‘Jesus quis ir até o fundo do poço da experiência humana da dor, do sofrimento, para resgatar nossa dignidade’

Na tarde de hoje, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a ação litúrgica da Sexta-feira da Paixão na Catedral da Sé

Cardeal Scherer durante a ação litúrgica da Sexta-feira da Paixão do Senhor na cripta da Catedral da Sé (fotos: Luciney Martins/ O SÃO PAULO)

O relógio apontava às 15h. Em silêncio, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, e os Padres Luiz Eduardo Baronto e José Ferreira Filho aproximam-se do altar da cripta da Catedral da Sé, desnudado, e prostram-se em atitude silenciosa de oração.

Nesta mesma hora, este rito se repetiu em outras igrejas da Arquidiocese, marcando o início da ação litúrgica da Sexta-feira da Paixão do Senhor. Assim como em 2020, sem a participação presencial dos fiéis nos templos, em razão das medidas preventivas contra o coronavírus. De suas casas, porém, todos puderam acompanhar este momento – transmitido pelas mídias sociais da Arquidiocese e pela rádio 9 de Julho – e reconhecer o grande sacrifício que Cristo fez por toda a humanidade.

 “Ó Deus, pela Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, destruístes a morte que o primeiro pecado transmitiu a todos. Concedei que nos tornemos semelhantes ao vosso Filho e, assim como trouxemos, pela natureza, a imagem do homem terreno, possamos trazer, pela graça, a imagem do homem novo”. Com esta  oração, o silêncio foi rompido e passou-se à liturgia da Palavra, em que o Evangelho, segundo São João (Jo 18, 1-19,42), relata em detalhes a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Mais que a busca da justiça humana, o anúncio da Salvação

Dom Odilo, na homilia, disse que embora neste ano, mais uma vez, não tenha sido possível que os fiéis estivessem juntos nos templos na Sexta-feira Santa, poderiam naquele momento, de onde estivessem, “se unir à Igreja que celebra, que adora, que suplica. Que unidos na fé, acolhamos mais uma vez o dom e a graça que nos vem por meio da celebração do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus”.

O Arcebispo destacou que os primeiros cristãos que testemunharam as perseguições e injustas condenações que culminaram na morte de Jesus na cruz não se ocuparam em tentar punir os autores de tais atos, pois, prontamente, receberam do Ressuscitado a missão de anunciar o Evangelho e testemunhar a fé.

“A justiça humana não iria resgatar o mal realizado. Os apóstolos perceberam que quem estava sendo condenado à morte, sendo crucificado, era alguém muito especial, e reconheceram isso mediante a Ressurreição: Ele é o filho de Deus”, afirmou o Arcebispo.

O justo aceita carregar a culpa da humanidade

Dom Odilo recordou que Jesus sabia de tudo que iria acontecer e aceitou, conscientemente, o caminho da Paixão.

“Jesus teve medo do sofrimento, porém, para escapar dele teria de renegar tudo o que Ele era, fez e significava para a humanidade. Ele era o sinal da mão estendida, da misericórdia, do perdão, da compaixão pela humanidade, pelos pecadores, também por aqueles que o crucificaram. Jesus quis assumir o cálice amargo do sofrimento injusto que tantos homens e mulheres neste mundo sofrem”, afirmou. “Jesus quis ir até o fundo do poço da experiência humana da dor, do sofrimento, para resgatar a nossa dignidade e estender a mão também a todos aqueles que fazem os outros sofrerem, para lhes oferecer a compreensão de que este não é o caminho”, complementou.

O Arcebispo disse, ainda, que Cristo, o servo justo, carregou em seus ombros a culpa de toda a humanidade. “Ele espiou sobre a cruz os nossos pecados e desta forma nos tornou justos”, de modo que agora cabe aos homens e mulheres também perdoar os pecados, ser misericordiosos, a exemplo do Salvador.

