Quais os passos para se tornar um comunicador melhor?

Arte de Tatianna Ludus sobre foto do Canvas

Fotografou? Posta logo o convite! Quando a edição fica pronta? Escre­ve qualquer coisa mesmo… Não vai ter transmissão hoje? Ué, não é só gravar um ‘videozinho’ e pronto?

Se você se identificou com essas frases, não precisa de mais dicas para perceber que a comunicação é a sua prática pastoral. Em meio a tantas tarefas de produção e articulação, frequentemente com uma equipe reduzida e prazos curtos, é comum limitar a ação pastoral do comuni­cador aos simples “fazeres”. No en­tanto, a dinâmica operacional não pode dissolver a essência do ser co­municador, que se fundamenta em um ponto indispensável da vivência pastoral: a espiritualidade.

O Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil afirma no parágrafo 332: “A espiritualidade constitui o alicerce de todos os eixos e a vivên­cia constante do seguimento a Jesus Cristo. Sem a espiritualidade, o co­municador esvazia-se, fragiliza-se como sujeito e se torna vulnerável às dificuldades que se apresentam ao longo do caminho”.

Comunicação é relacionamen­to. Não dá para resumir o ato de comunicar a apenas informar e en­treter. Isso envolve a capacidade de unir pessoas e realidades, de trans­formar o pessoal em coletivo, de partilhar e gerar comunhão. E esse relacionamento começa na vivência entre você e Deus, o autor de toda a comunicação.

A BOCA FALA DO QUE ESTÁ CHEIO O CORAÇÃO

A busca de uma espiritualidade bem construída e solidificada não pode ser um idealismo pastoral facil­mente adiado para atender às deman­das mais práticas. É crucial compreen­der que não há como falar DE DEUS sem o exercício cotidiano de falar COM DEUS. Jesus ensina no Evange­lho segundo Mateus: “A boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12,34). Ou seja, se cada comunicador não se empenhar em encher seu coração com experiências que transbordem entusiasmo e deem mais sentido ao serviço, suas produções serão vazias, suas ideias se tornarão imitações des­cabidas e sua equipe se transformará em um grupo desmotivado.

A espiritualidade alimenta o principal motivo de todo serviço a Deus: o discipulado. Ela também garante que o que for produzido não seja meramente o resultado de uma pesquisa ou uma versão superficial de fórmulas que deram certo para outras pessoas, mas, sim, a experiên­cia de alguém que ressoa na vida a Palavra que escutou primeiro. E essa reverberação sempre tem um efeito transformador.

QUANTO MAIS VOCÊ SILENCIA, MAIS VOCÊ OUVE, MELHOR VOCÊ FALA

A espiritualidade do comunica­dor cresce por meio de uma prática simples, que não requer recursos avançados ou equipamentos moder­nos: o silêncio. Em um mundo reple­to de ruídos e distrações, silenciar é um desafio, especialmente porque não se trata de emudecer, mas, sim, de reduzir a frenética frequência com a qual estamos acostumados a viver. Afinal, somente ao silenciar a agitação interior, poderemos ouvir a voz de Deus, que incansavelmente fala de dentro para fora.

Irmã Viviani Moura, religiosa paulina e jornalista, abordou a espi­ritualidade no último encontro “Pas­com em Ação 2023”, que aconteceu na Região Lapa, em outubro. Ela re­forçou para os agentes de comunica­ção que “silêncio e palavra são duas realidades que se conectam, que convergem”, citando também um trecho da mensagem do Papa Ben­to XVI para o 46o Dia Mundial das Comunicações, em 2012: “O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo”.

Esse silêncio nos possibilita ouvir a voz de Deus, que ressoa como uma suave locução em nosso coração, mas que também grita por meio das dores de nossos irmãos. No silêncio, captamos o som vertical do céu, que se inclina à nossa compreensão, e o eco horizontal do irmão, que ressoa ao nosso lado. Pois, escutar as pes­soas com paciência e empatia, ma­nifestando um genuíno desejo de compreendê-las e colaborar com seu encontro com a Verdade, é ouvir a voz de Deus. Somente assim pode­mos aprimorar a capacidade e o con­teúdo para, então, falar.

O VERBO É A LINGUAGEM

Para alcançar essa espiritualida­de, muitas pessoas pensam em práti­cas como a oração do Terço, novenas e outros hábitos devocionais, que, obviamente, são importantes, mas que dificilmente atingirão o resulta­do desejado.

Irmã Helena Corazza, religio­sa paulina, jornalista e doutora em Comunicação, destaca: “A espiritua­lidade não é apenas devoção. É um compromisso com o Verbo que se fez carne, que se fez imagem. É a vi­vência de Cristo Palavra que assume nossa linguagem”.

E como está a sua vivência com Cristo? Que tal um simples exercício? Imagine que você só possa produzir materiais (sejam cards, textos, vídeos, fotos etc.) que reflitam experiências pessoais que teve com Jesus. Quantos caracteres teria seu texto? Quantas imagens teria o seu carrossel? Quan­tos minutos teria seu vídeo?

É inesgotável a inspiração e in­superável a genialidade produtiva daquele que conhecendo a Deus ex­perimenta seu amor, nele é motivado e comunica esse amor.

Mas, afinal, qual os passos para se tornar um “comunicador melhor”, conforme prometido pelo título do texto? A resposta é simples: os pas­sos são aqueles que separam você do sacrário mais próximo, pois apenas se derramando diante de Deus e não só das obras de Deus é que seremos os melhores comunicadores. Essa é a essência de toda espiritualidade.

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