Arquidiocese de São Paulo tem uma nova paróquia: São Judas Tadeu

Igreja matriz da Paróquia São Judas Tadeu (reprodução da internet)

Na quinta-feira, 28, festa litúrgica dos apóstolos São Simão e São Judas Tadeu, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, assinou o decreto de criação da 307ª paróquia da Arquidiocese de São Paulo.

Localizada no bairro Sol Nascente, na zona noroeste da capital paulista, a Paróquia São Judas Tadeu foi instituída a partir do desmembramento do território da Paróquia Cristo Rei, no Jardim Britânia, na Região Episcopal Brasilândia.

O decreto de criação estabelece que, além de fazer divisa com a paróquia de origem, o novo território paroquial tem como limites a Paróquia São José, no Jardim Russo; a Paróquia Nossa Senhora da Paz, no Jardim Santa Lucrécia; a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Jaraguá; a Paróquia Nossa Senhora das Graças, no Jardim Anhanguera; e a Diocese de Bragança Paulista.

A celebração eucarística que marcará a instalação da nova paróquia acontecerá nesta quinta-feira, às 19h30, presidida por Dom Odilo, na igreja matriz de São Judas Tadeu (Avenida Euclides da Cunha, 705, Sol Nascente). 

O que é uma paróquia?

O Código de Direito Canônico, que reúne as leis que regem a Igreja Católica, define como Paróquia “uma determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja particular [diocese ou arquidiocese], e seu cuidado é confiado ao pároco, como seu pastor próprio, sob a autoridade do bispo diocesano”. Portanto, a Paróquia não se limita ao templo, que é a matriz ou sede paroquial, mas ao território no qual a Igreja está inserida.

“A Paróquia é, acima de tudo, uma comunidade de pessoas, uma porção do povo de Deus, que se congrega concretamente e de forma organizada em nome de Cristo”, enfatizou o Cardeal Scherer na Carta Pastoral “Paróquia, torna-te o que tu és”, publicada em 2011.

Esse termo se origina no verbo grego paroikêin, que, dentre vários significados, indica “viver junto a” ou “habitar nas proximidades”. Pode, também, indicar a situação de alguém que não tem residência fixa, um “estrangeiro” ou “peregrino”, de outras terras, que fixa sua morada em um determinado lugar.

Já a palavra paroikía pode ser traduzida por “morada em terra estrangeira”, e aparece algumas vezes tanto no Antigo quanto no Novo Testamento para se referir à morada do povo de Deus, peregrino neste mundo, porém, fixado em um determinado lugar e contexto histórico.

Ruínas da domus ecclesiae de Dura Europo, na Síria, considerada uma das primeiras igrejas cristãs de que há registro (reprodução da internet)

Casa dos cristãos

Já nos textos bíblicos do apóstolo São Paulo é possível verificar o que pode ser considerada inspiração das primeiras paróquias, quando ele se refere à constituição de pequenas comunidades como Igrejas domésticas, identificadas simplesmente com o termo “casa” ou “domus ecclesiae”.

As primeiras comunidades cristãs se formaram nas cidades por onde os apóstolos e seus sucessores passavam e anunciavam o Evangelho. Essas casas eram o lugar de referência onde os fiéis se reuniam para celebrar e ouvir a Palavra de Deus, receber o Batismo, celebrar a Eucaristia e partilhar os dons que possuíam em comum.

À medida que mais cristãos aderiam à fé e, consequentemente, as comunidades cresciam, novas casas surgiam e, aos poucos, formava-se uma rede de comunidades, as quais, juntas, constituíam a Igreja na cidade, como, por exemplo, “a Igreja de Deus que está em Roma”, como se referiu São Paulo na Carta aos Romanos.

Evolução

A partir do século IV, surgem, nas maiores cidades, comunidades eclesiais urbanas com mais autonomia. Ao mesmo tempo, tais comunidades se expandiam para a zona rural, cada vez mais distantes dos centros.

Essa dilatação da comunidade urbana deu origem à diocese, uma Igreja particular pastoreada por um bispo, na cidade, e constituída de vários conjuntos de outras comunidades mais distantes, as paróquias.

Diante da impossibilidade do bispo se fazer presente nessas paróquias, surge a figura do vigário, que significa “aquele que faz às vezes de”, que, geralmente era auxiliado por um diácono e outros ministros. Esse vigário, após o Concílio Vaticano II, passou a ser chamado de pároco.

A Paróquia acompanhou as transformações da organização da sociedade em cada época, passando pelo feudalismo, burguesia e o surgimento das metrópoles.

No século XII, quando houve o desenvolvimento das comunidades cristãs em torno dos grandes mosteiros, deu-se maior relevância às paróquias como um centro de propagação da fé e da organização social, com a criação de escolas, orfanatos, instituições de assistência aos peregrinos e pobres, assim como às atividades das várias irmandades. Alguns historiadores consideram esse período o marco do surgimento do que se entende hoje como paróquia.

