Santa Teresa, Mestra da Oração e Doutora da Igreja

Memória litúrgica da Santa é festejada nesta quinta-feira, 15 de outubro

Reprodução da internet

São Paulo VI, por meio da carta apostólica Multiformis Sapientia Dei, em 27 de setembro de 1970, proclamou Santa Teresa d’Ávila Doutora da Igreja, a primeira mulher a receber esse título. 

Com esse anúncio, os ensinamentos e a doutrina de Santa Teresa foram reconhecidos como guia seguro para a Igreja universal, principalmente no que se refere à vida de oração, matéria sobre a qual ela mais tratou em suas obras e razão pela qual recebeu o título de Mestra da Oração.

O intuito do Papa de tornar a santa Doutora da Igreja foi induzir “veementemente os homens de nosso tempo a cultivar, principalmente, tudo aquilo que conduz a promover a piedade da alma em direção à contemplação e à realização das coisas celestiais”.

A doutrina de Santa Teresa, expressa principalmente nas obras “Livro da Vida”, “Caminho de Perfeição” e “Castelo Interior”, surgiu de sua profunda intimidade com Deus na oração, de uma vida cheia de virtudes e pela nitidez de sua inteligência.

A vida de Santa Teresa

Teresa nasceu em 28 de março de 1515, em Ávila. Desde criança, sentia o chamado para uma vida contemplativa, quando brincava de se recolher no jardim da casa e tentava imitar o que lia da vida dos mártires. Aos 20 anos, ingressou num convento carmelita feminino. Entretanto, apesar de ter ingressado na ordem com desejo de crescer na virtude, aos poucos sentia abrandar seu fervor inicial.

Devido a uma experiência mística que teve ao contemplar um crucifixo e com a ajuda de São Pedro de Alcântara, São Francisco de Borja, São João de Ávila e São Luís Beltran, Teresa pôde sair de seu estado de desânimo espiritual para tomar passos largos em direção à santidade. Foi, então, que se sentiu chamada a fundar um convento carmelita que vivesse sob uma regra mais rígida do que aquela observada nos conventos carmelitas da época.

Aos 47 anos, com a aprovação da Sé Apostólica, conseguiu realizar o seu intento, apesar das grandes dificuldades que se lhe interpuseram. Esse foi o primeiro mosteiro reformado fundado por Santa Teresa, em Ávila. Construiu, no total, 16 mosteiros reformados femininos, e 14 masculinos, estes últimos com a ajuda de São João da Cruz.

Santa Teresa era conhecida por sua vivacidade, alegria e força de vontade. Um homem que a conheceu pessoalmente assim a descreveu: “Santa Teresa era supreendentemente feminina, sensível e impressionável, e, ao mesmo tempo, varonil, valente, decidida e enormemente dinâmica. Tomava as coisas sérias muito a sério e se ria gostosamente de todo o resto”.

O último convento fundado pessoalmente por Santa Teresa foi o de Burgos, em 1582, quando tinha 67 anos. Em 4 de outubro daquele ano, morreu santamente entre as lágrimas das monjas que a tinham como mãe. Santa Teresa foi beatificada em 1614 e canonizada em 1622, na mesma cerimônia em que foram canonizados Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, São Felipe Néri e Santo Isidoro Lavrador.

A Doutora

A Mestra da Oração foi a que melhor descreveu os graus, os métodos e o fim da vida espiritual. Para ela, a oração é o caminho mais rápido e seguro para se alcançar a união com Deus. Uma alma sem oração, segundo Santa Teresa, “é desventurada e corre grande perigos”.

A vida de oração é uma vida de amor, pois é a intimidade que uma verdadeira amizade entre Deus e os cristãos exige. Santa Teresa adquiriu uma consciência profunda de que Deus habitava em sua alma e que a convidava constantemente para ter uma relação verdadeira de caridade.

Essa constante vida de oração a que Santa Teresa se refere não aliena o homem, segundo São Paulo VI em sua carta apostólica, “dos problemas que se referem a Deus e à Igreja”. Ao contrário, a oração “força-o a unir-se à Igreja com maior consórcio e ardor”.

Os livros de Santa Teresa possuem um caráter prático, que tem como base a sua vida e o seu papel de dirigir muitas almas. Assim, lendo-os, podemos conhecer em que estado está nossa alma e que passos concretos podemos tomar para superar as dificuldades que nos impedem de crescer no amor a Deus.

Santa Teresa criou a famosa imagem do “castelo interior” para representar a alma, imagem que explicita a natureza da vida espiritual como uma interiorização do homem até se unir a Deus, que reside no centro do castelo. Este castelo possui sete moradas, e Deus reside na sétima, a mais escondida e que está no centro da alma. Na primeira morada, estão as pessoas em estado de graça, mas que carregam consigo ainda muitos defeitos e podem, a qualquer momento, sair do castelo interior cometendo um pecado mortal. À medida que vai progredindo nas moradas, a alma abandona defeitos e encontra novos desafios e dificuldades. Entretanto, Deus, do centro do castelo, dá a graça necessária para se adentrar sempre mais nas moradas seguintes.

Santa Teresa também é conhecida por sua descrição dos diversos modos e graus de oração, que é a base da espiritualidade de muitos santos e congregações religiosas. Conceitos ainda recorrentes na espiritualidade atual, como oração vocal, mental, meditação, recolhimento e tantos outros foram expressos com mestria por ela.

“Os escritos de Teresa são, pois, uma fonte fecunda de múltiplas experiências, de testemunho, de penetração espiritual”, afirmou São Paulo VI. No 50º aniversário da proclamação de Santa Teresa como Doutora da Igreja, retomá-los pode fortalecer e guiar a nossa relação com Deus.

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