Migrantes e refugiados fazem a diferença por meio da solidariedade durante a pandemia

Neste sábado, 20, comemora-se o Dia Mundial do Refugiado, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2001, para chamar a atenção do mundo para a realidade das milhões de pessoas que, por diversas razões, são forçadas a deixar suas casar e países.

Para celebrar a data, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP), por meio do Centro de Referência para Refugiados, projeto desenvolvido em convênio com o Alto Comissariado das Nações Unidas Para Refugiados (ACNUR), realizou na sexta-feira, 19, uma videoconferência transmitida pelas redes sociais com o tema “Solidariedade em tempos de pandemia”.

Mediada pelo diretor da Caritas Arquidiocesana, Padre Marcelo Maróstica Quadro, o encontro virtual contou com a participação com a participação de migrantes, refugiados e pessoas que realizam ações de solidariedade para com os refugiados.

CADA UM É IMPORTANTE

“Os três convidados de nossa live são pessoas que, com suas ações, fazem a diferença, pois aquilo que realizam repercute no coletivo”, destacou o diretor da CASP, fazendo referência ao tema do Dia Mundial dos Refugiados deste ano – “Todos podem fazer a diferença, cada ação é importante”.

Padre Marcelo recordou que, de acordo com  ACNUR, essa data é importante “para homenagear a coragem, a resiliência e a força de tantos homens, mulheres e crianças que foram forçados a deixar sua casa, sua terra e sua família por causa de guerras, conflitos armados e perseguições”.

Para o sacerdote, essa é também é uma ocasião “de sensibilização e conscientização da realidade vivida por milhões de pessoas no mundo inteiro”.

DESLOCAMENTO CRIATIVO

Umas das participantes da conversa foi a brasileira Maria Nilda Santos, jornalista que atua como gestora de projetos socioculturais e estratégias do desenvolvimento institucional, que idealizou o projeto Deslocamento Criativo, iniciativa de impacto social que visa identificar a contribuir para a sustentabilidade de refugiados e migrantes que atuam ou queiram atuar na área da economia criativa.

Ela explicou que esse projeto facilita a inserção do migrante e do refugiado na inserção ao mercado de trabalho, inclusive nas suas áreas de formação profissional. “A pessoa que chega a outro país demora a aprender a língua, tem dificuldades para regularizar a situação. Isso leva pelo menos dois anos e ela precisa se manter nesse período”, destacou Maria Nilda, explicando que atividades como artesanato, produção de alimentos e atividades culturais como dança ou música, são possíveis de ser realizadas para gerar a própria renda sem maiores dificuldades.

CONTRIBUIÇÃO CULTURAL

“Essa é também uma forma de mostrar para a sociedade que essas pessoas não são um ‘peso’. Muito pelo contrario. Elas contribuem para a economia local, trazem um rejuvenescimento cultural e muitas coisas positivas das quais podemos aprender”, acrescentou a jornalista.

A inciativa coordenada por Maria Nilda auxilia os migrantes e refugiados a compreenderem o funcionamento do mercado local, como se apresentar nos eventos e como podem aprimorar a qualidade seus produtos.

Outro aspecto do Deslocamento Criativo é ajudar as pessoas a desenvolverem atividades econômicas relacionas a áreas das quais elas já têm familiaridade para que não percas suas referência culturais, pois, como observou a jornalista, “essas pessoas já perdem tanta coisa com o deslocamento forçado”.

Diante da paralização das atividades econômicas, sobretudo do mercado informal, devido à pandemia. Maria Nilda também organizou a confecção de máscaras de proteção que também são doadas pela Caritas.  

REINVENTAR-SE

Uma das participantes desse projeto de economia criativa é Renée Ross-Londja, da Guiana Inglesa, Administradora em seu país de origem, no Brasil, tornou-se uma artesã, produz bonecas africanas, ministra oficinas entre outras atividades, dentre as quais a confecção de máscara.

Renée chegou ao Brasil em 2010. Ela veio para se casar com seu então namorado, refugiado da República do Congo, que, por não ter sido aceito na Guiana Inglesa, fixou-se no Brasil.

O primeiro destino da administradora no Brasil foi Manaus (AM), onde viveu por cinco anos e onde aprendeu o ofício de artesã. Ela contou que, nessa época, ainda não falava português. “Hoje, quando olho para trás, percebo que consegui isso graças à fé e muita determinação. A palavra “desistir” não existe para mim”, afirmou Renée, reconhecendo a ajuda que recebeu de muitas pessoas para se reinventar.

