‘A doença nunca vai conseguir me matar, pois a minha alma permanecerá viva’

Rita Ephrem, a Ritinha, 29, tem uma doença ultrarrara, mas sua vontade de viver e a amizade com Deus a fazem superar as adversidades e testemunhar a beleza da vida

Arquivo pessoal

Do quarto de um hospital, ela foi constantemente bombardeada por uma desesperança comum às coisas lógicas da vida. Dali, teve pouco mais de mil dias para escrever sua história a um remetente que sempre esteve ao seu lado, ensinando-lhe que, mesmo nos momentos mais dolorosos, é preciso perseverar.

Rita Ephrem, 29, possui uma síndrome ultrarrara. Seu sistema imunológico produz 100% de células anômalas, ou seja, que atacam o próprio organismo como algo invasivo, como ocorre no caso de uma infecção por bactérias.

Mesmo diante de tantos desafios, ela optou por levar a vida de forma leve e esperançosa, confiando nos desígnios de Deus.

Parte da história de perseverança de Ritinha pode ser lida no livro “Você não conhece o poder do meu Deus”. Escrita durante os mais de três anos em que esteve internada, a obra, composta por cartas destinadas a Deus, descreve o processo de tratamento da jovem e a relação com as dores que sentiu nesse período.

“O meu livro vem para ensinar a sermos gratos pela vida extraordinária que Deus nos deu e nos mostrar que somos um milagre, que temos muito a crescer espiritualmente para vivermos em plenitude”, explicou.

Com o valor das vendas, Ritinha custeia seu tratamento de saúde.

COMPLEXIDADE DOS SINTOMAS

Diferentemente de uma doença autoimune, a característica inflamatória que Rita possui ocorre de forma generalizada, por todo o organismo, fazendo com que seu corpo viva em constante inflamação.

Outro aspecto de seu quadro clínico é a imunodeficiência comum variável, que faz com que Ritinha não produza os anticorpos. Assim, ela fica vulnerável a infecções gravíssimas.

INÍCIO DE UMA AMIZADE ETERNA

De família libanesa e muito católica, na adolescência Rita se considerava ateia, pois não compreendia o porquê de tanto sofrimento em sua saúde.

Naquele mesmo período, seu quadro clínico se complicou substancialmente. Os graves sintomas a afastaram dos amigos e da família. Foi, então, que ela percebeu que Deus permanecia ao seu lado, dando-lhe forças para lutar pela vida e ter esperança a cada nova recuperação.

“Quando descobri o imenso amor de Deus por mim, entendi que não precisava de mais nada. Eu vou honrar essa amizade até o último segundo da minha vida”, falou.

Com este entendimento, ela se tornou um exemplo de força, resiliência e perseverança.

“A Rita não é a doença, é uma mulher cheia de sonhos, planos, vontades e desejos. Sempre me perguntam qual o meu sonho e, desde criança, é deixar uma marca no mundo. Eu sempre soube o que é perseverar e como viver em plenitude, antes mesmo de saber como seria a minha vida”, manifestou a jovem.

PROTAGONISTA DA SUA HISTÓRIA

Devido à complexidade dos sintomas, somente aos 23 anos de idade Rita obteve o diagnóstico da doença, por meio de um sequenciamento de exoma completo. O teste genético também revelou que ela possui duas síndromes: uma chamada de TRAPS, outra ainda não catalogada pela Medicina.

Sua infância e juventude foram vivenciadas entre o Brasil e o Líbano, uma vez que sua família materna permanece em território libanês, mas, devido à tecnologia disponível na medicina brasileira, ela e a mãe se mudaram para São Paulo, onde vivem desde o diagnóstico conclusivo.

Ao longo da vida, Ritinha teve que aprender a conviver com dores articulares, muitas febres, lesões na pele, meningites, intubações, tromboses e até um acidente vascular cerebral.

Aos 11 anos, devido a uma dessas infecções, chegou a perder completamente a visão, recuperando-a anos depois.

Ela foi atleta profissional da seleção libanesa de futsal no início da vida adulta, mas a carreira foi interrompida quando em um dia, ao acordar, havia perdido o movimento das pernas.

Apesar dos inúmeros desafios, ela se mantém firme na decisão que tomou quando reconheceu o amor de Deus e leva consigo uma certeza: “Hoje, eu não sou mais espectadora da minha vida por um quarto de hospital, eu sou protagonista da minha história”.

“Eu perdi, falando em coisas vitais, tudo, mas eu entendi que a doença não pode tirar a minha felicidade e a minha vida, pois a minha vida está baseada na minha alma e a minha alma está baseada em um Deus vivo. A doença nunca vai conseguir me matar, pois a minha alma permanecerá viva”, continuou.

‘EU DECIDI SER FELIZ’

A fé, segundo Ritinha, é um dos grandes combustíveis que a fazem persistir na luta pela vida. Ela acredita que tudo o que passou tem um propósito muito maior: “Eu passei pela morte muitas vezes, mas, por algum motivo extraordinário, Deus me deu forças para lutar pela vida”.

E assim, dia após dia, ela se mantém confiante de que caminhar com Cristo é experienciar o calvário – com quedas e dificuldades, mas certa de que no final haverá a Salvação: “Eu vivo em plenitude dentro das minhas limitações e cada segundo como se fosse o último. Ser feliz é uma decisão. Eu decidi ser feliz”.

Essa felicidade ficou ainda mais completa em 2020. Durante a pandemia de COVID-19 e já internada havia dois anos, Ritinha conheceu o Padre Cássio de Carvalho, Pároco da Paróquia Santa Generosa, na Região Sé.

A partir de uma visita pastoral, Padre Cássio organizou uma equipe de ministros extraordinários da Sagrada Comunhão, que desde então levam a Eucaristia a Rita diariamente. Além disso, o Sacerdote a visita toda semana, e mobiliza a comunidade paroquial para ajudar no tratamento da jovem.

Para o futuro, Ritinha, que, no Líbano, havia iniciado os estudos em Engenharia Mecatrônica com ênfase em robótica, deseja retomar a vida acadêmica, mas desta vez cursando Psicologia.

UMA VIDA INSPIRADORA

“[Ritinha], o seu esforço me dá forças pra continuar tentando. Tive dois AVCs, um isquêmico que evoluiu para hemorrágico. Hoje convivo com as sequelas: lado esquerdo paralisado e não posso andar. Passo os dias entre a cama e a cadeira de rodas”.

Rose F. (postagem no Instagram)

“Sua vida tem sido uma bênção para a vida de muitos. Estou lendo o seu primeiro livro pela terceira vez e o que mais me emocionou foi sua alegria por ver o sol da sala hospitalar, a sua fé e o quanto ama viver. Você é uma bênção!”

Sara B. (postagem no Instagram)

“A Ritinha é um exemplo extraordinário de resiliência! Sua história é um lembrete do poder do amor, da resiliência e da união familiar. Ela nos inspira todos os dias a valorizar a vida e a enfrentar desafios com determinação.

Lara Ephrem, irmão

Ajude a Ritinha!

Nas redes sociais: @juntoscomaritinha

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