Como nasce uma paróquia?

Uma vez que a paróquia é uma comunidade de fiéis em uma determinada localidade, é necessário, antes de tudo, que haja a presença de um grupo de cristãos vivendo estavelmente nesse lugar.

Compete apenas ao bispo diocesano o ato de criar, suprimir ou modificar uma paróquia. Para isso, deve haver uma necessidade pastoral, como, por exemplo, quando o atendimento sacramental e pastoral dos fiéis é dificultado pelas distâncias ou pelo crescimento populacional de um território.

Outros fatores que podem indicar a necessidade de uma nova paróquia é o surgimento de um novo bairro, sobretudo, em regiões periféricas, em áreas de expansão ou revitalização urbana que geram uma concentração de habitantes.

Sobretudo em regiões periféricas, as paróquias possuem territórios extensos e, para atender a população, contam, além da matriz paroquial, com outras comunidades menores que têm como sede pequenas igrejas, capelas, ou mesmo casas e outros espaços comuns.

Na maioria dos casos, dessas comunidades surge a potencial nova paróquia. Em geral, o pároco, após refletir com os fiéis e com os sacerdotes do setor pastoral a qual a área faz parte, apresenta o pedido e as necessidades que o justifica ao Bispo, que irá avaliar e discernir a respeito.

Há situações em que, antes da criação de uma nova paróquia, é instituída uma área pastoral ou uma pró-paróquia ainda vinculada ao território paroquial de origem. A partir daí, percebem-se as características do povo, suas necessidades espirituais e, principalmente, o que precisa ser feito para que seja criada uma nova paróquia naquele lugar.

Imagem do padroeiro da nova paróquia (reprodução da internet)

Condições e estrutura

É importante que a comunidade apta a se tornar uma paróquia tenha uma organização pastoral desenvolvida o suficiente para garantir sua ação evangelizadora. Para isso, é preciso que haja, pelo menos as pastorais essenciais, como catequese para os sacramentos, liturgia, dízimo, serviço da caridade etc. É preciso, ainda, que a diocese tenha condições de enviar ao menos um sacerdote para pastorear os fiéis.

Além das necessidades pastorais e evangelizadoras, é necessária uma mínima infraestrutura, como: uma igreja que possa ser a matriz paroquial, mesmo que provisoriamente, com condições mínimas de acolher os fiéis para celebrações; espaços para atendimentos ao público, para reuniões e atividades pastorais; uma residência para o sacerdote; e condições materiais e financeiras para manter sua infraestrutura, atividades e ministros. Esses critérios podem variar de acordo com a diocese, circunstâncias e realidades locais. 

No entanto, não significa que toda comunidade estruturada necessariamente se tornará uma paróquia, uma vez que nem sempre há uma necessidade pastoral que justifique sua criação. Em alguns casos, após avaliar e refletir com o conselho de presbíteros e outras instâncias de consulta na diocese, o bispo opta por, ao invés de criar a nova paróquia, potencializar o atendimento paroquial, por exemplo, com o envio de mais sacerdotes, criação de novas comunidades menores ou outras iniciativas missionárias.

Território existencial

A instrução pastoral “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja”, publicada em julho de 2020 pela Congregação para o Clero, com aprovação do Papa Francisco, sublinha que, desde a sua origem, a Paróquia se coloca como resposta a uma exigência precisa: “Aproximar do Evangelho o povo por meio do anúncio da fé e da celebração dos sacramentos”.

O documento ressalta, ainda, com uma característica da paróquia “o seu radicar-se ali onde cada um vive cotidianamente”. Nesse sentido, o documento reforça que o princípio territorial permanece plenamente vigente, sobretudo do ponto de vista canônico.

“Porém, especialmente hoje, o território não é mais apenas um espaço geográfico delimitado, mas o contexto em que cada um exprime a própria vida feita de relações, de serviço recíproco e de tradições antigas. É neste ‘território existencial’ que se encontra todo o desafio da Igreja no meio da comunidade”, observa o texto.

Estrutura caduca?

Na exortação apostólica Evangelii gaudium (2013), o Papa Francisco afirma que “a paróquia não é uma estrutura caduca”; pelo contrário, possui uma grande capacidade de assumir formas muito diferentes, “que requerem a docilidade e a criatividade missionária do pastor e da comunidade”. Recordando as palavras de São João Paulo II em outro documento – a exortação apostólica Christifidelis laici (1988) –, o atual Pontífice enfatizou que a paróquia continuará a ser “a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos”.

“A paróquia é presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração”, acentuou o Santo Padre, acrescentando, ainda, que, por meio de todas as suas atividades, a paróquia incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização. “É comunidade de comunidades, santuário em que os sedentos vão beber para continuar a caminhar, e centro de constante envio missionário”, completou.

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