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Cardeal Scherer abençoa os primeiros sinos da Paróquia Santa Cândida 

Igreja que completará 70 anos em 2027 nunca teve um sino autêntico. Bênção ocorreu no dia da festa da padroeira

Luciney Martins/O SÃO PAULO

 “Os sinos na igreja sempre convidam o povo à oração”, afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer ao abençoar, no sábado, 20, os sinos da Paróquia Santa Cândida, na Região Ipiranga, durante a festa da padroeira, que teve a celebração da missa e confraternização. 

Antes mesmo de serem instalados na torre recém-restaurada da Paróquia, os sinos ocuparam lugar de destaque na celebração e ressoaram pela primeira vez dentro da igreja, antecipando o som que, a partir deste mês, ecoará pelo bairro do Ipiranga. 

TRADIÇÃO QUE TOCOU O POVO 

Tocar os sinos do alto das torres é uma tradição que atravessa séculos na vida da Igreja. Na Idade Média, o som metálico das badaladas não apenas marcava o início das celebrações litúrgicas, mas também ordenava o ritmo das cidades e povoados, chamando o povo à oração, anunciando festas, luto, perigo ou alegria. 

Até hoje, em meio ao barulho urbano, os sinos continuam sendo um sinal da presença de uma comunidade católica em um bairro. Quando ressoam, lembram a todos que ali existe uma igreja viva e aberta. 

“No Ipiranga, isso é um grande sinal, porque a nossa Paróquia completará 70 anos em 2027 e nunca teve sinos autênticos. Já usamos alto-falantes e outras formas de chamar o povo à oração, mas nunca um sino de verdade”, contou o Padre Anderson Marçal, Pároco. 

Antes de ressoarem na torre da matriz  paroquial, os sinos já tocaram o coração do povo. A campanha para comprá-los mobilizou fiéis em diversas iniciativas de arrecadação, e a conquista tornou-se fruto da partilha e da fé. 

“Desde que o Padre Anderson chegou à Paróquia, ele manifestava o desejo de termos um sino. Na época, porém, havia outras prioridades”, recordou Sol Klemchuk, integrante do Conselho Administrativo-Econômico Paroquial (Caep). 

Ela lembrou que, ao longo dos últimos anos, a comunidade se dedicou em reformas como a do telhado, do centro catequético, da casa paroquial, além do calçamento do estacionamento, a troca dos bancos, entre outras melhorias. “O momento dos sinos chegou. E, como tudo o que realizamos na Paróquia, essa também é uma conquista de todos”, acrescentou. 

Segundo Sol, cada gesto de colaboração foi fundamental para tornar o sonho possível: “Cada compra na ‘lojinha’ ou na cantina, cada dízimo, ofertório e quermesse contribuiu para custear as melhorias que fortalecem e fazem crescer a nossa comunidade”. 

A ‘SANTA DESCONHECIDA’ 

O dia da bênção não foi escolhido ao acaso. No calendário litúrgico, 20 de setembro ganha uma tonalidade azul-rosada, graças a uma santa pouco conhecida, mas de grande importância para a história do Cristianismo na Europa. Santa Cândida, segundo a tradição, foi convertida pelo próprio apóstolo São Pedro durante sua passagem por Nápoles, na Itália, recebendo dele não apenas a cura de uma enfermidade, mas sobretudo a fé em Cristo. Como muitos dos cristãos nos primeiros séculos, acabou presa, torturada e condenada à morte pelo Império Romano por se negar a renunciar a fé em Jesus. 

Por sua dedicação às famílias e aos doentes de Nápoles, Santa Cândida recebeu o título de “protetora das famílias e socorro dos enfermos”, como explicou o Pároco: “Esse título lhe foi dado porque, embora já praticasse a caridade antes da conversão, depois de encontrar Cristo ela passou a vivê-la com um sentido ainda maior. Não media esforços para visitar famílias, cuidar dos doentes e colocar em prática os ensinamentos de Jesus transmitidos por São Pedro.” 

A tradição de evangelizar as famílias permanece viva na Paróquia, especialmente nos dias que antecederam a festa, quando a imagem peregrina da padroeira percorreu lares previamente cadastrados. Em cada visita, não foram apenas as portas que se abriram, mas também os corações, como afirmou Aline Rodrigues, coordenadora do Grupo de Oração da Paróquia, que integrou a equipe de visitação: “Tocar concretamente na história e no amor das pessoas com a padroeira é a experiência mais profunda que fiz nessas visitas”. 

Aline ainda recordou uma recomendação do Pároco: “Padre Anderson sempre diz que, por ser uma santa desconhecida, Santa Cândida tem mais disponibilidade para acolher nossas preces. Então, recorramos com confiança à intercessão dela em nossas necessidades”. 

MEMÓRIA E CHAMADO 

Na homilia, Dom Odilo recordou o testemunho da padroeira como mártir, que entregou a própria vida a Cristo em meio às perseguições religiosas: “Os mártires sempre nos lembram de que vale a pena dar a vida por Cristo e permanecer fiéis. Muitas vezes é difícil viver a fé e perseverar nos ambientes em que estamos, especialmente quando nossa vida cristã é desafiada. O testemunho deles nos encoraja a seguir firmes”, afirmou. 

Ele também refletiu sobre o evangelho do dia, apresentando as Bem-Aventuranças (cf. Mt 5,3-12) como “as sete vias da santidade, caminhos que nos conduzem à verdadeira felicidade e à plenitude da vida cristã”. 

No encerramento da celebração, o Cardeal lembrou que, tradicionalmente, os sinos tocam três vezes ao dia para chamar o povo à oração. “Os muçulmanos aprenderam de nós essa prática de reservar horas do dia para rezar, mas nós a esquecemos”, observou. Por fim, recomendou: “Ao ouvir o sino, que possamos lembrar que é hora de oração, de rezar seja a Ave-Maria, seja a oração ao Anjo do Senhor, e nos sentirmos chamados por Ele.” 

A Paróquia Santa Cândida está localizada na Avenida Doutor Ricardo Jafet, 271, Ipiranga. Saiba mais detalhes pelo Instagram @santacandidasp

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