
Jornalista e doutor em comunicação e semiótica, com vasta experiência na comunicação eclesial, Marcello Zanluchi foi um dos palestrantes do 6º Congresso de Comunicação, realizado em maio pelo Serviço à Pastoral da Comunicação (Sepac Paulinas), em parceria com a Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo e a Signis Brasil – Associação Católica de Comunicação.
Nesta entrevista ao Caderno Pascom em Ação, Zanluchi recorda a própria trajetória profissional e de fé, discorre sobre a importância da verdade ao se comunicar, fala sobre as missões da Pascom e do que se pode esperar do Papa Leão XIV no campo da Comunicação.
Pascom em Ação: Marcello, fale-nos um pouco sobre você.
Marcello Zanluchi: Eu sou uma pessoa do interior, que cresceu, por influência da minha avó Maria, dentro da vida da Igreja. Desde pequeno, senti um chamado muito forte à realidade eclesial, seja no estudo, seja na prática, sendo coroinha, catequista e ministro extraordinário da Sagrada Comunhão. De Avaré (SP), minha cidade natal, segui para Bauru, também no interior paulista, para cursar Jornalismo. Fiquei por lá, constituí família com minha esposa, Luciana, e minha filha, Maria Cecília. Após me formar em Comunicação, cursei o mestrado na Unesp, analisando a imagem do Papa Bento XVI na imprensa brasileira, no recorte de notícias sobre a pedofilia, e depois o doutorado na PUC-SP com a pesquisa “Papa Francisco: uma encíclica viva de gestos e imagens”. Já atuei em instâncias de comunicação da Santa Sé, como a Rádio Vaticano, o antigo Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais e, mais recentemente, como pesquisador para o Dicastério para a Comunicação. Entre as experiências com o Vaticano estão a atuação como assistente da Sala de Imprensa da Santa Sé para as Viagens Apostólicas do Papa Francisco ao Brasil e Portugal. No meio de tudo isso, está o Marcello que busca corresponder ao chamado batismal pelas vias da santidade desde as pequenas coisas às mais exigentes.
O que significa ser verdadeiro na comunicação interpessoal?
Primeiramente, precisamos entender que a comunicação não é apenas uma habilidade, também é um dom que nos mostra a nossa essência relacional, ou seja, de que fomos criados à imagem de Deus que é Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), em uma eterna comunicação de amor. Dessa forma, quando nos comunicamos com verdade, participamos da própria vida divina. E essa participação deve se estender ao nosso serviço-doação ao próximo. Uma comunicação verdadeira é aquela que é livre de interesses, que é de coração a coração, que se concretiza por uma empatia que será assertiva na construção de uma fraternidade carregada de senso de eterno.
Um dos pontos abordados durante o Congresso foi sobre a Pascom curar as feridas que o mundo nos causa. Poderia nos falar a respeito disso?
Uma das funções da Pascom, fora ser a pastoral que cuida do Povo de Deus pelas vias da comunicação, é curar feridas – a exemplo do Bom Samaritano que o mundo nos causa. Vivemos tempos de muita incerteza, de “guerra em pedaços”, como dizia o Papa Francisco, em que precisamos ser sinal de esperança para todos. Quantas feridas, por exemplo, uma comunicação distorcida, polarizada e fragmentada causa. Recordo-me de muitas famílias que se dissolveram, parentes que não se falam mais, por questões ideológicas compartilhadas em grupos. Nesse sentido, temos que ter uma comunicação que aponta para a esperança de um mundo que, mesmo beirando o caos, deve ser sinal de comunhão. Curar as feridas do mundo pela comunicação significa uma leitura e escuta atenta das palavras do Cristo, o Comunicador por excelência, traduzindo para as pessoas que a construção de um Reino de Paz se faz no hoje.
Quais os principais desafios da comunicação atual?
Penso que os desafios da comunicação estejam centrados no mundo da desinformação e do ruído. A nossa mensagem deverá atuar para capacitar o nosso povo para uma leitura crítica da comunicação, frente às estratégias das fake news e das próprias polarizações. Sobretudo, devemos estar atentos para o combate aos relacionamentos construídos na superficialidade e não na entrega profunda de uma relação verdadeira. Além disso, não podemos perder a nossa característica de promover uma comunicação profética, tantas vezes calada pela cultura do cancelamento, em que muitas vezes eu tenho que agir de maneira cega para não ser excluído de determinados grupos.
O que podemos esperar do Papa Leão XIV no campo da Comunicação?
Podemos esperar que seu pontificado vai falar muito sobre as consequências do uso da Inteligência Artificial, principalmente aquela que vai apenas converter o ser humano em algoritmo. Já percebemos nestes primeiros meses como pontífice que ele vai utilizar a comunicação para construir pontes de esperança, ao mesmo tempo em que se dedicará a uma comunicação do encontro, nos passos do Papa Francisco. Já vemos que o Vaticano vai expressar em suas redes sociais os encontros do Papa com o seu povo, desde o ponto de vista de se comunicar pela mídia primária, que é o corpo. O Papa Leão XIV será um papa conhecido por comunicar com delicadeza, na comunicação interpessoal desinteressada e verdadeira, e que irá refletir muito na perspectiva de um comunicar que desarma, já que será fruto da escuta e do diálogo.
O que significou para você a experiência de partilhar seus conhecimentos com tantos ‘pasconeiros’ no Congresso?
Encontrar os agentes da Pascom da Arquidiocese de São Paulo foi enriquecedor, principalmente por vermos pessoas verdadeiramente interessadas em anunciar a Boa-Nova em uma metrópole como São Paulo, cheia de desafios, de maneira especial, nos vários discursos que encontramos em uma cidade de grande porte. Percebi que são pessoas capazes de fazer uma leitura do tempo sem perder a esperança, levando as Palavras de Jesus em uma mensagem profética e cheia de vida.