Diante das dificuldades, muitas oportunidades para empreender

Em 2020, foram formalizados 2,6 milhões de microempreendedores individuais, 8,4% a mais que no ano anterior. O SÃO PAULO apresenta histórias de pequenos negócios criados ou impulsionados em meio à pandemia

Rosineide da Silva – Arquivo pessoal

A moradora do Recanto dos Humildes, na região de Perus, zona Noroeste da cidade de São Paulo, Rosineide da Silva, 32, é proprietária de uma das 106 mil microempresas abertas em 2020 no ramo de preparação de refeições para consumo em casa.

Desempregada, para contribuir com o sustento da família em meio à pandemia, ela começou a vender cuscuz recheado, conhecido também como cuscuz gourmet. A ideia ela trouxe do município de Paranatama (PE), cidade de origem do marido e onde eles viveram por três anos.

“Após fazer uma pesquisa nas redes sociais e conversar com os moradores do entorno sobre o que era oferecido de alimentação no bairro, certifiquei-me de que não havia nada com foco no cuscuz. Então, resolvi investir”, recorda Rosineide.

A microempreendedora conta que aprendeu as receitas no Nordeste brasileiro, onde as pessoas têm o hábito de comer cuscuz com ovo, frango e carne seca. Em seu negócio, porém, o cardápio é mais variado. “Fui me arriscando com diversos sabores como, por exemplo, cuscuz de nutella e baião de dois que tirei a ideia do próprio prato, feito com arroz e feijão de corda, mas deixando somente as misturas e o queijo coalho”, detalha Rosineide. “Tem, também, cuscuz de galinha caipira e banana da terra. Fui combinando e testando sabores e assim incrementando o cardápio”.

Os primeiros clientes foram os próprios moradores da região de Perus. Mas visando ampliar seu negócio e conquistar novos, Rosineide decidiu se cadastrar em um aplicativo de delivery de comida. Para isso, precisava de um CNPJ. Assim, optou pela categoria do MEI – modalidade de empresário individual com processo simplificado para abertura de empresas e regime especial de tributação.

“Eu mesma me formalizei, em março de 2020, pelo computador do meu irmão. Fiz todos os processos [on-line] e deu certo. Hoje, atendemos regiões vizinhas, como Laranjeiras, Jaraguá, Taipas, Morro doce, Vila Rosina e Sol Nascente”, lista.

A microempreendedora conta com o auxílio do marido e de outras duas pessoas que fazem as entregas e as compras, dentre outras demandas.

Rosineide planeja a ampliação do negócio: “Sou uma mulher simples, de fé e cheia de sonhos. Um deles é ter um cantinho para que eu possa atender meus clientes, com decoração e música ambiente nordestina. Estilo cordel. Um ambiente familiar”.

Prestação de serviços

Thuane Santana – Arquivo pessoal

No Brasil, a prestação de serviços representa 46,4% das atividades econômicas de empresas, segundo dados do Mapa de Empresas do Ministério da Economia.

Há oito anos, a influenciadora e consultora digital Thuane Santana, 26, moradora do Rio Bonito, região metropolitana do Rio de Janeiro, presta serviços no meio virtual. No entanto, foi durante a pandemia que ela se tornou MEI, registrando seu negócio, que foi iniciado como agência de publicidade e marketing e hoje é uma escola de criadores de conteúdo.

“Com a pandemia, comecei a perceber cada vez mais que diversas pessoas, até mesmo empreendedores, precisavam de ajuda para criar conteúdo na internet”, conta Thuane. “Então, transformei totalmente a agência que se tornou uma escola, onde atendo tanto influenciadores quanto empreendedores. O objetivo é auxiliar para que eles consigam vender e crescer mais na internet”.

A influenciadora conta que apesar das situações difíceis impostas pela atual pandemia, o período a fez parar e olhar para seu negócio. “Antes, eu não tinha tempo. Com a pandemia, consegui me organizar e me planejar mais. E, assim, pensar no principal que era registrar a minha empresa”.

