‘O produtor de conteúdo precisa colaborar com o processo de enfrentamento da desinformação, promovendo educação midiática’, ressalta Magali Cunha, jornalista, doutora em Ciência da Comunicação

Vivemos na era da produção desenfreada de conteúdo. Qualquer pessoa com acesso à internet pode ser uma emissora de informação. O que por um lado é bom quando pensamos em troca de experiências e conhecimentos, no entanto, também gera um terreno fértil para a proliferação de desinformação (fake news). Nesse cenário, o papel do agente de comunicação vai além do postar e informar, é preciso que ele seja um guardião da verdade, o que também envolve a checagem correta das informações antes de seu compartilhamento.
“Informação é um direito humano e para quem a produz é muito importante ter essa consciência, considerando o público que está na outra ponta da mídia, levando para essas pessoas informação segura, coerente, bem apurada. O produtor de conteúdo precisa colaborar com o processo de enfrentamento da desinformação”, afirma Magali Cunha, jornalista, doutora em Ciência da Comunicação, editora geral do Coletivo Bereia de informação e checagem de notícias.
DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA IA
Segundo Magali, desde o período da pandemia, houve uma intensificação na produção de conteúdo informativo, mas também de fake news. “Quando se fala no processo de apuração de notícias, não houve grandes mudanças: segue-se a pesquisa, comparação de fontes, busca em sites confiáveis”, destaca.
No entanto, um novo desafio se apresenta a todos os comunicadores: o uso da Inteligência Artificial (IA) para a geração de conteúdo. “A popularização da Inteligência Artificial tem prejudicado bastante a verificação, devido ao processo de sofisticação na elaboração do conteúdo desinformativo.”, avalia.
Magali reforça que a IA pode ser um recurso muito positivo, porém quando usada de forma deliberada para manipular, interferir em processos e captar público pela emoção, ela dificulta a apuração e demanda um esforço redobrado nas técnicas de checagem e combate à desinformação, principalmente no caso de fotos e vídeos.
Recentemente, por exemplo, vídeos com imagens de diferentes bispos brasileiros foram distorcidos, com o uso de IA, para pedir doações em dinheiro supostamente para o tratamento de uma criança. Uma das vítimas desta distorção foi o Cardeal Odilo Pedro Scherer. Prontamente, a Arquidiocese de São Paulo alertou para a fraude e repudiou o mau uso desta tecnologia de comunicação.
Magali Cunha alerta, ainda, que muito conteúdo inverídico vem sendo compartilhado pelo WhatsApp, assim, a checagem do que se recebe é fundamental.
COMPROMISSO PASTORAL COM A VERDADE
“A proliferação de informações enganosas e boatos exige um esforço maior na busca da verdade no combate à desinformação. A ética na comunicação pastoral nos faz refletir sobre o conjunto de princípios morais que orientam e formam os agentes da Pascom”, comenta o Padre Antônio Francisco Ribeiro, Coordenador Arquidiocesano da Pastoral da Comunicação.
“A comunicação católica não se limita à transmissão de informações, mas também à influência que ela exerce sobre os outros. É um compromisso com a verdade”, ressalta o Sacerdote.
Sobre o uso de IA para a produção de conteúdo, Padre Antônio relembra os princípios morais que devem reger o trabalho dos comunicadores, de modo a garantir que o compartilhamento de informações ocorra de maneira honesta, responsável e respeitosa, buscando não causar danos e promovendo o bem comum.
SERÁ QUE É VERDADE?

O trabalho na Pascom não é apenas “informar”, mas formar, cuidando do que é publicado de forma transparente e fiel ao Evangelho. A verdade é o que guia esse trabalho, porque “a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Por isso, antes de apertar o botão “compartilhar”, pense: Isso ajuda ou atrapalha a missão de evangelizar?
Aproxima as pessoas da verdade ou dela as afasta?
Veja algumas dicas para não cair em notícias falsas nem compartilhá-las.
1. Desconfie de manchetes exageradas
Notícias com títulos alarmantes como “URGENTE!!!”, “VOCÊ PRECISA VER ISSO” ou “ISSO A MÍDIA NÃO MOSTRA” quase sempre escondem distorções. Leia a matéria toda e não apenas o título.
2. Pesquise e cheque a fonte da informação antes de compartilhar
De onde veio essa notícia? Foi publicada em um site confiável? Está nos canais oficiais da Igreja, de instituições sérias ou veículos reconhecidos?
3. Use ferramentas de verificação
- Coletivo Bereia;
- Fato ou Fake;
- Agência Lupa;
- Boatos.org.
4. Para assuntos da Igreja, visite os canais oficiais
- Jornal O SÃO PAULO;
- Rádio 9 de julho;
- @arquisp (nas redes sociais);
- Vatican News;
- L’Osservatore Romano;
- Pascom Brasil.
5. Para assuntos da sua Paróquia
Sempre esteja em contato com os coordenadores pastorais, regionais e com o pároco. Eles serão a fonte principal de informação e o agente da Pascom será a ponte que levará essas comunicações para a comunidade.
6. Na dúvida, não compartilhe!
“Se não há dados comprováveis, se não houver fontes confiáveis, não compartilhe”, reforça Magali Cunha.
Por Natália Santos
Jornalista e colaboradora na Pascom da Paróquia Santo Antônio de Lisboa, Decanato São Tiago Zebedeu na Região Santana