Na trajetória de 30 anos de carreira, celebrados em 2021, Ziza Fernandes produziu 16 álbuns nacionais, cantou em espanhol, italiano e francês, e gravou um DVD
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Ziza Fernandes é cantora católica, compositora, pianista, mosaicista, professora, escritora e empresária. Mestra em Psicologia pela Universidade Católica de Petrópolis, no Rio de Janeiro (RJ), ela é graduada em Musicoterapia pela Faculdade de Artes do Paraná e tem experiência na área de Artes e de Formação Humana.
Na trajetória de 30 anos de carreira, celebrados em 2021, produziu 16 álbuns nacionais, cantou em espanhol, italiano e francês, e gravou um DVD. É ainda autora de três livros e idealizadora e diretora-geral da Oficina Viva Produções, que há 20 anos oferece cursos que são ministrados no Brasil e no exterior.
Ziza Fernandes se apresentou diante de dois papas em edições da Jornada Mundial da Juventude (JMJ): São João Paulo II, em 2002, e Francisco, em 2013.
Nesta entrevista, Ziza conta sua experiência evangelizadora por meio da música, como esta arte expressa a beleza do encontro com Deus e fala dos trabalhos evangelizadores que tem realizado na busca de formar o comunicador integrado.
O SÃO PAULO – Como a música entrou em sua vida?
Ziza Fernandes – Costumo dizer que a música nasceu em mim. Cresci ouvindo música e o estímulo musical sempre esteve presente com meu pai, que era músico. Quando criança, eu ia à padaria comprar pão e no caminho sempre ouvia uma senhora tocando piano. O som me fascinava. Eu sentava na frente da casa para escutar o piano. Minha mãe percebeu o meu interesse pela música e pediu para essa senhora me ensinar o instrumento. Assim, começou a minha educação musical, aos 9 anos de idade. Nunca mais parei. Já são 40 anos estudando música.
Como surgiu a proposta de unir música e evangelização?
Acredito que a música veio como vocação. Nasceu naturalmente da participação na Igreja e nos grupos de oração com os jovens. E, especialmente, porque experimentei a música como ferramenta transformadora em minha vida. Nos encontros de jovens, a música era nossa companhia e aproximação humana e divina. A música se tornou uma ferramenta de busca e de diálogo com Deus. A partir desse encontro pessoal, nasceu o desejo de promover a evangelização por meio da música. E lá se vão 30 anos de caminhada evangelizadora, repleta de alegrias e conquistas, espinhos e recomeços.
Como a música pode ser, além de uma expressão de beleza, um momento de encontro com Deus?
A música é uma ferramenta que não encontra barreiras no ser humano. Ela atravessa resistências, abarca culturas, expressa o interior da alma humana, comunica o inaudível, revela sentimentos e sensações. A música, além de uma profunda expressão de beleza, é uma provocadora de encontro com Deus em suas infinitas expressões. Acredito que a face mais bela de Deus é a face musical. Mas, Ele se deixa encontrar nas diversas formas. A música é uma expressão de beleza e, sobretudo, é uma expressão de Deus, ela é uma ponte ao que existe de mais bonito e de mais elevado na alma humana. É um veículo que nos une e promove o encontro com Deus.
Qual sua avaliação sobre a produção musical que é feita no Brasil? A busca pelo belo da produção artística está perdendo espaço para um conteúdo mais comercial?
A meu ver, a produção musical religiosa no Brasil perdeu um pouco sua essência frente à vertente comercial. A produção do belo no viés artístico também está perdendo espaço frente à busca pelo comercial. Sinto que muitos artistas católicos perderam a razão, o sentido pelo qual estão produzindo e acabam se prendendo à fama e esquecendo o legado cultural que toca e aproxima gerações. A razão pela qual a música está em nós é para servir e não para ser servida. Ela promove um legado espiritual, cultural e ético na vida das pessoas. O artista precisa estar vigilante para não perder essa essência. Nasceu para morrer para si, é uma vida de sacrifícios. Os músicos são um canal de encontro e de busca de Deus, que se revela por meio da sua Palavra e de seus ensinamentos.
Como a música pode contribuir para a evangelização e conversão de jovens e adultos?
A música compõe o cotidiano: ouve-se música no carro, no trabalho, na academia, no celular. Na Igreja, a música é uma via de encontro de Deus conosco e do encontro pessoal com Cristo. A música é um veículo de comunicação e informações elevadas, independentemente de ser religiosa ou não. Ela carrega consigo princípios éticos e valores que se tornam fontes de evangelização. A missão dos cantores, compositores e intérpretes é favorecer esse encontro por meio das canções e melodias que evangelizam e convertam jovens e adultos para o Reino. A humanidade atravessa tempos sombrios, e o testemunho da fé, da verdade, da evangelização se faz necessário.
Como avalia o percurso histórico da música religiosa no Brasil?
A música religiosa em sua trajetória comporta um tesouro de inestimável valor. Grandes nomes como o Padre Zezinho compõem o nosso cenário musical, com composições magistrais, entre outros intérpretes pautados na essência do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja. Uma canção bem cantada conduz a uma experiência divina que deixa marcas profundas de contemplação e fé, canções voltadas para a Liturgia e os vários momentos celebrativos. Os grandes compositores eram dotados de uma envergadura intelectual altíssima e tinham fundamentação teológica e bíblica sobre suas composições. Atualmente, perdeuse um pouco essa dimensão da essência e prende-se ao raso, à liquidez do momento. É preciso voltar às fontes.
Você atua em diversas áreas, inclusive na Musicoterapia. Como a Musicoterapia ajuda no desenvolvimento humano e nas ações de evangelização e na Catequese?
A Musicoterapia, aliada à evangelização, em seus vários aspectos objetiva integrar o ser humano em sua totalidade, visa a buscar a integralidade do ser. Ela melhora a vida de quem comunica o Evangelho, de quem atua na Catequese ou nas demais áreas, e essa integração permite uma maior abertura para Deus. O desenvolvimento humano encontra seu ápice no encontro com Deus.
Conte-nos um pouco sobre o seu trabalho com a Oficina Viva e a atuação na Fazenda da Esperança.
A arte e, principalmente, a música expressam uma dimensão de resgate e valorização humana. Esse é o ideal da minha missão: reconduzir as pessoas ao encontro com Deus, com o Sagrado. O projeto Oficina Viva tem por objetivo produzir conteúdo multifocado que colabore na formação e integração do ser humano. A atuação na Fazenda da Esperança se deu a partir de um musical contando a história da instituição, resgatando pessoas para a Igreja e para si mesmos.
Mesmo em tempos de pandemia, fale- -nos um pouco sobre seus projetos?
Graças a Deus, apesar dos tempos difíceis que o mundo atravessa, meus projetos só crescem. Sou uma pessoa inquieta e sedenta. Sempre estou criando coisas com o intuito de acrescentar conteúdo e vivências de fé na vida das pessoas. Recentemente, lancei o ZF Club, um combo de 30 canais de assinatura com conteúdos em português e em outros idiomas em que abordo as várias facetas da vida e as dimensões da fé a partir da minha experiência nestes 30 anos de carreira, entre tantos outros que compõem minha jornada evangelizadora. A criação na vida do artista é sinal da presença de Deus.