Católicos alemães festejam São Bonifácio em São Paulo

Cardeal Scherer preside missa na Paróquia Pessoal Alemã São Bonifácio (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Considerado o missionário responsável pela propagação da fé cristã entre os povos germânicos, o Bispo e Mártir São Bonifácio foi celebrado pela comunidade católica alemã presente na capital paulista, no domingo, 6. 

Este Santo do século VII é o padroeiro da Paróquia Pessoal Alemã São Bonifácio, na Vila Mariana, onde o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a Eucaristia em alemão, idioma falado fluentemente pelo Arcebispo de São Paulo, cuja família é de origem alemã.

Em 2021, também são celebrados os 120 anos da comunidade católica alemã em São Paulo. No entanto, devido à atual pandemia, as festividades foram transferidas para 2022.

Todos os anos, além da missa, é realizado um almoço comunitário típico da Alemanha. A fim de evitar aglomerações, porém, as comemorações não puderam acontecer pelo segundo ano consecutivo. 

Apóstolos da Alemanha 

Na homilia, Dom Odilo recordou que São Bonifácio, cuja data da memória litúrgica é 5 de junho, é considerado o “apóstolo da Alemanha”, pois foi o responsável pela evangelização dos povos germânicos. 

Nascido na Inglaterra em 680 e batizado com o nome de Winfrid, ainda muito jovem foi morar na abadia de Nurslig e se tornou um monge beneditino. 

Aos 30 anos, recebeu a ordenação sacerdotal e decidiu se dedicar ao apostolado no meio dos pagãos no continente. Sua primeira experiência foi em 716, quando seguiu com alguns companheiros para a Frísia (atual Holanda).   

Em 719, o Monge foi chamado pelo Papa Gregório II de Bonifatius (benfeitor) e recebeu a missão de evangelizar os alemães. Poucos anos depois, foi ordenado bispo missionário. 

Missionário e mártir 

Bonifácio atravessou os Alpes para chegar à Germânia, onde atuou na Turíngia, em Hessen, na Baviera e na Frísia. Criou os bispados de Eichstätt e Würzburg, reorganizou os de Passau, Regensburg e Salzburg (Áustria), foi bispo de Mainz, fundou vários mosteiros e realizou, entre 743 e 747, os chamados Concílios Germânicos, encontros episcopais para reformar a Igreja. 

Bonifácio morreu assassinado por um grupo de pagãos hostis à fé católica, aos 80 anos de idade, com 50 acompanhantes, numa viagem missionária à Frísia, no dia 5 de junho de 754. 

Ao destacar o testemunho de São Bonifácio, o Cardeal Scherer afirmou que, ao longo da história da Igreja, foram muitas as ocasiões em que houve a necessidade de novos impulsos missionários, o que hoje é chamado de “nova evangelização”, e, assim como no passado, são necessários novos apóstolos, missionários, que anunciem Jesus Cristo aos povos. 

Meditando a partir do trecho do Evangelho proclamado na missa, no qual Jesus condena a blasfêmia contra o Espírito Santo, Dom Odilo afirmou que esse é um grave pecado de fechamento à verdade de Deus que se manifesta no seu Filho. 

O Arcebispo invocou, ainda, o exemplo e a intercessão de São Bonifácio, que pregou a verdade do Evangelho aos pagãos a ponto de derramar o seu sangue em nome de Jesus Cristo. 

Fiéis de origem alemã e seus descendentes participam de missa em igreja na Vila Mariana (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Paróquia pessoal 

A comunidade católica alemã em São Paulo foi formada em 1901, quando os primeiros imigrantes da Alemanha procuraram assistência espiritual no Mosteiro de São Bento, no Centro. Lá, começaram a ser celebrados sacramentos em seu idioma materno. Em 1966, foi inaugurada a atual igreja matriz, abençoada pelo Cardeal Agnelo Rossi, então Arcebispo de São Paulo. 

Diferentemente das paróquias territoriais, uma paróquia pessoal é voltada à assistência pastoral de um grupo de fiéis de determinada língua, etnia ou cultura, no caso, os imigrantes alemães e seus descendentes residentes em São Paulo, assim como as pessoas vindas de países em que o alemão também é falado, como Áustria, Bélgica, Liechtenstein, Luxemburgo e Suíça. 

A Conferência Episcopal Alemã possui um secretariado próprio para acompanhar as comunidades católicas de língua alemã no exterior. Esse departamento também é responsável pelo envio de sacerdotes alemães que permanecem nesses países por um período.  

Pároco desde janeiro de 2015, Padre Georg Pettinger, missionário alemão, explicou ao O SÃO PAULO que, atualmente, existem cerca de 250 mil alemães e seus descendentes espalhados por toda a cidade. No entanto, nem todos são católicos ou participam da celebração nessa Paróquia, sobretudo devido à distância, e acabam se inserindo nas comunidades próximas de suas residências. 

Há 50 anos 

O técnico gráfico Gerhard Pütz, 72, chegou ao Brasil quando tinha 22 anos, enviado pela empresa multinacional em que trabalhava. “O contrato era para que eu ficasse por um ano, e já estou aqui há 50. Aqui eu criei raízes, casei-me, tive filhos”, relatou o leigo, que é responsável pelo conselho paroquial. 

Assim como Pütz, a maioria dos alemães ligados à Paróquia São Bonifácio vieram ao Brasil por razões de trabalho. Ainda hoje, o estado de São Paulo é onde se concentra o maior número de empresas alemãs fora da Alemanha. Entretanto, o fluxo migratório germânico para o Brasil diminuiu bastante nas últimas décadas.  

“Há, ainda, muitos filhos e netos de alemães que frequentam nossas missas acompanhando seus pais e avós. Essa é uma forma de não perderem totalmente o vínculo com a cultura do nosso país de origem”, observou. Outro fato curioso que Pütz destacou é que, nos últimos anos, cresceu a procura de jovens brasileiros estudantes de alemão pelas missas da comunidade, justamente para exercitarem o idioma e conhecerem a cultura. 

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