Para continuar tendo lucro e alavancar o negócio, Thuane destaca que desde 2020 começou a fazer mais lives e mentorias em grupo. Também passou a oferecer um clube de assinaturas e focar na atualização do site.

Thuane ainda comenta que com a formalização e mudança de estratégia de sua empresa, teve novos desafios. “Até alguns meses atrás, o maior deles foi conseguir atingir o público certo. Fiz diversos cursos e consegui resolver essa situação. Agora, estou atraindo melhor meu público pagante”

Assistência técnica delivery

Hugo Ikeda – Arquivo pessoal

Quem também formalizou seu negócio como MEI foi o técnico de tecnologias da informação, Hugo Ikeda, 27. Morador do bairro da Liberdade, no centro de São Paulo, ele tem, desde dezembro de 2019, uma empresa de assistência técnica para computadores, notebooks, celulares e videogames.

O empreendedor, que mora com dois de seus três filhos, somente conseguiu formalizar o negócio em setembro de 2020. “Atrasou justamente por causa da pandemia. Vivi um período de indisponibilidade de tempo e espaço. Não tinha com quem deixar as crianças e não podia sair pelo risco de contaminação”, conta Ikeda. “Além disso, houve períodos em que os órgãos responsáveis estavam inoperantes. Minha saída foi fazer o registro on-line”.

Ikeda explica que além de ofertar assistência indo até o cliente, ele atende remotamente, o que se tornou um diferencial em meio ao isolamento social. “Problemas que antes os clientes tinham que levar seu equipamento para uma assistência [física], hoje podem confortavelmente esperar a solução em seus lares”.

“Além de resolver o problema técnico, tenho como maior missão fazer o melhor atendimento, de modo que eu o reconheça [cliente] como ele é, um ser vivo e importante”, afirma o técnico, ao comentar sobre os diferenciais de seu trabalho. 

Para o empreendedor, a pandemia não contribuiu diretamente para o seu desenvolvimento, mas foi o obstáculo “não necessário” que ele teve que lidar.  “Tive que lutar e insistir. A pandemia, de certo modo, me pôs à prova”, avalia. “Hoje, além de ser MEI, estou empregado graças à experiência que obtive durante a crise. A minha empresa continua aberta e não tenho interesse em fechá-la. Sigo atendendo clientes por indicação e aqueles que eu já tinha conquistado”.

Dicas do Sebrae para empreender de forma segura

SEBRAE

1 – Escolha o mercado, segmento e nicho de mercado em que deseja atuar – Antes de definir seu nicho, você precisa saber o mercado e o segmento em que vai atuar. Especifique cada vez mais a sua área de atuação, por meio de pesquisas de mercado, de cliente oculto e de consultas aos clientes.

2 – Identifique sua aptidão – Trabalhe com assuntos sobre os quais você entenda mais que o resto das pessoas. Isso fará você se destacar. Além disso, você terá muito mais autoridade para tomar decisões e para identificar do que seu público precisa, transmitindo a confiança necessária na hora de prospectar e fidelizar um cliente.

3. Encontre um problema a ser solucionado – Identifique a necessidade de um público específico para o qual poucas ou nenhuma empresa olhou ainda. A partir daí, você deve pensar na solução que poderia apresentar por meio de um produto ou serviço.

4. Avalie se sua ideia é economicamente viável – Para isso, você deve observar duas coisas muito importantes: a demanda e a concorrência. Em geral, essas duas grandezas são proporcionais, ou seja, normalmente, quanto maior a demanda, maior a concorrência.

5. Faça uma análise da concorrência – Por fim, depois de avaliar todos os pontos anteriores, é hora de olhar para quem já está no mercado e fazer uma análise da concorrência direta e indireta. Para saber quem são seus concorrentes não olhe, somente, para quem oferece os mesmos produtos ou serviços que você, mas, também, para aquelas empresas que disputam o mesmo público que você quer atingir, porém, com opções diferentes de produtos e serviços.

Incentivo ao empreendedorismo

Registrar e manter aberta uma empresa não é tarefa fácil, ainda mais em tempos de pandemia. Este, porém, é o caminho que muitos brasileiros têm se arriscado a percorrer, sobretudo de 2020 para cá, tentando fugir da crise econômica do país, intensificada com a chegada da COVID-19.

