Dom Odilo: a sinodalidade não é uma ‘moda’, faz parte da natureza da Igreja

Durante entrevista a PodCast, entre outros temas, Cardeal Scherer falou sobre o caminho sinodal vivido pela Igreja em São Paulo e no mundo

Reprodução da internet

O Cardeal Odilo Pedro Scherer participou na noite da quinta-feira, 30 de junho, do PodCast Rhema, apresentado pelo Padre Joãozinho, SCJ e transmitido pela TV Evangelizar e pelo canal do sacerdote no Youtube.

Na conversa de pouco mais de uma hora, o Arcebispo de São Paulo compartilhou um pouco da sua história vocacional, o início de seu ministério sacerdotal e suas impressões pessoais sobre fatos relevantes da vida da Igreja dos quais foi testemunha, como o Concílio Vaticano II e os pontificados dos últimos cinco papas, incluindo o conclave que elegeu o Papa Francisco, do qual participou, em 2013.

Concílio

O Cardeal Scherer recordou que na noite de 11de outubro de 1962 quando Concílio foi inaugurado, ele era seminarista e participou uma procissão luminosa pelas ruas de Toledo (PR). “Eu tinha 12 anos e me recordo bem que era uma noite muito clara e iluminada pela lua”, relatou, acrescentando que, anos depois, tomou conhecimento que, naquela mesma noite, em Roma, São João XXIII fez o famoso “discurso da lua” da janela do Palácio Apostólico.

O Arcebispo também relatou como as informações sobre as discussões conciliares chegavam até o seminário, a introdução da reforma litúrgica e as reverberações do pós-concílio durantes os estudos de Teologia, além das influências das reflexões das conferências latino-americanas de Medellín e Puebla.

Igreja sinodal

Ao falar sobre o caminho sinodal vivido pela Igreja em âmbito universal e, desde 2017, na Arquidiocese de São Paulo, o Cardeal Scherer ressaltou que a sinodalidade não é uma “moda” ou uma novidade recente na Igreja. Ao contrário, faz parte da sua natureza. “O Papa Francisco nos trouxe esse tema para ajudar a Igreja a se repensar e se reposicionar. Isso está dentro daquela proposta de conversão e renovação da Igreja”, explicou, acrescentando que essa temática está inserida na mesma perspectiva do Vaticano II e da nova evangelização.

“A sinodalidade tem raízes no Evangelho, na Igreja primitiva… A Igreja é sínodo, é este povo que caminha juntos”, completou Dom Odilo, reforçando que o primeiro e grande sínodo é a Santíssima Trindade, da qual nasce a comunhão da própria Igreja.

O Cardeal sublinhou, ainda, que o Papa Francisco chama a Igreja a tornar-se aquilo que ela é. “Com um sínodo sobre a sinodalidade, a Igreja é chamada a voltar-se para a sua realidade, não para ser auto-referencial, mas para se voltar às raízes do Evangelho, a Jesus Cristo, à fé apostólica”.

Sínodo arquidiocesano

Perguntado sobre como a Arquidiocese de São Paulo iniciou um caminho sinodal antes da proposta do Papa, Dom Odilo explicou que a intuição de convocar um sínodo para a Igreja em São Paulo nasceu inspirada em reflexões feitas por Francisco já no início de seu pontificado. Durante as reuniões do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos, do qual o Cardeal Scherer foi membro de 2008 a 2015, o Pontífice insistia na necessidade de a Igreja ser mais sinodal. “O Papa entedia que a Igreja toda devia ser mais sinodal, na qual houvesse maior participação, comunhão, abertura à escuta e ao discernimento comum”, destacou.

A partir desse apelo e vendo a necessidade de fazer as reflexões de importantes documentos da Igreja em âmbito universal, continental e nacional chegarem, de fato, às bases da vida eclesial, Dom Odilo começou a refletir com seus bispos auxiliares e sacerdotes sobre um caminho sinodal, iniciado em 2017 e que, após ser interrompido pela pandemia, retomou as atividades este ano com a assembleia sinodal arquidiocesana.

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evangelização

O Purpurado salientou, ainda, a urgência de a Igreja intensificar a pregação do Evangelho que, muitas vezes, parece ficar restrita à homilia dominical, algo que foi ressaltado em sínodos recentes, como o sobre a Palavra de Deus (2008), que resultou na exortação apostólica Verbum Domini, do Papa Bento XVI; e o sínodo sobre a Nova Evangelização (2012), que resultou na exortação apostólica Evangelii gaudium, do Papa Francisco. Na avaliação de Dom Odilo, esses dois importantes documentos ainda não foram assimilados com profundidade.

“Precisamos criar mais formas de anunciar a Palavra de Deus, que não precisam ser pregações formais, mas momentos que ajudem a trazer a Palavra para dentro e a interpelar a vida das pessoas”.

Conclave

Por fim, o Cardeal Scherer compartilhou sua experiência da participação do Conclave que elegeu o Papa Francisco. O Arcebispo frisou que as especulações midiáticas não correspondem à realidade daquilo que realmente inspirou o discernimento dos cardeais no processo de eleição do novo pontífice.

“A eleição do Papa Francisco trouxe aquele ar de novidade que, evidentemente, era esperado e desejado… Nas congregações Gerais dos cardeais realizadas uma semana antes do Conclave, para refletir sobre a situação da Igreja, apareceu um forte desejo de reformas e mudanças. Então, é muito claro que o perfil daquele que seria eleito estava se delineando e os cardeais foram discernindo”, explicou Dom Odilo.

Sobre o atual Pontífice, o Cardeal destacou a sua grande firmeza e serenidade diante dos desafios próprios de sua missão. “O Papa Francisco reza muito e tem um ritmo de vida muito simples e regular”, observou, salientando que a vida de oração do Pontífice se reflete em seus gestos e atitudes, especialmente o seu bom humor.

Assista à íntegra do programa Rhema com o Cardeal Odilo Scherer:

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