Curso de atualização do clero: oportunidade de crescimento pessoal, espiritual e eclesial

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Esta semana, entre os dias 2 e 4, acontece o Curso de Aprofundamento Teológico e Pastoral do Clero Arquidiocesano. Realizado anualmente e já em sua 18ª edição, pelo segundo ano consecutivo é oferecido na modalidade on-line, em virtude dos protocolos de isolamento social para enfrentamento da pandemia de coronavírus.

Com o objetivo de responder às necessidades de reciclagem e atualização pastoral e teológica dos padres, diáconos permanentes e diáconos seminaristas que atuam no âmbito da Arquidiocese de São Paulo, a programação deste ano é diversificada e abrangente, e visa a trazer ao debate questões atuais e de interesse geral, incluindo temas vinculados à Igreja, à espiritualidade e à vida e mística do ministro ordenado.

PROGRAMAÇÃO

Nos três dias de curso, cuja abertura foi conduzida por Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, são abordados conteúdos atrelados à Igreja em si, como o futuro da atuação eclesiástica por meio das Comunidades Eclesiais Missionárias (CEMs), a sinodalidade na Igreja, as motivações para a realização da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, entre outros.

Outros tópicos relevantes também são apresentados e debatidos, como a vida cotidiana do clero – sobretudo com os desafios de se manter física e psicologicamente saudável durante a pandemia –, como desenvolver e cultivar a espiritualidade e a mística sacerdotais, com a apresentação não somente da teologia que as embasa como também das diversas vertentes de mística e espiritualidade, como a inaciana e a franciscana, além daquelas vinculadas a movimentos eclesiais, como os Focolares e a Renovação Carismática Católica. Há também a apresentação de como se vivencia a espiritualidade sacerdotal no Caminho Neocatecumenal, no Opus Dei e na Fraternidade Jesus Caritas, esta última baseada nos ensinamentos do Beato Charles de Foucauld.

Uma abordagem importante diz respeito à influência do legado dos santos, como Santa Teresa, São João da Cruz e São João Maria Vianney, na espiritualidade sacerdotal, além dos ensinamentos dos papas mais recentes, especialmente Francisco, acerca da importância do papel do padre e como a sua atuação pode transformar a realidade em que se insere. E, fechando o ciclo de exposições, uma explanação referente às fontes da espiritualidade sacerdotal, também apresentada pelo Cardeal Odilo Scherer.

COMUNIDADES ECLESIAIS MISSIONÁRIAS

No dia de abertura do curso, o primeiro tópico foi apresentado pelo Padre José Carlos Pereira, CP, e refere-se às Comunidades Eclesiais Missionárias (CEMs), conceito nascido a partir das Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para o quadriênio 2019- 2023, aprovadas na 57ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 2019.

Padre José Carlos recordou que, diante do desafio de anunciar o Evangelho a um Brasil cada vez mais urbano e cuja mentalidade não se restringe unicamente às cidades, mas se estende a todos os ambientes e lugares, inclusive nos locais rurais e periferias – fruto de um mundo que vive conectado –, a CNBB percebeu que era preciso se utilizar dessa cultura urbana, com suas características de constante e acelerada mudança, e fazer com que as comunidades não dessem por pressuposto o anúncio de Jesus Cristo, mas se revestissem de uma conversão pastoral que tivesse como premissa o paradigma missionário de forma permanente.

É nesse contexto de cultura urbana, portanto, que exige adaptações de abordagens e da forma de atuação da Igreja que, segundo o Padre José Carlos – autor de um subsídio a respeito – nasceram as CEMs – fomentadas nas casas, a partir das “igrejas domésticas” e da iniciação à vida cristã, justamente por ser o local onde se aprende a partilhar, a viver a solidariedade –, para resgatar e aplicar as propostas apresentadas pelo Documento de Aparecida, no que diz respeito ao caráter missionário do qual a Igreja deve se revestir e que ainda não foram totalmente contempladas.

“Ver, julgar e agir é o método, já conhecido por todos. É preciso, antes de tudo, conhecer a realidade para saber o que implantar. Avaliar essa realidade, pois, a partir do momento em que se a conhece, sabe-se o que serve e o que não serve. Como o Brasil é muito grande, o leque de realidades é igualmente amplo, com características muito específicas para cada uma delas. Portanto, conhecer e avaliar a realidade para poder perceber se o que vai ser implantado estará adequado”, afirmou o Sacerdote.

O objetivo do alcance das CEMs, segundo o Padre José Carlos, não se limita às pessoas que estão na base da sociedade e, em geral, são mais pobres, estão nas periferias e se sentem excluídas – como era o objetivo das Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs –, mas têm uma proposta mais abrangente, pois visa também àqueles que não vivem nas periferias, têm uma condição material melhor, e estão nos condomínios e centros urbanos, por exemplo, e precisam ser abordados de uma forma familiar, ou seja, como as famílias fazem.

“A novidade dessas comunidades [CEMs], além dos pontos já mencionados, é contemplar o alcance das pessoas em que há a dificuldade de acesso, também pelo seu fechamento. Essas novas comunidades abrangem algo que as CEBs não abrangiam, pois estão unidas pela Palavra, pela caridade, pela solidariedade, na ação missionária, com um perfil próprio. Essas comunidades vão somar com a Igreja, com a boa preparação das pessoas”, explicou.

Ele afirma ainda que, nesse sentido, “Francisco, quando propõe uma Igreja em saída, espera que ela vá atrás dos afastados e daqueles que nunca se aproximaram. Esses devem ser prioridade em nossa ação missionária”.

Padre José Carlos conclui, dizendo que o fim último da Igreja é a evangelização, algo que não se pode perder de vista, pois “é preciso cultivar uma coerência na nossa ação missionária. Precisamos de meios que sejam coerentes com os fins que queremos alcançar”.

SINODALIDADE

O segundo tema apresentado no primeiro dia do curso foi “Sinodalidade” e contou com a colaboração de Dom Pedro Cipollini, Bispo de Santo André (SP).

Segundo ele, “o conceito se baseia naquilo que Francisco disse: trata-se de um caminho, uma grande assembleia, cuja intenção é fazer com que a sinodalidade seja, na Igreja, um processo comum de todos os dias, ao qual nos acostumamos. Isso, porém, tem consequências, que exigem mudanças”.

O Prelado dá continuidade e afirma que, “se quisermos uma Igreja sinodal, precisaremos trabalhar, no sentido de que mudança não significa abandonar o passado, mas fazer nascer as sementes que foram plantadas no passado de um modo novo”.

Considerado pelo Concílio Vaticano II como sacramento de comunhão – Igreja como corpo de Cristo e povo de Deus em comunhão, ou seja, Cristo encarnado como quem caminha na história –, Francisco retoma a questão da sinodalidade como tarefa de todos, no discurso dos 50 anos do Sínodo dos Bispos, em 2015. Sinodalidade, portanto, designa a vivência concreta da comunhão eclesial, que conjuga participação e autoridade.

Dom Pedro também afirma que a sinodalidade tem um objetivo: configurar mais o povo de Deus à origem da própria Igreja, que brota da Trindade. Trata-se de uma dimensão constituinte da Igreja, que não significa uniformidade, mas, sim, por meio da busca de conversão estrutural e pastoral, obter a unidade plural, para que sua missão seja eficaz.

Para que isso se concretize, enfatizou o Bispo, é preciso viver a koinonia (palavra grega que designa o que há em comum, a solidariedade, companheirismo e participação, sobretudo comunhão íntima e interligada), sem cair no democratismo, com discernimento, amadurecimento das escolhas, maturidade humana e capacidade para ler os sinais dos tempos.

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