Projeto da Associação Aliança de Misericórdia une catequese, reforço escolar e segurança alimentar com apoio da CASP

A realidade de muitas crianças da região de Taipas, na zona Norte de São Paulo, tem começado a mudar por meio de uma iniciativa simples, mas profundamente transformadora. A “Cozinha Solidária Santa Dulce dos Pobres”, da Associação Aliança de Misericórdia, nasceu da escuta atenta da comunidade e hoje atende cerca de 50 crianças, oferecendo não apenas alimentação, mas também dignidade, formação e esperança.
O projeto surgiu dentro da Capela São Marcos, pertencente à associação, que há 21 anos realiza um trabalho de evangelização e promoção humana. As crianças atendidas vêm de áreas de ocupação como o Arvão e o Sítio Botuquara, e participam da catequese da comunidade. Mas logo os catequistas, pedagogas de formação, perceberam que muitas delas tinham dificuldades básicas de leitura e escrita, o que comprometia sua formação cristã.
“As próprias catequistas nos procuraram, dizendo que antes de catequizar era preciso alfabetizar”, explica o Diácono Denilson Zulianello, responsável pela iniciativa. “As crianças vinham para a catequese sem conseguir ler os textos bíblicos. Tinham entre 7 e 10 anos e não reconheciam as letras.”
Com o apoio de voluntárias da própria comunidade, nasceu o reforço escolar no espaço da catequese. As crianças chegam por volta das 15h e permanecem até as 19h, o que fez surgir uma nova necessidade: a alimentação. “No início, as próprias catequistas levavam o lanche de casa. Fazíamos o lanchinho ali mesmo, na sala de aula”, recorda o Diácono Denilson. “Mas a demanda cresceu e vimos que era preciso algo mais estruturado.”
Foi assim que surgiu a ideia da Cozinha Solidária. Com o envolvimento da comunidade e a parceria com a Caritas Arquidiocesana de São Paulo, a cozinha começou a tomar forma. Internamente, já está pronta, com piso, azulejos, instalações elétricas e hidráulicas “Nesta semana (segunda semana de agosto) faremos a pintura e já vamos comprar os utensílios e equipamentos”, comemora.
A CASP entrou como parceira no momento em que os recursos escasseavam. “Tínhamos começado com esforço próprio, mas não tínhamos muito”, conta o Diácono. “Foi então que, por meio do Padre Walter Merlugo Júnior, Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora das Dores, apresentamos o projeto ao Diácono Márcio, da Caritas. Foi uma providência divina.”
Além da merenda para as crianças, o espaço servirá para oficinas de confeitaria e cursos de culinária para as mães, promovendo geração de renda e empreendedorismo. Já há voluntários formados em gastronomia pelo Centro Gastronômico Vila Cuore que se comprometeram a dar as aulas. “A ideia é que a cozinha seja também sustentável, com eventos como a Noite do Pastel, lanches e outras iniciativas para ajudar a manter o projeto”, diz o Diácono.
A Cozinha Solidária também reforça o vínculo entre Igreja e comunidade. Um dos frutos visíveis do trabalho é Isaac, jovem da comunidade que frequentava a catequese e hoje atua como acólito na Capela São Marcos e como menor aprendiz na própria associação. “Ele é um exemplo do que o amor concreto pode fazer. Agora sonha em fazer faculdade”, diz o Diácono.
O impacto da Cozinha Solidária, segundo ele, vai muito além da alimentação. “Estamos falando de segurança alimentar, alfabetização, geração de renda e evangelização. Estamos construindo um futuro melhor para essas crianças e suas famílias. Como Igreja, é nosso dever ser ponte entre a fé e a vida.”