Cardeal Scherer institui a Paróquia São Gaspar Bertoni

Na missa solene de criação, o Arcebispo deu posse ao pároco e apresentou o vigário paroquial. Também lembrou as três missões essenciais de uma paróquia: o anúncio da Palavra de Deus; a santificação dos fiéis; e o testemunho concreto da fé, da esperança e da caridade

Os moradores do Parque São Rafael, na zona Leste de São Paulo, viveram uma tarde especial no domingo, 8. Era por volta das 17h quando as pessoas começaram a sair de suas casas, como em uma peregrinação, que tinha como destino a Rua Lourenço Leite Penteado, que, nessa ocasião, se tornou uma igreja ao ar livre. Aquela porção do povo de Deus foi testemunha de um acontecimento histórico para o bairro e para a Igreja Católica: o nascimento de uma paróquia, a 309ª da Arquidiocese de São Paulo.

Instituída a partir do território da então Área Pastoral São Gaspar Bertoni, a nova Paróquia, com o mesmo título, foi desmembrada do território das paróquias São Marcos Evangelista, no mesmo bairro, e Imaculado Coração de Maria, no Jardim Rodolfo Pirani.

A celebração de instalação da nova Paróquia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, que, na ocasião, também deu posse ao primeiro Pároco, Padre Vidal Valentin Cantero Zapattini, CSS, e apresentou o Vigário Paroquial, Padre Patrick Bruno Furquim dos Santos, CSS.

Entre os concelebrantes da Eucaristia estiveram Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, e o Padre Jordélio Siles Ledo, Provincial da Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo (Estigmatinos), à qual foi confiado o cuidado pastoral da Paróquia.

HISTÓRIA

A origem dessa Paróquia remonta ao fim da década de 1970, com a expansão da ação evangelizadora na periferia da cidade, por meio das comunidades eclesiais de base (CEBs). Por iniciativa de um grupo de leigos e o apoio financeiro de católicos da Alemanha, foi construída uma capela com o título de Nossa Senhora das Graças, pertencente à Paróquia São Marcos Evangelista. A primeira missa foi celebrada em 29 de abril de 1979, pelo Servo de Deus Dom Luciano Mendes de Almeida, à época, Bispo Auxiliar de São Paulo.

Os fiéis, contudo, sentiam falta da presença mais constante de um padre para celebrar a Eucaristia. Foi então que, em 2011, os missionários do Verbo Divino (Verbitas), encarregados pela Paróquia, iniciaram o projeto de desmembrar essa comunidade e outras duas dos arredores, Nossa Senhora Aparecida e Maria Mãe dos Migrantes, para haver um melhor atendimento dos fiéis.

Esse projeto, no entanto, só pôde ser concretizado dez anos depois, em 2021, quando Dom Luiz Carlos Dias, então Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, convidou os missionários estigmatinos para cuidar da recém-criada Área Pastoral São Gaspar Bertoni. Foi nessa ocasião que os Padres Vidal e Elizeu da Conceição chegaram ao bairro.

Apesar de estarem em plena pandemia de COVID-19, os missionários conseguiram organizar a área pastoral financeira e pastoralmente. Em 2023, o atual Vigário Episcopal da Região Belém, Dom Cícero, fez visita pastoral às comunidades e motivou os padres e fiéis a darem continuidade ao projeto para que a área pastoral se tornasse uma paróquia territorial, o que ocorreu com o decreto assinado pelo Cardeal Scherer em 3 de setembro.

Após a leitura do decreto de criação da Paróquia, foi entronizada a imagem do padroeiro, São Gaspar Bertoni (1777-1853), Sacerdote italiano e fundador da Congregação dos Estigmatinos. Ele foi canonizado por São João Paulo II em 1º de novembro de 1989.

ANUNCIAR, SANTIFICAR E TESTEMUNHAR

Na homilia, Dom Odilo explicou que, ao contrário do que muitos pensam, a paróquia não se limita à igreja matriz, mas é, acima de tudo, uma comunidade de pessoas, uma porção do povo de Deus que se congrega concretamente e de forma organizada em nome de Cristo em determinado território.

Em seguida, o Arcebispo recordou as três missões essenciais de uma paróquia: o anúncio da Palavra de Deus, dentro e fora das celebrações, sobretudo, por meio da Catequese e formações bíblicas; a santificação dos fiéis, mediante a celebração dos sacramentos, o cultivo da oração e a prática das virtudes; e o testemunho concreto da fé, da esperança e da caridade, por meio das inúmeras iniciativas pastorais.

“Que isso se realize aqui, com a graça e a bênção de Deus e a intercessão do santo padroeiro, São Gaspar Bertoni”, exortou.

LUGAR DE MISSÃO

A Paróquia São Gaspar Bertoni é limítrofe às paróquias São Marcos Evangelista, Imaculado Coração de Maria e Nossa Senhora das Flores, e com a Diocese de Santo André, no limite com o município de Mauá. A matriz paroquial será a antiga Capela Nossa Senhora das Graças.

As áreas das comunidades da matriz e a de Nossa Senhora Mãe dos Migrantes abrangem cerca de 2,1 mil casas. Já a Comunidade Nossa Senhora Aparecida está localizada em uma área mais desafiadora, entre duas favelas, que impedem a contabilização do número de residências e famílias. Na delimitação do novo território paroquial, ainda há uma área que reúne uma grande porção de habitantes onde ainda será necessário trabalhar para a implantação de uma quarta comunidade.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Padre Vidal afirmou que, ao assumir a nova missão, dá continuidade a uma história que começou a ser escrita por muitas pessoas que merecem ser recordadas e às quais a nova Paróquia manifesta eterna gratidão.

“Este território paroquial é um lugar geográfico no qual somos chamados a testemunhar a fé e anunciar o Evangelho. Esta é uma comunidade eclesial comprometida, que dialoga com a realidade, sem deixar de lado a sua fé. Eu aprendo a ser padre com eles. E eles aprendem também a viver cada vez mais a fé”, declarou.

Uma das pessoas que fazem parte dessa história é Gilza Irene de Macedo Souza, 63. Natural do Piauí, ela chegou ao Parque São Rafael em 1979, quando participou da segunda missa na Capela Nossa Senhora das Graças. Ao longo destes anos, atuou em diversas pastorais. Atualmente, é coordenadora dos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão.

“Aqui nasce um novo capítulo da história da Igreja presente em nosso bairro. Eu me sinto tão feliz, por um lado, mas, por outro, sentimos o peso da responsabilidade. Como Dom Odilo nos disse, cabe a cada um de nós ser Igreja no bairro e não apenas dentro do templo”, afirmou.