
No dia em que solenemente é celebrada a Padroeira do Brasil, milhares de fiéis, com Terços e flores nas mãos e gratidão no coração, lotaram o Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora Aparecida, no Ipiranga, no domingo, 12.
Aproximadamente 45 mil pessoas, de todas as partes da cidade, foram ao templo histórico na zona Sul de São Paulo para agradecer por milagres alcançados, renovar promessas e reafirmar o amor à Mãe Aparecida, também participando das dez missas celebradas ao longo do dia.
Entre os fiéis estava José Pereira de Brito, 58, natural de Feira de Santana (BA). Sua devoção à Padroeira do Brasil surgiu ainda na juventude. “Nossa Senhora representa muito na minha vida e na da minha família. É muito bom pedir a proteção dela, consagrar os filhos, entregar a vida nas mãos dela”.
Ele conta que a fé o sustenta para conviver com a saudade de seus dois filhos que ficaram na Bahia quando veio para São Paulo em busca de trabalho: “Nossa Senhora Aparecida é quem me dá força para continuar. E, sob sua intercessão, estou trabalhando”.

FESTA DA PADROEIRA
Com o tema “Com Maria, somos peregrinos de esperança”, a festividade deste ano teve um significado ainda mais especial.
“A festa de hoje está inserida no Ano Santo Jubilar, que é um momento de graças especiais que Deus derrama sobre nós”, explicou à reportagem do O SÃO PAULO o Padre Zacarias José de Carvalho Paiva, Pároco e Reitor do Santuário.
Ele detalhou que durante a novena preparatória, as reflexões foram inspiradas na bula do Papa Francisco para este Jubileu: “A partir dela, a cada noite um grupo pastoral pôde refletir conosco e realizar um gesto concreto, com a entrega de alimentos para compor cestas básicas destinadas às 300 famílias assistidas pela comunidade”.
Padre Zacarias assegurou que “o número de fiéis cresce a cada ano”. A organização da procissão das 17h desta vez ficou a cargo dos movimentos marianos — Legião de Maria, Terço dos Homens e Terço das Mulheres. “Eles preparam tudo com muito carinho: as reflexões, o andor, o carro com a imagem”, descreveu.
Na missa das 18h, ocorreu a consagração dos fiéis a Nossa Senhora, “uma celebração muito bonita, um momento de renovação espiritual”.

FÉ E DEVOÇÃO
Ao entrarem no Santuário, localizado na Rua Labatut, 781, no Ipiranga, os devotos percorrem um itinerário de fé registrado em pinturas em azulejos, nas paredes laterais, que contam toda a história do templo.
No presbitério, há um globo terrestre com uma abertura frontal no formato do mapa do Brasil, onde está entronizada a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Nas laterais, foram esculpidas as bandeiras do Brasil e do Vaticano. Junto à igreja, está a gruta de Nossa Senhora de Lourdes.
Outro espaço de grande significado é a Sala dos Milagres, onde os fiéis deixam seus objetos (ex-votos) como forma de agradecimento. “É uma das características dos santuários: oferecer um lugar onde os devotos possam expressar sua fé e gratidão pelos milagres alcançados”, explicou o Reitor.
Ao longo do dia, os romeiros encontraram, ainda, barracas com itens religiosos, o tradicional macarrão à milanesa e o bolo da Padroeira. Também puderam conhecer a equipe da rádio 9 de Julho, que esteve no Santuário. Houve a transmissão ao vivo de algumas das missas pela emissora.

SEMPRE NA VIDA DOS CRISTÃOS
A missa das 10h foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, tendo entre os concelebrantes o Padre Zacarias Paiva.
Na homilia, Dom Odilo, a partir do Evangelho do dia (cf. Jo 2,1-11), destacou que Maria “está presente na vida dos discípulos, na vida da Igreja e de cada um de nós”. Também ressaltou que a devoção mariana ultrapassa os limites dos templos e se faz viva na experiência cotidiana de fé: “Ela está presente não só nos santuários, mas nas nossas casas, na nossa devoção pessoal.”
Dom Odilo lembrou que Nossa Senhora não é uma figura distante, mas uma presença próxima, familiar e constante na vida dos cristãos. “Maria, com seus muitos títulos, é sempre a mesma Mãe de Jesus e nossa Mãe.”

MÃE DOS MISSIONÁRIOS
O Purpurado recordou que outubro é o mês missionário e que Maria, mãe dos missionários, inspira a Igreja a continuar na missão evangelizadora.
“A Igreja é missionária em toda parte, mas há lugares que precisam de mais apoio, e o trabalho missionário custa”, explicou.
Dom Odilo convidou os fiéis a colaborarem com as missões “pela oração e pelo gesto concreto”. E completou: “Prepare sua oferta. Ensine as crianças e os jovens a participar, coloque um dinheiro na mão deles para levar à missa. Assim, educamos para a solidariedade e sustentamos o trabalho dos missionários”.

GRAÇAS ALCANÇADAS
Entre os testemunhos de fé, a família Braga (foto acima), da zona Sul, peregrinou ao Santuário para agradecer a cura de Eduardo Braga Sena, 14, de um câncer no pescoço e na garganta.
“Os médicos já o tinham desenganado. Ele não andava, não falava, não comia”, recordou a madrinha do garoto, Aline Pacheco Braga, 26. “Eu pedi a Nossa Senhora Aparecida que ele fosse curado sob sua intercessão, e hoje ele está curado.”
Em agradecimento, a família agora participa todos os anos da missa no Santuário no dia da Padroeira. “A Mãe Aparecida me curou”, disse Eduardo, emocionado.

VOLUNTÁRIOS EM AÇÃO
A Festa de Nossa Senhora Aparecida reúne em torno de 350 voluntários, que se dedicam em bem acolher e servir os fiéis no Santuário. Entre eles, Mônica Cury Ventura, 65, voluntária há 23 anos: “É o lugar em que eu me abasteço para a vida. Cada festa é um momento para testemunhar a fé, milagres e bênçãos”.
Já André Rodrigues Veras, 42, servidor público federal, vê o voluntariado como forma de atuar na comunidade e promover a Palavra de Deus. “É muito gratificante acolher os fiéis que vêm aqui e ajudar em todas as ações das pastorais. Sou devoto de Nossa Senhora e recebo graças todos os dias. É uma alegria servir à comunidade por meio deste pequeno voluntariado”, contou.
Elaine Andrade Santos Muniz, 28, participou pela primeira vez como voluntária: “Honrar Nossa Senhora é acolher Maria nas pessoas que vêm até as missas aqui no Santuário”.

83 ANOS DE HISTÓRIA
A história da Paróquia Nossa Senhora Aparecida está intimamente ligada ao IV Congresso Eucarístico Nacional, realizado em 1942, quando o então Arcebispo Metropolitano, Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva, escolheu Nossa Senhora Aparecida como primeira peregrina do Congresso.
A Paróquia foi criada em fevereiro de 1942 para abrigar a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Para a construção do templo, membros da comunidade e moradores do bairro estiveram empenhados em campanhas como a do tijolo e a do livro, além de rifas e festas para angariar recursos financeiros.
A primeira missa, quando o prédio ainda estava sendo construído, aconteceu em outubro de 1949. Em 1955, deu-se a inauguração da nave central do templo. A obra foi concluída somente em 1991.
Em outubro de 2017, por ocasião das celebrações dos 300 anos do encontro da imagem da Padroeira do Brasil e dos 75 anos de fundação da Paróquia, o Cardeal Odilo Pedro Scherer elevou a igreja à dignidade de santuário arquidiocesano.