Sínodo ajuda a identificar oportunidades para a ação missionária na Arquidiocese

O terceiro e último dia do Simpósio Missionário realizado pelo Seminário Arquidiocesano Imaculada Conceição, contou com a participação do Padre José Arnaldo Juliano, teólogo e perito do sínodo arquidiocesano de São Paulo.

O Sacerdote abordou a preocupação missionária na Igreja em São Paulo que está em caminho sinodal. Para isso, o perito destacou os dados do levantamento da realidade religiosa e pastoral da Arquidiocese, realizado por meio de uma pesquisa em campo em 2018.

Na ocasião, foram entrevistadas mais de 20 mil pessoas, dessas, quase 15 mil de declararam católicas.

Dos não católicos, 55,73% revelaram que foram católicos no passado, sendo que 38% desses disseram que deixaram a Igreja porque foram bem acolhidos em outra religião, 30,78% não estavam satisfeitos na Igreja Católica, 30,04% discordavam dos seus ensinamentos e 26,10% achavam a pregação da outra religião melhor.

“Aqui está a abertura de oportunidade para que estruturemos nossa vida missionária”, afirmou o Padre José Arnaldo.

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CATÓLICOS

Dos 14.709 entrevistados que se declararam católicos, 18% já pensaram alguma vez em abandonar a Igreja. Quando perguntados por quais motivos pensaram em abandonar a fé católica, 41,64% responderam que não aceitam algumas doutrinas da Igreja e 30,97% disse ter dúvidas de fé.

Nesse sentido, o perito também enfatizou que esses índices evidenciam a necessidade missionária, sobretudo, em relação aos católicos que estão afastados da vida eclesial. “O que fazer para fortalecer a fé dos nossos católicos? A formação da comunidade é substancial para que dê consciência à fé católica de nossas comunidades”, destacou.

Por outro, lado, os pesquisadores também indagaram dos entrevistados por quais motivos continuam firmes na Igreja Católica. A maioria (67,85%) respondeu porque nasceu e cresceu na Igreja Católica. “No entanto, qual é a consciência que essas pessoas tem da fé católica?”, observou o teólogo.

Metade dos entrevistados afirmou que permanece na Igreja porque ela oferece a fé verdadeira e segura. Já 42,85% apontou como causa os valores que a Igreja defende e ensina, enquanto 37% destacaram a Eucaristia e a Confissão como motivos que as mantém na Igreja.

“Se nos determos nesta questão, temos uma grande oportunidade para dar o primeiro passo para uma missão contundente, evangelizadora a partir das nossas comunidades em toda a nossa Arquidiocese”, comentou Padre José Arnaldo.

PARTICIPAÇÃO

O perito também destacou que pouco mais da metade dos católicos entrevistados se consideram bons católicos. No entanto, quando é perguntado se a pessoa participa de algum movimento ou associação católica, 64,66% responderam que não, enquanto 19,17% participam e 16,17% não participam, mas gostariam de participar. “O que os impede de participar? Aí está uma dica para o caminho da nossa missão”, frisou o Padre.

Sobre a relação dos católicos com as paróquias, quase 20% dos entrevistados responderam que não sabem o nome da paróquia de sua residência e 12% não a consideram importante para o bairro. O Padre José Arnaldo afirmou que esse número não pode ser desconsiderado, pois se tratam de pessoas que se declararam católicas.  “É na comunidade paroquial que acontece a vida concreta da Igreja”, reforçou.

Quando os católicos são convidados a indicar, em ordem de importância, os motivos pelos quais uma paróquia é importante para o bairro, 81,34% responderam que é pelas missas e celebrações. “Dom Odilo sempre enfatiza que é importante dar valor para as celebrações, para a Eucaristia nas comunidade. Está aí a resposta”, afirmou o teólogo.

Também é significativo o número de pessoas que consideram a importância da paróquia pelo atendimento aos pobres e doentes, 61,31%. Em terceiro lugar (52,24%) destacaram a paróquia como lugar de agregação do povo e de vida comunitária, seguida da homilia do padre (36,59%).

