A força da solidariedade para reconstruir São Sebastião (SP) após as fortes chuvas

Padre Alessandro e Henriana atuam na linha de frente das ações solidárias em São Sebastião
ALECANSOA

Um dos momentos mais emocionantes do simpósio foi retratado nas falas de Henriana Lacerda e Padre Alessandro Henrique, durante a mesa “A integração se faz pelo diálogo, na liberdade, entre todos os envolvidos no cuidado com a Casa Comum”.

Eles relembraram as fortes chuvas que assolaram São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, no carnaval de 2023. A Arquidiocese de São Paulo, por meio da Caritas Arquidiocesana, realizou uma campanha de arrecadação de fundos em prol das vítimas. Todo o dinheiro foi encaminhado à Caritas Paroquial e à Paróquia São Sebastião.

“Naquele sábado de carnaval, fomos surpreendidos por 680mm de chuvas e, em um primeiro momento, não estávamos entendendo o que estava acontecendo”, disse Henriana.

O assombro inicial transformou-se em uma forte mobilização a partir do encontro de Henriana e do Padre Alessandro em um velório: “O Padre olhou para mim e disse: ‘Henriana, me ajuda!’, e a partir daquele momento, abrimos o salão paroquial da igreja e iniciamos uma operação”.

A tragédia climática, uma das maiores do País, resultou em 64 vidas perdidas, sendo 19 delas crianças.

Sem ter a menor noção de logística, Henriana disse que todos tiveram de realizar um trabalho hercúleo para conseguir atender a todas as carretas e a quantidade infinita de doações que chegavam: “Tudo ficou mais difícil porque estávamos sem sinal de celular, sem estradas, que estavam bloqueadas”.

O MELHOR DE NÓS

Padre Alessandro lembrou-se de uma frase que ouviu certa vez de Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998.

“Há 20 anos, eu era formador e levei um grupo de seminaristas para conhecer Dom Paulo Evaristo Arns, e ele disse uma frase que nunca mais esqueci: ‘O mundo está em um grande processo de transformação. Que bom seria se essa transformação passasse por nossas mãos’. Somos humanos, precisamos nos humanizar cada vez mais, porque concomitantemente a isso, estamos vivendo um grande processo de desumanização, de insensibilidade. Como diz o Papa Francisco, a globalização da indiferença. Mas, em momentos como este, há uma grande mobilização e sentimos isso de perto”, afirmou.

Das muitas histórias humanas dentro da tragédia, o Padre evocou uma em particular: “Conheci uma enfermeira de um hospital onde havia corpos sendo recolhidos à espera de reconhecimento. E essa enfermeira salientou que eles precisavam ser lavados para lhes dar dignidade, e isso me chamou a atenção”.

Um desses corpos que foram lavados para serem reconhecidos pelas famílias era o de uma senhora que segurava um Terço fechado nas mãos, como que para dizer “mesmo após a morte, a nossa fé se expressa”.

RECONSTRUÇÃO

Passado pouco mais de um ano da tragédia, Padre Alessandro e Henriana permanecem na linha de frente ao lado de outros voluntários, contribuindo para dar assistência às vítimas.

“Foi uma vivência dolorosa, muito difícil, realmente. Nós não tínhamos essa experiência dessa realidade. Chegavam pessoas que só queriam um abraço, chegavam pessoas que contavam histórias que ficávamos em dúvida, como a de uma senhora que disse que andou 40km para chegar à igreja porque ouviu dizer que estávamos dando comida e fralda”, contou Henriana.

“É uma catástrofe que chega sem avisar. E acho que, a partir de agora, temos que tomar consciência de que o mundo mudou, o clima mudou, e se não tomarmos cuidado e não preservarmos a nossa Casa Comum, essa questão vai ser cada dia mais intensa”, alertou, dizendo que, até hoje, os moradores de São Sebastião convivem com as consequências da tragédia.

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