O alto índice de desemprego no Brasil – 14,4 milhões de desempregados segundo dados do IBGE – somado a algumas medidas de desburocratização e apoio ao empreendedor, adotadas pelo Governo Federal, tem levado à abertura de novos negócios.

Entre as medidas do Governo Federal destacam-se as novas regras que simplificam a abertura de empresas no país aprovadas pelo Comitê para Gestão da Rede Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (CGSIM) e que seguem os princípios da Lei de Liberdade Econômica.

Em vigor desde setembro passado, essas regras trazem mais agilidade ao processo de formalização de empresas, como por exemplo, a dispensa da pesquisa prévia de viabilidade locacional para atividades realizadas exclusivamente de forma digital e a dispensa da pesquisa prévia  na hipótese do empreendedor optar por utilizar o número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) como nome empresarial, seguido da partícula identificadora do tipo societário. Ambas as decisões constam na Resolução 61 do CGSIM.

Na Resolução 59 consta que os microempreendedores individuais (MEIs) estão dispensados de atos públicos de liberação de atividades econômicas relativas à categoria. Desta forma, ao se inscrever no Portal do Empreendedor, o candidato a MEI poderá manifestar sua concordância com o conteúdo do Termo de Ciência e Responsabilidade com Efeito de Dispensa de Alvará de Licença de Funcionamento.

Outro destaque de incentivo do governo é o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) que facilita o acesso a crédito de micro e pequenas empresas. Ele foi criado em maio de 2020 e foi relançado este mês.

O que informa o Ministério da Economia no mais recente Mapa da Empresas

Ministério da Economia

– Em 2020 foram abertas no Brasil 3.359.750 empresas, um aumento de 6% em relação ao ano anterior, um recorde histórico;

– No mesmo período, foram fechadas 1.044.696 empresas. Em comparação a 2019, a queda é de 11,3%;

– Apesar da pandemia, houve um saldo positivo de 2.315.054 empresas abertas em 2020, com quase 20 milhões de negócios ativos;

– No 3º quadrimestre de 2020, foi registrado que o tempo para abertura de empresa no País é, em média, de 2 dias e 13 horas, outra marca inédita, com redução de 1 dia e 22 horas (43%) em comparação ao final de 2019;

– No ano passado houve a abertura de 2,6 milhões de MEI, representando um aumento de 8,4% em relação ao ano de 2019;

– Hoje, o MEI corresponde a 11,2 milhões de negócios ativos no país, sendo 56,7% das empresas em atividade. A categoria corresponde a 79,3% das empresas abertas no ano de 2020;

– Apenas no ano passado, foram abertas no Brasil 110 mil empresas que têm como atividade econômica o fornecimento de alimentos preparados preponderantemente para consumo domiciliar, ou seja, empresas que fornecem refeições para o consumo em casa;

– Considerando-se somente as inscrições da categoria MEI, 106 mil empresas abertas em 2020 tem por atividade a preparação de refeições, que está entre as cinco mais exploradas no período pelos microempreendedores.

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2 Comentários
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Eliane Fagundes Menezes
Eliane Fagundes Menezes
2 anos atrás

Muito bom que tenho visto e seguido a Ane Santana já bastante tempo acho que uns 4 anos e vejo cada dia mas o desemprenho dela . Fico TB admirada porque ela tem esposo , casa e uma bebê pra cuidar . E ela consegue administrar tudo no seu tempo. Parabéns Thuane Santana ❤️ nossa Ane Santana mentora
Deus te abençoe

Débora Maria Santos
Débora Maria Santos
2 anos atrás

Excelente matéria, parabéns! Embora esta pandemia trouxe muitos contratempos, tristezas e, pior ainda, ceifou vidas. Mostrar um outro lado – de pessoas que empreenderam, é, sem sombra de dúvidas, um bálsamo para informar e despertar em nós a esperança de fazermos alguma coisa para o nosso crescimento.