Com a alta da dengue na capital paulista, aumenta a espera por atendimentos em saúde

Cidade acumula mais de 220 mil casos de dengue; epidemia é constatada nos 96 distritos
Luciney Martins/O SÃO PAULO

Com vômito, diarreia e febre, Dayane Oliveira procurou a AMA Vila Barbosa, na zona Norte da capital paulista, em 12 de abril. Fez o teste rápido para dengue e o resultado foi negativo. Os sintomas persistiram e ela foi ao Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha no dia seguinte, sendo medicada para uma virose. Sem melhora significativa, procurou a UBS Vila Ramos no dia 16, quando, então, foi diagnosticada com dengue. “Fiquei cerca de cinco horas aguardando atendimento. Estar com dengue com essa espera é uma tortura”, afirmou.

O número de pessoas com dengue na capital paulista está em expansão. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), nas 17 primeiras semanas epidemiológicas deste ano, foram 220.029 casos da doença, com 105 óbitos confirmados. Neste mesmo período em 2023, foram 7.496 registros. A alta é de 2.935%. Todos os 96 distritos da cidade estão em situação de epidemia, quando há mais de 300 casos a cada 100 mil habitantes.

“O aumento nos casos de dengue está relacionado a diversos fatores, entre eles, as condições climáticas favoráveis, como o fenômeno El Niño que manteve as temperaturas elevadas no inverno de 2023, criando assim condições mais propícias para a reprodução do mosquito Aedes aegypti, aliado ao acúmulo de inservíveis em locais inadequados e a pluviosidade do período, gerando assim locais propícios para a oviposição e aumento da população [de mosquitos]. Outro ponto que podemos citar é que a suscetibilidade da população à dengue é influenciada por vários fatores, incluindo a exposição prévia ao vírus. Ou seja, indivíduos que já foram infectados por um sorotipo específico do vírus da dengue desenvolvem imunidade a esse sorotipo, mas ainda podem ser suscetíveis a outros sorotipos”, detalhou a SMS em nota à reportagem.

QUANDO É HORA DE BUSCAR ATENDIMENTO?

Igor Marinho, infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explicou ao O SÃO PAULO que o sintoma característico da dengue é a febre persistente e que o diagnóstico da doença ocorre quando também há ao menos dois destes outros sintomas: cefaleia, dor nas articulações, dor muscular, dor atrás dos olhos, dor abdominal, náuseas e manchas na pele. Diante dessas condições, é recomendável que a pessoa procure atendimento médico, e deve fazê-lo o quanto antes se já apresentar “sinais de alarme” ou “sinais de gravidade” da doença.

“São sinais de alarme: pequenos sangramentos na gengiva ou em mucosas; dor abdominal e náuseas que não melhorem com medicações simples; rebaixamento de nível de consciência ou agitação mental; e febre persistente. Já os sinais de gravidade são: sangramento em grande quantidade, incluindo nas fezes e na urina; queda na pressão arterial e perda do nível de consciência, como desmaios”, detalhou o infectologista, enfatizando que nestes casos jamais a pessoa deve se automedicar com anti-inflamatórios, como o ibuprofeno, pois estes podem piorar a função renal, ou com o ácido acetilsalicílico (AAS), que aumenta o risco de sangramento.

PARA ONDE IR?

Nem sempre quem está com sintomas da dengue e procura uma UPA (unidade de pronto atendimento), AMA ou pronto-socorro de um hospital recebe o atendimento esperado.

“Na UBS onde eu trabalho, tem chegado muita gente que diz ter ido antes a uma AMA, UPA ou PS de hospital com os sintomas da doença, aguardado de sete a oito horas para ser atendido, e que depois é dispensado sem fazer o teste de dengue. Dizem que só tem na UBS. Isso é muito estranho, pois o pronto atendimento existe justamente para quem esteja em urgência ou emergência de saúde, o que não é função do posto de saúde, onde se faz atenção primária, prevenção e proteção em saúde”, relatou à reportagem uma enfermeira, sob condição de anonimato.

Na madrugada de 17 de abril, Adriana Aparecida Leite da Silva, acompanhada do esposo, Antônio Santos da Silva, e de um dos filhos do casal, deu entrada na emergência do Hospital Geral de Taipas, na zona Noroeste, com dormência nos lábios, fraqueza muscular, febre, dor de cabeça e ânsia de vômito. Após aguardar por mais de uma hora para ser atendida, Adriana foi medicada, realizou um hemograma, no qual não foram detectadas anormalidades, e teve alta hospitalar. “Chegamos a pedir o teste de dengue, mas disseram que não faziam lá, somente em UBS”, recordou Antônio. Dias depois, o casal e uma das filhas foram diagnosticados com a doença.

Em nota à reportagem, a Secretaria Estadual da Saúde informou que o Hospital Geral de Taipas “seguiu o protocolo vigente para o atendimento de pacientes com sintomas de dengue” e explicou que diante dos sintomas clássicos da doença, “o manejo clínico de urgência prima pela estabilização do paciente, utilizando medicações analgésicas, antitérmicas e com abundante hidratação. A utilização do protocolo médico depende apenas da sintomatologia e da constatação de evidências clínicas, sem a necessidade de realização de testes rápidos, pois eles podem apresentar resultados falso-negativos nos três primeiros dias da doença, devido à janela sorológica, ou seja, o resultado negativo não descarta a dengue”. Ainda segundo a Secretaria, “o controle epidemiológico se apresenta como atividade sob a regência municipal e o exame de teste rápido não deve ser utilizado para o manejo clínico. Não há motivo técnico para que uma unidade hospitalar estadual realize este exame. Contudo, todos os casos sintomáticos são valorizados e tratados como possibilidade de dengue e são notificados conforme preconizado pelas portarias técnicas vigentes”.

AS AÇÕES DA PREFEITURA PARA O COMBATE À DENGUE

Em nota à reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde informou que tem feito ações diárias de combate ao Aedes aegypti e que aumentou de 2 mil para 12mil o número de agentes nas ruas, tendo já realizado mais de 5,3 milhões de ações como visitas e vistorias a imóveis, bloqueios de criadouros do mosquito e nebulizações.

A SMS informou ainda que oferece atendimento e assistência a pacientes com sintomas de dengue em 47 tendas pela cidade e que “as unidades de saúde municipais realizam atendimento a pacientes que apresentam sintomas da dengue, como febre alta, dores no corpo e articulações, dor atrás dos olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo, e estão abastecidas com testes rápidos para a doença, que são feitos conforme avaliação clínica”. Assegurou também que “os equipamentos municipais não recusam acolhimento e trabalham de acordo com protocolo de classificação de risco Manchester, que prioriza o atendimento médico de acordo com a condição clínica do paciente e sua gravidade” e que “todas as UBSs, AMAs, UPAs e PSs “estão devidamente preparados para prestar atendimento a casos suspeitos de dengue”. Ainda de acordo com a Secretaria, “o tempo de permanência nos equipamentos de saúde pode variar de caso a caso, a depender da demanda diária da unidade e das necessidades terapêuticas de cada paciente”.

A Secretaria informou também que crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, que moram ou estudam na capital paulista, já podem se vacinar contra a dengue, sendo que mais de 108 mil doses do imunizante foram aplicadas até o dia 25 de abril, o que representa menos de 15% do público-alvo. “Foram encaminhados comunicados a todos os equipamentos escolares da cidade, direcionado aos alunos e pais e/ou responsáveis, com informativo sobre a importância da imunização”, assegura a pasta.

“As doses estão disponíveis nas 471 Unidades Básicas de Saúde (UBSs), de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e de segunda a sábado, nas AMAs/UBSs integradas, no mesmo horário. Para receber a vacina, a criança precisa estar acompanhada de um responsável, portando documento de identidade, cartão de vacina e comprovante de residência ou escolar. A criança não pode ter sido diagnosticada com dengue nos últimos seis meses”, detalha a SMS.

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