‘Senhor, perdoa-me’

Dom Odilo recordou, ainda, que o drama da Paixão de Jesus apresenta tanto o mistério da maldade humana, que não tem limites, quanto o mistério da misericórdia de Deus, que é ainda maior aquele. “Nós todos somos convidados a olhar para a cruz de Cristo e pedir: ‘Senhor, perdoa também a mim. Foi por mim que morrestes na cruz. Eu pecador, coloco-me diante de ti e digo, Senhor, perdoa-me, tenha misericórdia de mim, concede-me a possibilidade de vida nova, de mudar de vida, de me converter’”, disse.

“Lembremos sempre de Jesus na cruz e Nele vejamos o sentido para as nossas dores e com Ele, se nos arrependermos dos nossos pecados, poderemos ter misericórdia e perdão e receber vida nova de Jesus ressuscitado”, complementou.

Oração universal

Após a homilia, a ação litúrgica teve sequência com a oração universal pela Santa Igreja, pelo Papa, por todas as ordens e categorias de fiéis, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus (aos quais o Senhor Deus falou em primeiro lugar), pelos que não creem no Cristo (a fim de que possam ingressar no caminho da salvação), pelos que não creem em Deus (para que possam chegar ao Deus verdadeiro), pelos poderes públicos e por todos os que sofrem provações.

Neste ano, diante da pandemia de COVID-19, também se rezou para que Deus Pai “volte seu olhar misericordioso a todos os agentes de saúde, que heroicamente tem trabalhado em prol do bem comum, aos que estão hospitalizados, esperando alcançar a cura, aos familiares que sofrem com a perda de seus entes queridos, e a todos aqueles que foram acometidos por este mal, e partindo para a eternidade, na esperança de alcançar a graça da ressurreição”, pedindo-se, também, para que ”tenhamos coragem para enfrentar este momento de sofrimento e finalmente encontremos alívio na vossa misericórdia”.

Adoração da Santa Cruz

Na sequência, houve a adoração da Santa Cruz. Após ser desnudada pelo Arcebispo, a cruz com o Cristo crucificado foi colocada sob o altar e todos que estavam na cripta ajoelharam-se para adorá-la.

Em razão da atual pandemia, o tradicional beijo na cruz foi, excepcionalmente, suprimido do rito da ação litúrgica.

Posteriormente, estendeu-se sob o altar a toalha e o corporal, rezou-se a oração do Pai Nosso teve sequência o rito da comunhão.

Oferecer as dores a Maria e um pedido de solidariedade

Antes de conceder a bênção conclusiva da ação litúrgica, o Arcebispo fez menção aos doentes e a todos que sofrem, e convidou-lhes a oferecer a Deus seus sofrimentos, dores e angústias: “Coloquem a sua vida nas mãos de Deus, com Jesus na cruz”.

Também rezou pelos profissionais de Saúde e demais pessoas que se dedicam aos doentes, e pediu aos que já tiveram parentes e amigos falecidos nesta pandemia, que se lembrem de Nossa Senhora das Dores, que acompanhou a morte de Jesus e o recebeu morto em seus braços após a crucifixão.

Por fim, fez um amplo chamado à solidariedade, para que as pessoas façam doações de alimentos não perecíveis em paróquias e obras sociais, os quais serão destinados aos mais pobres, afetados financeiramente pela atual pandemia: “Colabore para matar a fome de Jesus que hoje passa fome”.

Vigília Pascal

No sábado, 3, às 18h, o Arcebispo presidirá a Vigília Pascal na Catedral da Sé, sem a participação presencial dos fiéis, mais com transmissão pelas mídias sociais da Arquidiocese de São Paulo e pela rádio 9 de Julho.

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Eustáquio Martelo
Eustáquio Martelo
2 anos atrás

Que palavras lindas
Não vingança
Sim, anunciar e trabalhar imediatamente.
Dividir a graça. Abrir as portas. Partilhar.
Que testemunho bonito de amor dão os cristãos.

Depois de dois mil anos sente o coração quente e amor por um mestre, um amigo.

É como se o conhecesse
Então apresenta este Jesus Cristo
Que ama
Que partilha
Que está vivo
Que não é egoísta. Não segrega. Não condena. Não humilha.

Que vive dentro dos corações e distribui sabedoria pelo Espírito Santo.