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A Igreja celebra a Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos

Pedro, escolhido por Cristo como fundamento da sua Igreja, dele recebeu as chaves do Reino dos céus (Mt 1 6,1 3- 1 9); pastor do rebanho santo (Jo 21,15-17), confirma na fé os irmãos (Lc 22,32). Ele e seus sucessores são o sinal visível da unidade e da comunhão na fé e na caridade.

Paulo, incorporado ao Colégio Apostólico pelo próprio Cristo no caminho de Damasco (At 9, 1 -16), foi escolhido para anunciar seu Nome aos povos (At 9, 15). É o maior missionário de todos os tempo5, o Apóstolo dos gentios. Com Pedro, fez ressoar a mensagem evangélica no mundo mediterrâneo. Ambos selaram com o martírio em Roma, pelo ano de 67, seu testemunho ao Senhor. A “Depositio martyrum” (354) relata sua solenidade no dia 29 de junho.

Hoje celebramos a solenidade de São Pedro e São Paulo. Na primeira leitura, extraída dos Atos dos Apóstolos, é relatada a experiência de Pedro, que é libertado da prisão por um anjo, a tal ponto que Pedro dirá: “Agora vejo que o Senhor mandou verdadeiramente o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de tudo o que esperava o povo dos judeus”. É uma experiência que deve ser lida e compreendida à luz do que a própria Comunidade faz por Pedro: “Pedro estava assim encerrado na prisão, mas a Igreja orava sem cessar por ele a Deus. A “libertação” deve, pois, estar intimamente ligada à oração de intercessão que se eleva a Deus por parte da Comunidade.

Isto recorda-nos que não somos salvos sozinhos, mas que Deus entra na história de cada um de nós também graças à oração que se eleva até Ele, graças ao interesse daqueles que nos são próximos. Talvez também nós, tal como Pedro, nos encontremos agrilhoados pelos nossos medos, pelo nosso cansaço e pela nossa fragilidade. Presos pelos nossos sentimentos de culpa ou pela ideia de que nada mudará. E, no entanto, a cada momento, uma oração eleva-se a Deus pela nossa libertação; a cada momento, sem que sequer o saibamos, alguém também reza por nós, e aqueles que rezam talvez não saibam quem beneficiará da sua oração. É a força da fé, a alegria de ser uma Comunidade, uma Igreja, um Povo de Deus a caminho do céu. Devemos deixar-nos interpelar por esta oração silenciosa e respeitosa que nos alcança como o “murmúrio de uma brisa ligeira” (ver 1Re 19,12). Uma palavra que, como a de Pedro, nos alcança e nos diz: Levanta-te depressa… cinge-te e calça as tuas sandálias… cobre-te com a tua capa e segue-me”. Se olharmos agora para este texto como um todo, notaremos que ele segue a história da fuga do povo hebreu da escravatura no Egito: a referência à Páscoa (“A festa dos pães sem fermento”, diz o texto; ver Ex 12,15-20); a maldade de Herodes faz lembrar a do rei do Egito (Ex 3 e 10); a noite recorda a noite da libertação do povo (Ex 11,4); a ordem do anjo recorda a ordem dirigida ao povo: “tereis cingidos os vossos rins, vossas sandálias nos pés e vosso cajado na mão…” (ver Ex 12,11). O autor quer ajudar-nos a reler a experiência de Pedro como um novo Êxodo, no qual Deus interveio mais uma vez em favor dos seus. E, tal como aconteceu com Pedro, Jesus age em relação a cada um de nós.

COMBATI O BOM COMBATE
A segunda leitura apresenta-nos a figura do apóstolo Paulo que confia a sua experiência ao discípulo Timóteo: Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará…”. E conclui: “Contudo, o Senhor me assistiu e me deu forças… fui salvo… O Senhor me salvará de todo mal… e me preservará para o seu Reino celestial”. Paulo, tal como Pedro, também experimentou a libertação. Experimentou o quão próximo está o Senhor e o quanto Ele dá força àqueles que n’Ele confiam. Uma coisa é certa: coragem, confiança, força… Paulo encontra-as mantendo o olhar fixo na Meta, onde o Senhor o espera e o revestirá com a coroa da justiça. Nestas breves palavras, o testemunho de Paulo impele-nos a reavivar em nós o dom da fé, a certeza de que, ao longo do caminho, não estamos sós, mas Deus está connosco e acompanha-nos, por caminhos muitas vezes ocultos, em direção ao céu, a nossa verdadeira pátria.

TU ÉS O CRISTO
O texto do Evangelho, por fim, apresenta-nos o primado de Pedro, o papel particular que o próprio Senhor lhe confia. E fá-lo a partir de uma pergunta: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?”. É uma questão de fé. Jesus não se contenta em ser um nome entre muitos, um autor entre muitos. Em última análise, o Senhor quer tirar-nos das fórmulas clássicas que tentam reduzir e, por vezes, manipular Deus, para o colocar ao nosso alcance. Jesus não é um salvador como os outros. Será Pedro quem revelará a identidade de Jesus: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus responderá: […] tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Note-se que Jesus não espera que Pedro se torne perfeito – ele nunca se tornará perfeito de qualquer maneira! Jesus confia à vida frágil de Pedro a tarefa de ser um guardião, de ser o primeiro na caridade. Não importa se então o negará, o abandonará… Pedro será ainda capaz de reconhecer o seu próprio erro, estará disposto a encontrar o olhar de Jesus, poderá recomeçar a seguir o Senhor e, por Ele e com Ele, continuar a lançar as redes da sua vida para o Senhor (ver Mc 1,14ss; Jo 21). O Senhor Jesus, porém, sabe que chamou um homem, um pescador, e não um anjo. E Pedro compreendeu, e compreenderá cada vez mais, que só em Jesus e com Ele poderá cumprir a tarefa que lhe foi confiada.

NO MUNDO, APOIADOS PELO EXEMPLO E PELA ORAÇÃO DOS SANTOS PEDRO E PAULO
Que a experiência e o testemunho dos Santos Pedro e Paulo nos sirvam de encorajamento na nossa caminhada de vida. Para terminar, recordemos por um momento o caminho litúrgico que percorremos até agora (recentemente celebrámos a solenidade do Pentecostes, depois a da Santíssima Trindade e a do Corpo de Deus): hoje, temos a oportunidade de celebrar a solenidade dos Santos Pedro e Paulo, quase como que para nos lembrar que é o dom do Espírito Santo que nos impele, como outrora impeliu os Santos Pedro e Paulo, a testemunhar a todos que Deus Trindade é Amor; foi o Espírito Santo que lhes infundiu a coragem para se reencontrarem, correndo todos os riscos daquele período, para celebrar a Eucaristia no dia da ressurreição do Senhor; foi o Espírito Santo que lhes fez compreender que “sem a Eucaristia não podemos viver”, à custa da morte. Assim, Pedro, aparentemente fraco, morrerá em Roma pelo Senhor Jesus; e Paulo, o perseguidor, também morrerá por Aquele que morreu por ele. Que estes dois grandes Santos nos ajudem a ser os primeiros a encontrar a coragem para amar como eles amaram, seguindo o exemplo de Jesus, nosso Senhor.

Fonte: Vatican News

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