E você? O que faz com o lixo que produz?

Trocar o xampu líquido por um em barra, fabricar o próprio desodorante ou começar a usar uma composteira no apartamento são algumas mudanças que podem ajudar a diminuir a quantidade de resíduos descartados


A maioria das pessoas coloca, diretamente no lixo comum, resíduos que podem ser destinados à reciclagem (fotos: Luciney Martins/ O SÃO PAULO)

A pandemia impactou gravemente o sistema de reciclagem de lixo no Brasil. Um dos fatores é que a crise econômica afetou a atuação das associações e cooperativas. Some-se a isso o aumento da produção de lixo com a grande quanti- dade de embalagens e descartáveis de plástico utilizada pelo sistema delivery. Dados divulgados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostram que a média de consumo de plástico aumentou mais de 25% durante a pandemia. O uso de material hospitalar descartável, como máscaras e luvas, também contribuiu para este aumento.

Diante de tal cenário, o que é possível fazer para diminuir a produção de lixo no Brasil? Empresas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e pessoas físicas têm multiplicado propostas novas para reaproveitamento ou destinação de embalagens de produtos que fazem parte do dia a dia de todas as pessoas.

É o caso da indústria de cosméticos e de materiais de higiene e limpeza. Para diminuir a quantidade de embalagens plásticas vazias, marcas investem em xampu, condicionadores e sabonetes sólidos, vendidos em barras e com embalagens de papel que trazem receitas de como produzir o próprio sabão em pó ou detergente de louças que já podem ser encontradas em blogs e canais de YouTube.

Quem começa a mudar hábitos de consumo garante que esse é um processo lento, mas não impossível.

VOCÊ PRECISA DE TANTAS SACOLAS?

Joana Imparato, 38, é figurinista. Ela começou a prestar atenção ao lixo reciclável que produzia quando ainda era adolescente. “Vi que não era possível reciclar tudo e que o caminho seria produzir menos”, disse ao O SÃO PAULO. Ela percebeu que precisava mudar alguns hábitos quando se deu conta da quantidade de sacolinhas de feira que levava para casa dentro de outra sacola grande de plástico.

“Aprendi com uma amiga do bairro algumas coisas como, por exemplo, comprar mais a granel, adquirir coisas que eu possa trocar apenas o refil. Durante a quarentena, por causa da pandemia, percebi o quanto eu ainda poderia reduzir. Uma das primeiras atitudes foi com as sacolinhas pequenas de feira. Não faz sentido acumular dezenas de sacolinhas que depois vão para o lixo. Você pode ir colocando tudo dentro de uma sacola grande”, disse Joana.

Além disso, durante a quarentena, Joana começou a usar xampus sólidos e a fazer o próprio sabonete. “Ao sair, porém, para comprar os ingredientes do sabonete, me vi com vários potinhos de plástico, o que é uma contradição”, salientou.

Segundo ela, a maioria das pessoas ainda não está sensibilizada para a necessidade de produzir menos lixo e, por isso, é preciso começar com pequenos gestos.

“Separar o lixo e colocar no dia da coleta seletiva já é um bom começo”, afirmou.

INSPIRE-SE!

Irmã Ilanyr Felipe Costa, 38, é religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas. Para ela, a preocupação com o lixo sempre existiu e, com o meio ambiente, de forma mais ampla.

“Sou nordestina e cresci escutando minha mãe dizer que ‘água é ouro’ e que precisamos cuidar dela. Hoje, vejo que muitos dos hábitos que tenho aprendi em casa”, contou.

Por meio de leituras, seguindo páginas nas redes sociais de pessoas que têm foco na sustentabilidade e por meio da convivência com pessoas que se preocu- pam com essa temática, além da participação em eventos do nicho, Ilanyr percebeu que precisava ir além.

“Em 2014, eu participei de um evento na Serra do Cipó, em Minas Gerais, e estar com pessoas desse meio fortaleceu ainda mais a minha consciência. Por isso, hoje sempre carrego minha garrafa de água, para não precisar comprar. Tento, o máximo possível, reparar bolsas e sapatos, antes de comprar novos. Também compro roupas de marcas que se preocupam com a sustentabilidade. Além, é claro, de levar sempre minha sacola quando vou ao supermercado e usar ecoabsorventes”, explicou.

