Em 12 de agosto, um grupo armado do Estado Islâmico da Província da África Central, braço do Estado Islâmico, tomou controle do porto de Mocímboa da Praia, em Moçambique, e derrotou o exército local. Foi a primeira vez que os terroristas conseguiram conquistar e manter um posto tão estratégico. Esse braço do Estado Islâmico está, desde ao menos 2017, presente na província moçambicana de Cabo Delgado, localizada no Norte do País, na fronteira com a Tanzânia.
No dia seguinte, 13 de agosto, a Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verônica Macamo, disse que o país “enfrenta uma ameaça de terrorismo violento e extremismo que, se não for contido, poderia se difundir” em toda a África meridional.
A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), que engloba 16 países, entre os quais Moçambique, Tanzânia e África do Sul, se reunirá hoje, 17, para discutir a situação crítica em Mocímboa da Praia. Segundo a ministra Verônica, os Estados membros farão a “consulta e coordenação das ações para combater o terrorismo que representa uma grave ameaça para nossa região”.
O porto de Mocímboa da Praia é importante para o desenvolvimento econômico de Moçambique. Aos menos dois grandes projetos de investimento na região dependem do porto para o fornecimento dos materiais necessários. O grupo francês Total está empenhado na construção de duas plantas de extração de gás em uma península a 60 quilômetros de Mocímboa da Praia. Também a empresa americana ExxonMobil conduz outro projeto na região. Juntos, os dois projetos preveem um investimento de cerca de 60 bilhões de dólares.
O Institute for Security Studies (ISS) – em português, Instituto para Estudos de Segurança –, emitiu nota dizendo que a SADC deve “vir urgentemente em ajuda a Moçambique para frear a violenta insurreição” e pedindo “uma ação decisiva que possa ajudar a pôr fim à crise”. Do contrário, a situação poderia alcançar proporções semelhantes às crises de segurança no Sahel, na bacia do Lago Chade e no Chifre da África. A SADC deve ajudar Moçambique a “desenvolver uma estratégia de longo prazo para enfrentar as raízes da violência, inclusas as compensações para o confisco de terrenos para a indústria mineradora, a falta de ocupação, o analfabetismo, o desenvolvimento e a falta de serviços de base”, acrescentou o Instituto.
O exército de Moçambique presente em Cabo Delgado é mal equipado e está lutando para expulsar os terroristas islâmicos com o auxílio de mercenários russos e sul-africanos.
A situação trágica da Província tem sido denunciada pelo Bispo de Pemba, capital de Cabo Delgado, Dom Luiz Fernando Lisboa.
Recentemente, por ocasião do simpósio missionário organizado pela Arquidiocese de São Paulo, Dom Luiz falou aos seminaristas sobre a situação que estão enfrentando. A partir de 2017, segundo ele, fundamentalistas islâmicos começaram a atacar aldeias mais distantes dos grandes centros urbanos, postos policiais e estradas, queimando as casas e decapitando os habitantes. Os ataques aumentaram e passaram a atingir locais mais povoados. A estimativa seria de mais de 1,1 mil mortos e ao menos 200 mil deslocados pelo medo e pela destruição de suas casas.
O resultado é um quadro de calamidade pública, com crianças que vagam pelos bosques após fugirem de suas vilas, piora no combate às epidemias – que, de tempos em tempos, afligem a região – e uma quantidade enorme de pessoas que procuram alimento e moradia. Dom Luiz, durante o Simpósio, explicara que tudo isso mudou drasticamente a realidade pastoral de sua Igreja, que agora luta para dar condições mínimas de vida aos deslocados. “Sem a oração, não vamos para frente, a oração é o combustível da nossa missão”, acrescentara o bispo naquela ocasião.
À Agência Fides, Dom Luiz disse palavras semelhantes, e lançou um apelo “à comunidade internacional de vir em nosso auxílio. As pessoas têm necessidade de solidariedade e, além de ajudar a pôr um fim à crise, devemos nutrir todos esses deslocados. Precisamos de alimentos, remédios, roupas, cobertas, todo o auxílio necessário para ajudar os deslocados”. Segundo o Bispo, a Diocese também deu início a uma campanha por meio da Caritas Pemba para esse fim.
Fonte: Agência Fides