todos. Sempre fazia mudas para dar às pessoas. Minha avó materna não fazia uma viagem sem apontar para todas as plantas no caminho e sempre pedia: “Queria tanto uma mudinha dessa. Olha aquela!”.

A assistente social disse que não estudou o espaço e nem mesmo as plantas mais adequadas, mas que sempre procura informações sobre o melhor jeito para cuidar de cada espécie. Quando viaja ou precisa se ausentar por mais tempo, pede aos amigos que a ajudem com as regas e a garantia de que as plantas terão um pouco de ar fresco.

 “Escolhi as plantas para manter vivas minhas lembranças. A samambaia me lembra a minha avó paterna; já o ‘beijinho’, a minha avó materna, a árvore da felicidade, minha mãe. Além disso, não conseguiria viver sem o prazer de sentir o cheiro de terra molhada ou de ver um novo broto surgir. As plantas da minha casa decoram, mas o principal objetivo é dar aconchego ao lar”, disse.

O retorno do verde

Ianna Santana Souza, 32, é engenheira florestal e doutoranda em Produção Vegetal Agroflorestal. Ela mora em Arinos e é professora do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais. Em entrevista ao O SÃO PAULO, Ianna salientou que esse resgate do verde, ou seja, todo o movimento para se ter plantas em casa ou em pequenos espaços acontece em vários âmbitos e faz parte de um retorno à natureza.

“Acredito que as pessoas estão mais conscientes da importância das plantas. Para mim, ter plantas em casa é uma terapia. O simples ato de podá-las de vez em quando, fazer o manejo constante, molhar as plantas diariamente são práticas que os nossos ancestrais tinham de forma até instintiva”, comentou.

Além da graduação e dos demais estudos, Ianna contou que foi sua avó, moradora de Almenara (MG), quem sempre a incentivou. “Além disso, fiz um curso de Permacultura no Sítio Ilumina, em Brasília (DF), onde tive muito contato com as plantas e com a natureza, no ano de 2011. Desde então, em todas as casas nas quais morei, cultivei algo. Alimentos e plantas medicinais sempre tive em casa, e só depois comecei a cultivar plantas ornamentais”, contou.

Dicas da Ianna

1. COMECE!

“Aos poucos comece a comprar as primeiras plantas ou a pegar mudas, estacas com vizinhos, amigos. A maioria das plantas ornamentais se multiplica por estacas e brota facilmente. Cuidar de planta é treinar a observação. A planta se comunica conosco pelas folhas, pela forma. Ela mostra se está gostando ou não de um ambiente. Quando você perceber que o aspecto da planta não é bom, é hora de mudá-la de lugar. Se mesmo assim ela não estiver bem, tente mudar novamente. Nos viveiros, os profissionais sabem dizer se a planta é de sombra, sol ou meia-sombra. Informe-se ao escolher uma espécie”, sugeriu a engenheira florestal.

2. RESPIRE MELHOR!

Talvez você já tenha escutado que não deve ter plantas no quarto de dormir porque elas “roubam o nosso oxigênio”, não é mesmo? Ianna explicou que plantas respiram sim e fazem a fotossíntese. “Ela absorve CO2 e libera oxigênio, e, no processo da respiração, ela absorve oxigênio e libera CO2. Já no processo fotossintético, ela libera muito mais CO2 do que absorve. Então, não existe com o que se preocupar em relação à ideia de que a planta dentro de casa gera problemas. Se você tem uma planta em casa, ela vai liberar 80% de oxigênio e absorver 20%. Por isso, essa ideia de que a planta concorre com o ser humano na respiração é um mito.”

3. ERVAS FRESCAS

“É possível cultivar hortas em apartamentos, inclusive em embalagens reutilizáveis. Alimentos como milho, feijão, mandioca são mais difíceis, mas plantas como alecrim, hortelã, coentro, salsa, cebolinha, tomate são de fácil cultivo. Em quintais, é possível plantar mais coisas. Aqui em casa, plantei eucalipto, moringa, mamão, mandioca. Tenho manjericão, abacate, manga.”

4. ADUBO ORGÂNICO

“Nós jogamos o lixo orgânico direto nos pés das plantas. Isso porque temos espaço e não consigo mais fazer a compostagem, por uma questão de tempo. Com isso, o solo vai ficando cada vez melhor e a planta responde muito bem a essa adubação diversificada. Em pequenos espaços, porém, é possível utilizar a composteira doméstica, que é muito simples e feita a partir das cascas de frutas, legumes e de ovos, por exemplo.”

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