Ao ser perguntada sobre as dificuldades que encontra, Ilanyr salientou o fato de que não é fácil se sentir na contramão de um sistema que parece sempre motivar para o consumo.

“Vejo, no entanto, que as pessoas estão se sensibilizando para a necessidade de produzir menos lixo, porém, em um processo muito lento. Acredito que essa pauta será levantada pelas pessoas mais jovens. Eles serão protagonistas dessa bandeira”, continuou.

Para quem está tentando mudar os hábitos, a Religiosa sugeriu algumas ações como: pensar antes de comprar; tomar banhos mais rápidos; inteirar-se sobre o cuidado com o meio ambiente e envolver-se com pessoas conscientes, que podem ser inspiradoras.

DIMINUIR O CONSUMO

Para Maria da Conceição Souza, 34, a preocupação com o lixo também começou muito antes da pandemia. “Há cerca de seis anos, comecei a pensar para onde iria todo o lixo que eu produzia, como o planeta absorveria tudo aquilo”, disse. “Acredito que um dos primeiros passos é pensar sobre aquilo que você está consumindo, o que vai fazer com aquele resíduo para evitar, o máximo possível, que ele vire lixo”, destacou.

Durante a pandemia, ela se viu desafiada a ajudar outras pessoas a fazerem a compostagem dos resíduos orgânicos. “Em alguns ambientes, é difícil envolver outras pessoas nesta questão”, disse.

Recentemente, Maria da Conceição viveu, com outras três amigas, a experiência de passar um mês morando em uma kombi. “Ter um estilo de vida minimalista e pensar no lixo foi sem dúvida um dos maiores desafios que já vivi, e percebi que o mais importante é diminuir o consumo, ou seja, identificar o que é o lixo e as reais necessidades que temos”, afirmou.

MÁQUINA DE VENDA REVERSA

Aguinaldo Leite é responsável pelo projeto da Environmental Consultoria, Planejamento e Gestão Ambiental, empresa paulista especializada em gestão de lixo, que trouxe para o Brasil um modelo de negócio, em prática na Europa: a máquina de venda reversa, que auxilia as empresas a cumprirem seus compromissos com a logística reversa.

“O projeto surgiu a partir da necessidade de termos matérias-primas para nossa empresa, que produz flakes (pequenos pedaços picadinhos) de PET para outras indústrias como têxtil, cordas, vassouras e resinas para tintas e vernizes. Somos operadores do sistema de logística reversa para ajudar os fabricantes a cumprirem suas metas de retirada de suas embalagens do meio ambiente. Com isso, buscamos as embalagens em cooperativas de catadores, sucateiros e agora vamos buscar direto do consumidor final e, assim, gerar um bônus para desconto em compras futuras”, explicou Leite.

Ele disse que, em geral, as pessoas têm aprovado muito o projeto porque, em sua maioria, já têm vontade de fazer algo pelo meio ambiente. “Algumas já fazem coleta seletiva em suas casas e agora podem ser bonificadas diretamente nos pontos onde costumam fazer suas compras”, explicou.

A máquina funciona da seguinte maneira: a cada embalagem (garrafas plásticas, potes etc.) nela depositada, a pessoa gera um ponto, que pode ser trocado nos parceiros do programa. Estes, por sua vez, oferecem um valor para os pontos, de modo que um ponto pode valer de R$ 0,10 a R$ 1,00, dependendo do parceiro, dos prazos e das ofertas de cada um deles. De posse da embalagem, o consumidor escolhe onde quer trocar seus pontos, podendo acumular no app ou na própria máquina para trocar posteriormente.

O objetivo é estender a iniciativa para diferentes cidades do estado de São Paulo e, posteriormente, para todo o Brasil. Mais informações em http://environmental.eco.br/.

VEJA UMA DICA ABAIXO E MUITAS OUTRAS EM:

Uma Vida Sem Lixo https://umavidasemlixo.com

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