Em Moçambique, Bispo de Pemba faz apelo à oração e a solidariedade

Nascido no Brasil, Dom Luiz Fernando Lisboa descreve a situação difícil em Cabo Delgado, pede a todos que rezem por eles e promovam ações solidárias em favor do povo que ele pastoreia.

(Crédito: Diocese de Pemba)

O Regional Sul 1 da CNBB, que abrange as dioceses do Estado de São Paulo, há três anos tem mantido um projeto missionário com a Diocese de Pemba, situada ao norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado, na África. No entanto, há pouco mais de dois anos, um grupo armado vem gerando pânico com ataques à população desprotegida.

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, após visitar em nome do Regional a Província de Cabo Delgado, em agosto do ano passado, especialmente alguns locais de missão mantidos por este Regional, constatou em meio a um povo alegre, que luta com fé contra as adversidades, os sinais das ações desses grupos armados.

Um sinal de como a situação se agrava é a menção da crise em Cabo Delgado, território da Diocese de Pemba pelo Papa Francisco, por ocasião da bênção Urbi et Orbi no domingo de Páscoa deste ano:

“Que o Senhor da vida se mostre próximo às populações da Ásia e da África que estão atravessando graves crises humanitárias, como na Região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.”

A assessoria de imprensa do Regional Sul 1 conversou por telefone no dia 1o com Dom Luiz Fernando Lisboa, bispo brasileiro em Pemba, sobre os últimos acontecimentos e o clima de temor do momento.

Inicialmente, Dom Luiz faz um apelo às Igrejas Particulares do Regional Sul 1 para rezarem pelo povo que pastoreia: “Nós estamos a viver uma situação muito difícil na nossa Província de Cabo Delgado”.

O Bispo relatou ainda a gravidade de ações violentas iniciadas por volta de dois anos e meio atrás, com ataques armados esporádicos, em vilarejos da região norte da Província, aos poucos foram se intensificando e agora chegam às cidades maiores.

Ele diz que o perfil das ações desse grupo se assemelha a terrorismo, introduzindo o medo e o pânico na população, que sem defesa, foge ou morre. As estimativas apontam para cerca de 250 mil pessoas em migração atrás de refúgio. Pemba, a capital da Província, está com superlotação, e em gesto de solidariedade, as famílias vão acolhendo os parentes e conhecidos.

As instituições de assistência também acolhem muitas pessoas. Dom Luiz Fernando diz ter acolhido, na última semana, 35 crianças e jovens fugitivas, as quais aos poucos foram se encontrando na fuga em meio à mata e chegaram a Pemba. Algumas delas são provenientes de localidades que ficam cerca de 200 km da Capital da Província, e não sabem se os pais sobreviveram aos ataques.

Como as ações violentas estão ocorrendo por toda parte, o Bispo de Pemba solicitou aos missionários e missionárias que retornem à sede da Diocese. A medida se mostrou providencial, pois alguns lugares de atuação desses missionários sofreram ataques terroristas.

Diante disso, Dom Luiz Fernando finalizou seu depoimento com apelo à oração e à solidariedade: “precisamos, em primeiro lugar de orações, mas também da solidariedade daqueles que puderem nos ajudar, pois com 250 mil desabrigados não há comida que chegue”. Ele agradeceu as (Arqui)Dioceses do Regional Sul 1 pelas manifestações fraternas em meio aos tristes acontecimentos em Cabo Delgado.

A solidariedade e comunhão com a Diocese de Pemba

O presidente do Regional Sul 1 da CNBB, Dom Pedro Luiz Stringhini, em carta enviada no dia 15 de abril deste ano, manifestou preocupação com a situação dos últimos meses em Cabo Delgado, e expressou solidariedade e comunhão com a Diocese de Pemba: “Dom Luiz Fernando e demais irmãos, estejam certos da nossa profunda solidariedade e comunhão com a Diocese de Pemba e seu sofrido povo. Continuamos acreditando que a esperança não decepciona. Contem com nossa oração e nossa afeição”, disse Dom Pedro.

Missionário relata drama vivido na aldeia em Nangade

O Regional também recebeu o relato de um dos missionários que atua no Projeto Missionário Regional Sul 1- Pemba, o Frei Boaventura dos Pobres de Jesus Cristo, PJC, do Instituto Fraternidade dos Pobres de Jesus “O Caminho”.

Ele e os membros de sua comunidade tiveram que deixar a aldeia na qual trabalhavam. E fala sobre a realidade vivida por aquele povo. “Já é do conhecimento do Regional que nossa missão em Nangade acontece em meio a um ambiente de riscos e muitos desafios por se localizar em uma zona dos ataques armados e uma realidade de abandono e pobreza”.

Frei Boaventura e membros da Fraternidade O Caminho

E na sequência diz: “O medo e a instabilidade nossa e do povo é constante e pelos últimos tempos de forma mais acentuada, pois centenas de pessoas no território de nossa paróquia e outras missões vê diariamente famílias e famílias se deslocando de um lugar para o outro a procura de um pouco de paz, e, em muitos casos, as famílias acabam divididas e perdidas no mato a procura de lugares seguros. Tudo isso gera imensos desafios que partem o coração de um missionário em ver o povo sem casa, sem comida, e à noite ter que buscar refúgio nas matas ou ficar sem saber para onde ir com o pouco que sobrou de seus pertences”.

O missionário ainda explicou que este momento coincide com o declarado estado de emergência do país que já dura dois meses e a prevenção do coronavírus (COVID-19). A somatória desses acontecimentos gera perplexidade quanto ao futuro: “Tendo acompanhado tal situação os ataques e as condições hoje de toda a região Norte têm sido de muito abandono e sofrimento ao nosso povo e por consequência chega até a nós missionários, pois não sabemos como no futuro as coisas vão ficar e conscientes de que isso nem tão cedo vai ter uma resposta de estabilidade.”

Em contexto de violência, desagregação social e crise sanitária, a Diocese de Pemba testemunha a fé, permanecendo unida ao seu povo, cuidando de suas necessidades mais imediatas e mantendo viva a esperança.

(Com informações do Regional Sul 1 da CNBB)

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