‘A informação é um direito e a busca da verdade, um dever’

Reprodução da internet

Na live “Diálogos com a Cidade”, transmitida na quarta-feira, 27, pelas mídias digitais,  o Cardeal Odilo Pedro Scherer chamou a atenção para o crescente fenômeno da desinformação e a relativização da verdade, muitas vezes, comprometida pela disseminação de notícias falsas e a propagação de ideologias que desvirtuam a percepção da realidade.

Participaram da roda de conversa virtual com o Arcebispo de São Paulo os jornalistas Filipe Domingues, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, e Fernando Geronazzo, repórter do O SÃO PAULO. A live também contou com a interação do público por meio de perguntas e comentários.   

Dom Odilo enfatizou o compromisso ético e moral não apenas de quem produz a informação como também de quem a dissemina, chamando todos à consciência para não se omitirem diante de uma notícia duvidosa e sempre levantarem questões quanto à sua veracidade.   

O Arcebispo também abordou as fundamentações teóricas da busca da verdade nos vários campos do saber e os riscos de uma concepção subjetiva ou parcial dos fatos, na qual a opinião ou desejos pessoais são considerados mais importantes que a realidade.   

O Purpurado explicou, ainda, a diferença entre a verdade científica verificável com seus próprios métodos, da verdade religiosa, baseada na revelação divina e manifesta pelo testemunho de uma experiência de fé vivida concretamente e cuja credibilidade é verificada pela ciência histórica, filosófica e teológica. 

Leia, a seguir, alguns trechos das reflexões feitas pelo Cardeal Scherer:   

Subjetivismo 

“Afirmação objetiva da verdade foi posta em xeque a partir da Idade Moderna, sobretudo, pelo filósofo René Descartes, que usou uma expressão bem conhecida: ‘Penso, logo existo’ […]. Portanto, nessa concepção, o pensamento gera a verdade. Depois, as coisas evoluíram ao ponto de chegar a teorias que diziam que a verdade é produzida pelo pensamento. Como se nós produzíssemos o mundo sobre o qual afirmamos. Afirmamos coisas sobre a nossa percepção subjetiva, não objetiva. Portanto, o sujeito se torna o produtor da verdade.”  

 “Quem hoje consome [informação] precisa compreender a questão sobre a produção de uma afirmação, de que tipo de objeto se está tratando. Se é no mundo das teorias ou da objetividade. Temos que fazer o quanto possível para nossa afirmação corresponder aos fatos enquanto tais”.   

Fechamento ao diálogo   

“Às vezes, lemos nas mídias: ‘Este me representa’ ou ‘este não me representa’. Isso significa que a pessoa disse o que eu quero ou gosto de ouvir, independentemente de que seja verdade. Significa que não estou aberto a quem possa modificar o meu modo de ver as coisas. Não estou aberto ao diálogo com o diferente […]. Aí se criam os radicalismos, os fechamentos, as polarizações”.   

Reprodução da internet

“No mundo das informações e dos debates das ideias, nós já temos uma opinião formada, isso significa um pré-conceito em relação a tal questão […] e não estou disposto a abrir as portas a algo que mude o meu conceito”.   

“Não significa que não devamos ter um chão sobre o qual estamos firmes. Sem dúvida. Temos que ter convicções e sem elas não conseguimos dialogar. Mas é interessante nos mantermos abertos ao diálogo com o que pensa e vê diferente, abertos aos fatos novos”.   

Superficialidade   

“É preciso ler, se informar. Isso custa um pouco de esforço, de tempo, precisa haver um método. Existe o problema de lermos apenas um título e pensar que já compreendemos tudo […]. Nós arriscamos ficar simplesmente em chavões e de permanecer na superfície da informação, de não nos aprofundarmos e nos informamos de forma errada”.   

Não se omitir   

“Diante de uma desinformação ou falsidade, a primeira atitude é não passar adiante, bloquear o fluxo da desinformação. Isso depende de cada um de nós. Ativamente, temos que evitar que afirmações suspeitas sejam repassadas. Se eu sei que algo que está sendo afirmado é absolutamente falso, tenho várias atitudes possíveis e se não as faço, seria uma omissão da minha parte. Eu posso levantar questionamentos, pôr em dúvida o que está sendo dito”.   

Verdades da fé   

“Há diferentes tipos de afirmação. Uma é a científica, que tem um método próprio e é fruto da aplicação desse método […]. Na narrativa dos fatos, do jornalismo, estamos no campo da busca da verdade social a partir do método próprio de verificação e investigação. No campo religioso, a verdade não decorre do método científico […], mas do testemunho, que pode ser verificado com o método da ciência histórica que ajuda a fortalecer a credibilidade dos testemunhos. A verdade de fé decorre da revelação divina, na sagrada Escritura, através de Jesus Cristo, e que a Igreja é guardiã, elucida e extrai desse conteúdo aquilo que é a sua afirmação doutrinal”.   

“Não é verdade que ciência e fé se excluem. Os grandes cientistas, em geral, também foram pessoas de fé porque souberam distinguir claramente o que é a verdade da ciência e o que é o objeto da verdade da fé”.   

Assista à íntegra do ‘Diálogos com a cidade’:

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