MISSA

Outro dado que chama a atenção sobre a frequência que os católicos vão à missa, 41,79% vão aos domingos, 13,97% disseram ir uma vez por mês, 13,50%, quase nunca e 4,96% não vão à missa. 

“Esses números parecem ser pequenos, mas são expressivos. A missa dominical é a expressão maior da pertença que o católico tem à Igreja. Precisamos refletir e pensar no que fazer”, comentou o Padre, ressaltando que não há como cobrar dos católicos grandes compromissos que não lhes for dada a consciência eclesial necessária.

Os pesquisadores também pediram para que os católicos indicassem, em ordem de importância, três qualidades de uma homilia. 83,12% consideram importante a homilia que explique a Palavra de Deus, 62,15%, que mostre como deve ser vivida a fé e 54,88 % consideram uma qualidade quando o sacerdote fala com clareza.

SACRAMENTOS

A pesquisa também destacou a relação dos católicos com os sacramentos da iniciação cristã, mostrando, por exemplo, que 89,25% fizeram a primeira comunhão. Só que dos 10,75% que não receberam esse sacramento, apenas 43,77% disseram que não gostariam de recebê-lo, enquanto o restante, 56,23% não gostariam.

Quanto à Confirmação (Crisma), 74,99% receberam e, dos 25,01%, 53,81% não têm interesse em serem crismados.

Em relação aos demais sacramentos, 79,06% dos católicos entrevistados disseram acreditar no perdão dos pecados por meio da Confissão, o que significa que 20,94% não acreditam. O levantamento também mostrou que 32,04% se confessa ao menos uma vez por ano e 27,02% nunca se confessam. Padre José Arnaldo salientou que esses dados indicam a necessidade missionária da Igreja.

EVANGELIZAÇÃO

Essas oportunidades missionárias são confirmadas pelas repostas em relação à participação dos católicos nas iniciativas de evangelização. Os entrevistados participaram de encontros de jovens e de casais (40,83%), novenas de Natal (40,83%), romarias ou peregrinações (38,47%), retiros e dias de formação (33,25%), entre outros.

Quando perguntados se já receberam uma visita missionária de alguém da Igreja Católica em suas casas, 57,43% responderam que não.

DOUTRINA DA FÉ

O levantamento mostrou o que pensam os católicos sobre questões essenciais da doutrina da fé, como por exemplo, quando 10,69% afirmaram ter dúvidas sobre a ressureição de Jesus Cristo e 21,94% não têm certeza na vida eterna.

“Muitos de nós omitimos esse dado da fé aos nossos fiéis, com medo de estarmos falando mais do céu do que da terra, achando que o povo não entende. Aí está a fragilidade da fé”, alertou o Padre José Arnaldo.

NAS PARÓQUIAS

Padre José Arnaldo também destacou os dados do levantamento sobre a vida pastoral das paróquias da Arquidiocese, que mostram, por exemplo uma queda de 21% dos batismos em 10 anos, já os matrimônios caíram 51% nesse mesmo período, o que leva o sínodo a refletir sobre quais os possíveis motivos dessa diminuição e as consequências desse fato.

Enquanto isso, aos dados já apontam um caminho positivo para ação evangelizadora, como o aumento de 57% da catequese de adultos na última década.

ABRIR OS OLHOS

“Para qualquer atitude pastoral e evangelizadora em nossa Arquidiocese, não podemos ignorar esses dados e, a partir dessa pesquisa, podemos começar a estruturar a ação missionária na Igreja em São Paulo. Que Deus nos ajude a abra os nossos olhos para as oportunidades missionárias que temos diante de nós”.

Ao comentar a apresentação do Padre José Arnaldo, o Cardeal Odilo Pedro Scherer ressaltou que esses dados serão aprofundados e trabalhados durante a assembleia arquidiocesana do sínodo, prevista para a acontecer este ano, mas que no momento está suspensa devido à pandemia de COVID-19.

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