Dia Mundial dos Pobres: A Igreja de braços, ouvidos e coração abertos aos que mais precisam

Na Arquidiocese de São Paulo, uma das ações foi realizada no Largo do Paissandu, no domingo, 17, beneficiando de modo especial as pessoas em situação de rua

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Casada e mãe de três filhos, Verônica Alves Miranda está em situação de rua desde 2020, após ficar desempregada no auge da pandemia de COVID-19 e ter de deixar a casa de aluguel às pressas, onde morava na periferia de São Paulo. Ela está à procura de um abrigo definitivo para si e sua família, e caminhando pela região central da cidade, no domingo, 17, se deparou com uma estrutura dife­rente no Largo do Paissandu, com tendas para corte de cabelo, atendimento básico de saúde e bazar solidário, além de escu­ta humanizada e alimentação gratuita.

A ação, organizada pelo Núcleo Re­gional Sé da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP), com o apoio das Pas­torais do Povo de Rua, da Mulher Mar­ginalizada e Afrobrasileira, além da Mis­são Belém, Fraternidade O Caminho, Missão Paz e o Instituto Irmãs da Santa Cruz, foi parte do VIII Dia Mundial dos Pobres, idealizado pelo Papa Francisco, este ano com o lema “A oração do pobre eleva-se até Deus” (Sr 21,5).

“Para nós, está sendo uma experi­ência muito boa, porque tem diversão para as crianças, temos a oportunidade de tomar banho, almoçar, e com uma alimentação adequada aos meus filhos”, ressaltou Verônica, que pela primeira participava com a família de uma ação caritativa e de acolhimento promovida pela Igreja.

“Só de ter escutado uma palavra ami­ga e de receber uma oração, já me sinto mais calma”, assegurou à reportagem.

VALORIZAR OS MAIS VULNERÁVEIS

O Diácono Márcio José Ribeiro, Di­retor da CASP, destacou ao O SÃO PAU­LO que a realização do Dia Mundial dos Pobres atende ao mandato de Jesus para que todos Seus discípulos reconheçam e valorizem as pessoas mais vulneráveis.

“É missão da Igreja mostrar à socie­dade a presença deles. Eles devem ser respeitados, amados e ter dignidade, e neste dia, de modo especial, com o aces­so a diversão, serviços e alimentação para que se sintam amados, acolhidos e pertencentes à sociedade”, ressaltou.

O Diácono explicou que a CASP promove cerca de 25 ações caritativas ao longo do ano, oferecendo suporte em áreas como assistência social, moradia e atendimento psicológico aos necessita­dos. “Onde estão os mais vulneráveis, a Caritas deve estar”, salientou.

Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Re­gião Sé, também acompanhou parte do dia de atividades e dialogou com as pes­soas em situação de vulnerabilidade.

Os organizadores estimam que apro­ximadamente 1,5 mil pessoas passaram pelas tendas montadas em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu.

UNIDOS PELA SOLIDARIEDADE

Irmã Noemi de Jesus, da Fraternida­de O Caminho, destacou que a missão dos franciscanos é pautada por gestos de caridade, serviço e partilha ao longo de todo o ano.

Neste Dia Mundial dos Pobres, Irmã Noemi buscou acolher a todos para pro­porcionar-lhes bem-estar e conforto. “Fazemos com que eles se sintam enga­jados e valorizados na sociedade. Neste dia, eu faço este gesto de serviço para que eles se sintam amados”, disse.

Sidnei Rodrigues, voluntário há um ano na Missão Belém, um dia já esteve em situação de rua e hoje auxilia aos que queiram seguir um itinerário de restau­ração: “A Missão Belém proporciona uma mudança de vida. Se os irmãos que estão aqui se sentirem tocados e quise­rem ser acolhidos, eu estou aqui para acolhê-los e ajudá-los nesse processo”.

IRMANADOS NA ALEGRIA

Liliane Santana vive há 14 anos em situação de rua. Na ação do último do­mingo, ela foi atendida pelos serviços de cabeleireiro e recebeu doações de roupas.

Recentemente, Liliane sofreu um aci­dente doméstico no abrigo onde perma­neceu por um mês, episódio que a deixou com a perna direita debilitada.

Com idade avançada, seu único modo de conseguir algum recurso é catando la­tinhas nas ruas para revendê-las. Ela tam­bém está à procura de um novo abrigo que tenha recursos de acessibilidade.

André Karck também foi outro atendido no último domingo. Ele teve a barba feita e o cabelo cortado e de­clarou ter ficado muito satisfeito com o serviço e a atenção dos voluntários. Católico, ele se abriga em uma barraca na região central da cidade e ao passar pelo Largo do Paissandu, atentou para a ação realizada no Dia Mundial dos Pobres.

“Hoje tornou-se um dia mais aces­sível para nós, moradores de rua, fa­zermos um corte de cabelo e ter um alimento, mas não só isso, eles [os mis­sionários e voluntários], trazem alegria e oração. Só tenho a agradecer”, disse. “Ações como estas nos trazem alegria”, complementou.

Para a Irmã Elisangela Matos dos San­tos, coordenadora do Núcleo Regional Sé da CASP, é fundamental que todos, den­tro e fora da Igreja, repensem os próprios hábitos e priorizem realizar ações diárias concretas de solidariedade: “Que possa­mos nos comprometer a olhar para além de nós mesmos e agir em solidariedade aos que mais necessitam”.

‘Deus, porque é um Pai atento e carinhoso para com todos, conhece os sofrimentos dos seus filhos. Como Pai, preocupa-se com aqueles que mais precisam Dele: os pobres, os marginalizados, os que sofrem, os esquecidos… Ninguém está excluído do seu coração, uma vez que, diante Dele, todos somos pobres e necessitados. Somos todos mendigos, pois sem Deus não seríamos nada. Nem sequer teríamos vida se Deus não no-la tivesse dado. E, no entanto, quantas vezes vivemos como se fôssemos os donos da vida ou como se tivéssemos de conquistá-la! […] Os discípulos do Senhor sabem que cada um destes ‘pequeninos’ traz gravado em si o rosto do Filho de Deus, eque a nossa solidariedade e o sinal da caridade cristã devem chegar até eles’.

(Trecho da Mensagem do Papa Francisco para o VIII Dia Mundial dos Pobres)

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