Pelas ruas do centro da cidade, os peregrinos realizaram paradas reflexivas e oracionais sobre o direito à moradia digna, tema da Campanha da Fraternidade do próximo ano

Pelas ruas do centro da cidade, na manhã do sábado, 29 de novembro, ecoaram centenas de vozes dos participantes da peregrinação jubilar da Campanha da Fraternidade 2026, cujo tema será “Fraternidade e Moradia”, e o lema “Ele veio morar entre nós” (Jo 1,14).
Os peregrinos partiram da Basílica Menor de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como Igreja de Santa Ifigênia, em direção à Catedral da Sé, realizando quatro paradas: na frente do edifício Wilton Paes de Almeida; na sede da Prefeitura de São Paulo; na Paróquia São Francisco de Assis (no Largo São Francisco) e na Catedral da Sé.
No átrio da Catedral, os peregrinos foram acolhidos por Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial arquidiocesano para a Campanha da Fraternidade. Em seguida, entraram em procissão no templo e participaram dos ritos previstos para as peregrinações jubilares. Depois, participaram da missa presidida pelo Bispo.
REFLETIR NOSSA MORADIA

Em cada parada da peregrinação refletiu-se um tema, conforme explicou o Frei Marx Rodrigues dos Reis, OFM, integrante da Comissão do Testemunho e Serviço da Caridade da Arquidiocese: “A dignidade da moradia digna; o cuidado com a Casa Comum, zelar pelo planeta como nossa morada; a humanidade e divindade de Jesus, que se fez um de nós, habitando o ventre de Maria como a primeira casa”.
Evaniza Rodrigues, da Pastoral da Moradia e Favela, recordou que “o tema vem com o apelo de reafirmar a moradia como um direito, e não como uma mercadoria de compra e venda; como uma oportunidade de ação, ou seja, para fortalecer os movimentos, organizações e pastorais sociais para a ação e protagonismo junto às necessidades reais do povo de Deus. Precisamos ser presença viva do Deus vivo no meio desse povo que sofre”, afirmou.
André Delfino da Silva, coordenador da equipe central da CF na Arquidiocese e na Região Ipiranga, refletiu sobre a realidade urbana e o caráter profético da luta por habitação digna: “Caminhar pelas ruas de São Paulo é denunciar as mazelas de uma cidade tão rica, mas que não garante o direito à moradia para todos”.
Para ele, “a esperança e a luta é que cada mulher e cada homem neste País tenham o direito à moradia assegurado e garantido”. Também comentou que o Estado tem responsabilidade direta na efetivação desse direito.
MORADIA E DIGNIDADE

Na homilia da missa, Dom Rogério destacou que o encontro não tinha como objetivo antecipar a edição da Campanha de 2026, mas recordar a trajetória e o sentido profundo da iniciativa na vida da Igreja. Ele enfatizou que a Campanha da Fraternidade é sempre um caminho de conversão pessoal, e não um embate ideológico ou estrutural.
O Bispo reforçou que o método da Campanha da Fraternidade deve ser coerente com seu objetivo: “Durante o caminho da Campanha é que se deve construir a fraternidade”.
Dom Rogério afirmou que a Campanha da Fraternidade precisa “ser permeada por reflexão religiosa, catequética, teológica, filosófica e moral. Sem isso, corre-se o risco de tornar-se apenas uma campanha social ou política, válida, mas não evangelizadora”.
Enfatizou, ainda, que a sociedade espera mais da Igreja do que discursos sociológicos. Espera sinais do Reino de Deus. “A justiça do Reino olha para os pequenos e excluídos, mas também toca o coração dos que oprimem”, finalizou.
CAMINHAR E CONSCIENTIZAR

Padre José Geraldo Rodrigues Moura, Coordenador da comissão do Testemunho e Serviço da Caridade na Região Ipiranga, ressaltou a união das pastorais, paróquias, movimentos e projetos sociais na peregrinação. Ele comentou que o debate sobre a temática da CF 2026 já tem favorecido o reencontro entre o trabalho pastoral e os grupos que atuam na defesa de direitos. “Estamos resgatando a questão de trazer os movimentos para serem incluídos na pastoral social”, explicou.
A preparação do tema nas comunidades tem sido feita por meio da articulação territorial. O Sacerdote explicou que a equipe arquidiocesana se preocupou em organizar também equipes regionais. “A Campanha da Fraternidade é para todas as paróquias da Arquidiocese, para todas as comunidades, colégios e instituições católicas”, disse, ressaltando que “a ideia é garantir que a CF chegue às bases”, para que seja efetivamente abraçada.
Padre José Geraldo frisou que uma peregrinação como a realizada no sábado, com um testemunho público de fé, também cumpre a função de sensibilizar a opinião pública. “É uma oportunidade para mostrar para a sociedade que a luta por moradia é uma causa necessária nos dias de hoje. É uma bandeira importante da Igreja”, afirmou.
“O país é a oitava economia do mundo. Você olha para a cidade e vê pessoas morando na rua. Eu trabalho com favelas: vejo barracos insalubres, lugares onde as crianças não podem sequer colocar a cara na rua por causa do tráfico e da violência”, relatou, enfatizando que essas situações exigem respostas urgentes do poder público e que a Igreja tem buscado iluminar essa realidade. “Deus quer fazer dos nossos corações também a sua morada”, concluiu.
EM AÇÃO

Padre José Maria Mohomed Júnior, um dos Coordenadores arquidiocesanos de Pastoral, explicou que desde o mês de agosto criou-se uma equipe na Arquidiocese que respondesse pela Campanha da Fraternidade: “O tema da moradia favorece a articulação dos grupos de base das paróquias e dos movimentos sociais ligados à luta por moradia digna”.
Com as equipes já estruturadas na Arquidiocese e nas regiões episcopais, algumas atividades estão programadas, como um seminário, em 31 de janeiro. “A iniciativa também pretende ampliar o cuidado e a atenção com as pessoas em situação de vulnerabilidade habitacional”, explicou.