Ao chegar a São Paulo, em 2015, conheceu Maria Nilda e o Deslocamento Criativo, que a ajudou a ter uma fonte de renda na cidade. Sua maior paixão é confeccionar bonecas negras e, por meio delas, diminuir os preconceitos existentes em relação à beleza da mulher negra e ajudar as crianças afrodescendentes a valorizar sua autoestima, além de dar destaque para a cultura negra.

Renée relatou que a pandemia a deixou desesperada, pois não conseguia mais vender suas bonecas. Então, a confecção de máscaras foi uma grande ajuda.

DONS A SERVIÇO

O terceiro convidado foi o produtor, gráfico, musical audiovisual com experiência em marketing digital Jose Rodriguez. Venezuelano, ele está no Brasil há pouco mais de um ano. Atualmente trabalha em um restaurante e, nesse tempo de pandemia, desenvolveu uma série de vídeos informativos para auxiliar migrantes a acessarem o auxílio emergencial do governo federal. 

Jose migrou para o Brasil em busca de uma vida melhor, diante da crise sociopolítica e humanitária vivida em seu país natal. Em São Paulo, trabalhou em restaurantes e no mercado informal.

Ele contou que, certa vez, logo depois que começou a pandemia, ele passou em frente a uma agência da Caixa Econômica Federal e viu uma enorme fila de pessoas que tentavam sacar o auxílio emergencial. “Isso me incomodou muito, pois, eu me lembrei da situação do meu país, em que, para comprar comida, pagar contas, sacar dinheiro, as pessoas têm de enfrentar enormes filas de até 12 ou 24 horas”.

Então, Jose acessou o aplicativo disponibilizado pelo governo para solicitar o auxílio emergencial e começou a estudar seu funcionamento, assim como todos os trâmites relacionados a essa ajuda financeira. A partir disso, produziu vídeos explicando passo a passo dos procedimentos.

RETORNO

Não apenas os migrantes e refugiados como também brasileiros conseguiram sacar seu auxílio emergencial graças aos “tutoriais” de Jose, que também criou um grupo no whatasapp para tirar dúvidas das pessoas.  “Eu apenas utilizei meu conhecimento para ajudar as pessoas… Fiquei muito feliz por isso”, afirmou.

Esse trabalho solidário também deu visibilidade para a qualificação profissional do venezuelano que, depois da iniciativa, recebeu solicitações de seus trabalhos na área de marketing digital, sobretudo nesse período de pandemia.

PROTAGONISTAS

“Todos vocês, como muitos outros, estão fazendo a diferença”, enfatizou Padre Marcelo, ao comentar a partilha de experiência do encontro. Ele ressaltou, ainda, que esses exemplos mostram como os migrantes e refugiados podem assumir um papel de protagonistas ao tomarem iniciativas e partilharem seus conhecimentos para a ajuda de todos.

“Nós aprendemos que nessa grande casa comum, que é mundo, somos todos irmãos e irmãs, cada um é importante”, reforçando que tais iniciativas criam pontes entre as pessoas.

RELATÓRIO GLOBAL

O diretor da CASP também ressaltou que na última quinta-feira, 18, o ACNUR publicou o relatório “Tendência Globais”, sobre deslocamento forçado no mundo em 2019. O levantamento revela que 79,5 milhões de pessoas estavam deslocadas até o final de 2019 por guerras, conflitos e perseguições, considerado um número sem precedentes, jamais verificado pelo ACNUR.

“Essa realidade não pode ser esquecida”, enfatizou Padre Marcelo, recordando as as palavras do Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, dada instituída pela Igreja Católica e comemorada em 20 de setembro:  “A pandemia não pode esconder de nós realidades e situações humanitárias que gritam, que clamam pela vida”. 

CAMPANHA

Nesse período de pandemia, a Caritas Arquidiocesana continua seu trabalho de atendimento por meios dos seus diversos projetos.

Para isso, a entidade realiza uma campanha por meio de uma plataforma digital de arrecadação financeira para a distribuição de cestas básicas, leite, fraldas e kits de higiene para 115 famílias refugiadas do Centro de Referência para Refugiados por 1 mês.

Até o momento, foram arrecadados 51% da meta da campanha, que é de R$ 20.430,00.

As informações da campanha estão disponíveis neste link.

ASSISTA À ÍNTEGRA DA VIDEOCONFERÊNCIA:

https://www.facebook.com/caritassp/videos/342538220093301/
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários