Convento São Francisco inaugura memorial dedicado a Frei Galvão

Espaço aberto à visitação traz uma representação do quarto do primeiro santo brasileiro

No quarto, há uma imagem do Santo em tamanho real e a réplica de móveis e objetos por ele utilizados, que revelam uma vida simples e de fé
Luciney Martins/O SÃO PAULO

Quem visita o Convento e Santuário São Francisco, no centro de São Paulo, tem a chance de apreciar as características arquitetônicas do século XVII preservadas ao longo dos anos. Desde dezembro passado, a experiência passou a contar com mais uma atração: um memorial dedicado a Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, o primeiro Santo nascido no Brasil.

O espaço montado em um dos três quartos remanescentes da construção original do Convento apresenta uma réplica do quarto de um dos frades franciscanos mais populares do Brasil. No endereço, Santo Antônio de Sant’Anna Galvão viveu por 60 anos e de lá caminhava todos os dias para viver sua vocação, atender os pobres e doentes e construir o então Recolhimento da Luz, inaugurado em 2 de fevereiro de 1774.

SERVO DA IMACULADA

No local, os visitantes podem observar como era o quarto de Frei Galvão e os detalhes que revelam, de forma implícita, a sua forma de viver e sua espiritualidade.

Formado por objetos originais do Convento em estilo barroco, o espaço conta com uma imagem do Santo em tamanho real, sentado diante de uma escrivaninha à frente da imagem da Imaculada Conceição.

A cena rememora o dia 9 de novembro de 1766, data em que Frei Galvão escreveu com o próprio sangue sua consagração como filho e escravo perpétuo da Virgem Imaculada, evidenciando a devoção do Frade a Nossa Senhora e à Imaculada Conceição, uma das suas principais virtudes.

Segundo o Frei Mário Luiz Tagliari, Reitor do Convento e Santuário São Francisco, a representação é uma das mais importantes da vida do Santo, pois nela compreende-se seu entendimento de serviço à Igreja e ao Evangelho, “despojando-se de tudo para se fazer servo”, inspirando-se no testemunho da Virgem Maria.

Outro traço da simplicidade com que Frei Galvão viveu é que no quarto há apenas uma cama pequena, um genuflexório, uma mesa de cabeceira e um armário.

O processo de pesquisa para a montagem do quarto ocorreu de forma interna, tendo a consultoria do Frei Alvaci Mendes da Silva, frade franciscano e historiador.

PONTO DE PARTIDA

Frei Galvão chegou ao Convento São Francisco em julho de 1762 para a conclusão dos estudos em Filosofia e Teologia. Ali, foi também porteiro e confessor, serviços que lhe permitiam o contato direto com as pessoas. Essa proximidade fez, de acordo com o Frei Mário, com que toda a sua vida de virtudes, missão e atendimento aos pobres acontecesse no endereço.

Ainda segundo Frei Mário, o quarto é o cômodo da casa que permite o recolhimento e a análise do projeto de vida de cada pessoa. Por isso, ele acredita que no local Frei Galvão discerniu sua missão diante das necessidades da época a partir de seu encontro pessoal com Deus.

Do Convento, Frei Galvão saia todos os dias em direção ao Recolhimento da Luz, construído por ele para ser um local exclusivamente dedicado às mulheres. No percurso de pouco mais de 2km, ele abençoava e atendia os mais necessitados.

A relação do Frei com o Convento fez com que os frades responsáveis pelo lugar sentissem, há cerca de nove anos, a necessidade de construir um ambiente que fizesse memória da espiritualidade do Santo e inspirasse os visitantes à oração e ao discernimento.

“Daqui ele estava atento às necessidades das pessoas e dos encontros que tinha com o próprio Cristo. Desejamos reconstruir essa memória do primeiro Santo nascido no Brasil para mostrar a simplicidade com que ele viveu; para que as pessoas possam visitar e, a partir disso, sabendo que esse é o solo onde viveu um Santo, busquem esse caminho de santidade, no silêncio e na oração, tornando-se protagonistas do Evangelho, da caridade, do amor e da paz”, manifestou o Reitor.

VIDA DE SANTIDADE

Frei Galvão nasceu em Guaratinguetá (SP), em 1739. Filho de Antônio Galvão de França e Izabel Leite de Barros, sua infância foi marcada por um ambiente profundamente religioso.

Aos 13 anos de idade, foi enviado para estudar no Seminário da Companhia de Jesus na cidade de Belém de Cachoeira (BA); e aos 21, ingressou no noviciado da Ordem dos Frades Menores, no Rio de Janeiro, sendo ordenado sacerdote em 11 de julho de 1762.

Ao iniciar sua missão em São Paulo, Frei Galvão foi nomeado confessor do Recolhimento Santa Teresa. Em 1770, conheceu a Irmã Helena Maria do Espírito Santo e, a partir desse encontro, iniciou o processo de construção de um novo recolhimento para mulheres, inaugurado em 2 de fevereiro de 1774, e dedicado a Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência. O local foi nomeado mosteiro em 1929, sendo incorporado à Ordem da Imaculada Conceição (Concepcionistas).

Os últimos anos de Frei Galvão foram no então Recolhimento da Luz, em um cômodo no fundo da igreja, atrás do sacrário. Ele morreu em 23 de dezembro de 1822.

A fama de santidade do Frade logo se espalhou pela cidade, sobretudo, por meios das tradicionais “pílulas de Frei Galvão”.

Em 11 de maio de 2007, o Papa Bento XVI o proclamou Santo em missa realizada no Campo de Marte, em São Paulo. Sua memória litúrgica é celebrada no dia 25 de outubro.

A canonização aconteceu após o reconhecimento do milagre relacionado a Sandra Grossi de Almeida Gallafassi e seu filho Enzo: Sandra havia sofrido dois abortos espontâneos até que engravidou pela terceira vez. Por ser uma gestação de alto risco, ela decidiu tomar as “pílulas de Frei Galvão” e fez uma novena ao Frade.

Ela conseguiu seguir com a gestação até o oitavo mês, dando à luz por meio de uma cesárea; contudo, seu filho nasceu com um problema respiratório grave. Novamente, Sandra suplicou a intercessão de Frei Galvão, e tempos depois, a criança se recuperou de modo considerado pelos peritos médicos do Dicastério para as Causas dos Santos como “cientificamente inexplicável no seu conjunto, segundo os atuais conhecimentos científicos”.

VISITE O MEMORIAL DE SANTO ANTÔNIO DE SANT’ANNA GALVÃO

De segunda a sexta-feira, mediante agendamento, pelo telefone (11) 3291-2400 ou Whatsapp (11) 99546-2500. Aos fins de semana, sem necessidade de agendamento: aos sábados, das 9h às 15h; e aos domingos, das 9h às 13h.

Endereço: Largo São Francisco, 133, Centro.

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