Renan Dantas/Comunica 15
Provenientes de diferentes partes do Brasil, cerca de 1,5 mil pessoas participaram do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), realizado em Rondonópolis (MT), entre os dias 18 e 22.
“CEBs – Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas” foi o tema central da atividade na qual se refletiu acerca da realidade social e eclesial do Brasil e da América Latina, tendo como horizonte o lema: “Sim! Vou criar um novo céu e uma nova terra!” (Is 65,17).
A partir da metodologia “Ver”, “Julgar (discernir e iluminar)” e “Agir”, o 15º Intereclesial abordou as temáticas da educação, ecologia integral, economia de Francisco e Clara, o poder e a sinodalidade na Igreja e a dimensão político-social, com reflexões feitas nas plenárias “Casa Comum”, “Amazônia”, “Caatinga”, “Cerrado”, “Pantanal”, “Pampa” e “Mata Atlântica”, assim chamadas para ressaltar a questão ecológica.
Ao longo do evento também ocorreram celebrações ecumênicas e inter-religiosas, a Feira da Economia Solidária, shows musicais e a Romaria dos Mártires e Defensores da Vida.
A valorização da atuação religiosa dos leigos, a importância da diversidade cultural e críticas ao modelo socioeconômico voltado ao extrativismo dos recursos naturais estiveram em destaque na abertura do encontro nacional, no dia 18.
Na celebração de encerramento, no sábado, 22, os participantes assumiram alguns compromissos, entre os quais o de fortalecer a leitura popular da Bíblia, promover uma sociopolítica da espiritualidade, valorizar a alimentação saudável, a agricultura familiar e a agroecologia, apro- ximar-se da juventude e ampliar as lutas contra todas as formas de preconceito.
PERCEPÇÕES DOS BISPOS
Entre os participantes do 15º Intereclesial estiveram 48 bispos, que emitiram uma nota conjunta. Eles disseram ter ouvido experiências encantadoras sobre a multiplicidade das comunidades eclesiais de base – “Valorizamos o testemunho de lideranças que, com fé e alegria, dedicam-se ao trabalho de evangelização, que tem como bases fundamentais a centralidade da pessoa de Jesus Cristo” –, mas, também, relatos sobre o cansaço decorrente das dificuldades enfrentadas para evangelizar – “Essas dificuldades trazem reflexos das várias eclesiologias e dos vários ambientes de nossa sociedade, quase sempre marcada pela urbanização desmedida, polarização política, pelo aumento da desigualdade, do individualismo, do preconceito e do consumismo”.
Os bispos também mencionaram ter ouvido o clamor pelo fim da violência contra as mulheres, o grito dos jovens que desejam maior abertura para participar da vida das comunidades, e o pedido dos leigos por mais formações, com o intuito de que contribuam para comunidades mais “missionárias, vivenciadoras da dinâmica sinodal e portadoras da Boa-Nova, semente de um novo céu e uma nova terra (cf. Ap 21,1)”.
Presente em alguns dias do encontro, Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (RS) e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), exortou: “Que possamos, verdadeiramente, compreender o que significa viver a fé no seio da comunidade eclesial, porque é em comunidade que nós nos salvamos e podemos construir o novo que todos almejamos”.
Em mensagem aos participantes, o Papa Francisco exortou-os a trabalhar pela “Igreja em saída”, pois esta “quando sai, caminha, se sente mais forte”.
PREOCUPAÇÃO SOCIOPOLÍTICA E PASTORAL
Padre Francisco de Aquino Júnior foi um dos assessores do “Agir” no 15º Interclesial. Para ele, o encontro foi uma ocasião de “comunhão ecumênica, inter-religiosa e social, na luta por uma terra sem males, na busca de um novo céu e uma nova terra”. O Sacerdote listou cinco desafios e cuidados a serem observados pelos participantes das CEBs: não desanimar na caminhada; não desistir da comunidade; não banalizar a missão da Igreja; não perder de vista a profecia; e não perder a esperança perante os desafios.
Ana Café Dantas, integrante da Ampliada Nacional das CEBs, considerou que entre os compromissos assumidos pelos participantes do 15º Intereclesial, dois merecem redobrada atenção: o fortalecimento da formação fé e política; e a intensificação dos círculos bíblicos. “Na verdade, os dois estão ligados. É fundamental a gente não separar a atuação social da atuação religiosa. Quanto mais as pessoas entenderem que nossa prática religiosa tem a ver com nossa presença cidadã em sociedade, melhor. É preciso diferenciar a politicagem da verdadeira política, que é a defesa da vida e do bem viver”, enfatizou.
Realizado pela primeira vez em Vitória (ES), em 1975, o próximo Intereclesial das CEBs voltará a ocorrer no estado do Espírito Santo, em cidade a ser definida, no ano de 2027.
(Com informações de CEBs do Brasil e CNBB)
