Aos poucos, os católicos retornam às celebrações presenciais das missas, seguindo uma série de cuidados e recomendações sanitárias, com o objetivo de evitar que a participação nos santos mistérios seja ocasião de risco para a disseminação do novo coronavírus.
Além da organização e do empenho das paróquias, é preciso que cada pessoa assuma o seu compromisso de segui-los e respeitá-los. Em maio, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou uma série de orientações litúrgicas e pastorais, que estão sendo usadas como referência pelas dioceses.
Padre Tiago Gurgel, Capelão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que, antes de ser ordenado sacerdote, exerceu e lecionou Medicina, enfatizou ao O SÃO PAULO que todos precisam se conscientizar de que esses cuidados preventivos são necessários, uma vez que a pandemia não acabou e ainda não há uma vacina.
LEIA TAMBÉM: Arquidiocese de São Paulo anuncia retomada gradual das atividades administrativas e pastorais |
HIGIENE DAS MÃOS
Esse é um cuidado essencial no combate ao novo coronavírus. Ao tocar em uma superfície contaminada, além do risco de contaminar a si mesmo, há a possibilidade de transmitir o vírus a outras pessoas. Por isso, é importante que, ao entrar na igreja, a pessoa higienize as mãos, mesmo que já as tenha lavado antes de sair de casa. De igual modo, deve-se evitar tocar o rosto, sobretudo as áreas próximas da boca, nariz e olhos. Essa higienização deve ser repetida cada vez que se toca em alguma superfície ou objeto e, especialmente, antes da comunhão.
DISTANCIAMENTO
Assim como em outros locais públicos, o distanciamento entre as pessoas deve ser seguido nas igrejas, havendo uma distância de, no mínimo, 1,5 metro umas das outras. Embora a regra de distanciamento não se aplique a pessoas da mesma família, Padre Tiago destacou que é preciso que o distanciamento em relação a outra pessoa que ocupar o banco seja mantido. Por isso, se houver mais de duas pessoas da mesma família, é melhor que somente essas pessoas ocupem esse banco.
No presbitério, espaço da igreja onde ficam o celebrante, os ministros e coroinhas, o distanciamento deve ser respeitado, permanecendo no local somente o número necessário de pessoas. Também deve ser evitada a procissão de entrada pelo corredor da igreja. “Quanto menor for a proximidade física entre as pessoas é melhor”, reforçou o Sacerdote.
MÁSCARA
Assim como a higiene das mãos, a máscara tem o objetivo de proteger a própria pessoa e as outras, uma vez que impede a propagação das gotículas que saem da boca (cujo nome é perdigoto) e do nariz, que, eventualmente, podem conter o coronavírus em pessoas infectadas, mas assintomáticas.
Na missa, os fiéis devem retirar a máscara somente no momento da comunhão e com o máximo de cuidado. “Muitos profissionais da saúde que trabalham em áreas de pacientes com COVID-19 se contaminaram no momento de retirar o artefato de proteção, pois não o fizeram adequadamente. Por isso, não é pelo simples fato de estar de máscara que se está protegido”, sublinhou.
CUIDADO E PACIÊNCIA
Em algumas igrejas, sacerdote e demais ministros estão levando a comunhão até os fiéis que permanecem em seus lugares. Em outros casos, a procissão para a comunhão acontece de forma cuidadosa e seguindo o distanciamento.
O Capelão enfatizou que, neste momento, é preciso muito cuidado e paciência, pois se o fiel tocar na parte externa da máscara correrá o risco de tocar na Eucaristia com as mãos contaminadas. “O ideal é que a pessoa higienizasse as mãos antes de retirar a máscara e, novamente, para comungar e, depois, uma terceira vez, após colocar novamente a máscara”, recomendou.
Contudo, o Padre compreende a complexidade dessas medidas. Por isso, ele enfatizou a observância do máximo de cuidado ao retirar a máscara, sempre a tocando nas alças e nunca na parte externa do tecido. Outra recomendação é que se use máscaras de fácil colocação, de preferência, com alças que se apoiem nas orelhas, evitando as que precisam ser amarradas.
MINISTROS E OBJETOS
Os ministros, coroinhas, leitores, músicos e eventuais concelebrantes devem estar sempre usando máscara. “O presidente da celebração pode ficar sem máscara, desde que haja certa distância em relação aos concelebrantes e ministros. Ele deve, no entanto, usar a máscara para dar a comunhão, observando o cuidado de higienizar as mãos antes de colocar a máscara e, depois, para que não corra o risco de tocar na Eucaristia com a mão contaminada”, explicou o Capelão.
Quanto aos objetos litúrgicos e materiais usados na celebração, Padre Tiago enfatizou que estes devem ser tocados pelo menor número possível de pessoas. “O ideal é que o próprio celebrante prepare o altar e somente ele toque as alfaias e objetos litúrgicos durante a celebração e, se possível, que os guarde ao término da missa após serem devidamente higienizados”, aconselhou.
Padre Tiago reforçou a recomendação da CNBB para que o cálice e demais recipientes estejam sempre cobertos sobre o altar, uma vez que o celebrante irá falar sem máscara próximo a eles.
Quanto à higienização dos bancos e do chão do templo, deve ser sempre feita após as missas. “Podem ser utilizados água sanitária, álcool 70% ou outras soluções desinfetantes. Claro que, dependendo do tipo de piso da igreja, é preciso verificar o produto mais adequado. O importante é mantê-la sempre limpa”, reforçou o Padre.
O ESSENCIAL DO RITO
Padre Helmo Cesar Faccioli, Coordenador da Comissão Arquidiocesana de Liturgia, enfatizou que será preciso se acostumar com esta nova realidade enquanto a pandemia não for controlada. Ele ressaltou, porém, que o seguimento desses protocolos não altera os aspectos essenciais da liturgia dos sacramentos, tampouco representa um desrespeito aos mistérios sagrados. “Externamente, existem situações que extrapolam aquilo que é a prescrição do rito, mas não ferem o rito.
Por exemplo, o fato de o ministro estar de máscara não significa desrespeito ao Senhor, pelo contrário, é um grande respeito ao corpo de Cristo, que será entregue ao fiel. A pessoa que, por sua vez, recebe Jesus eucarístico, tendo antes higienizado as mãos com álcool, também não diminui nem fere a presença do Senhor nas espécies eucarísticas”, explicou o Coordenador.
“A fé deve nos despertar para o bom senso e o equilíbrio. Não devemos dar mau exemplo como cristãos, pois corremos o risco de prejudicar o próximo, a quem devemos amar e cuidar, como a nós mesmos”, acrescentou Padre Helmo, enfatizando que o cumprimento dos protocolos também representa um gesto de comunhão e um exercício da prática das virtudes, especialmente da paciência e da prudência.