“Deu certo de vir hoje, ainda dando graças a Deus pelo cinquentenário da Paróquia e por todo o trabalho de renovação da igreja, que ficou bonita e digna para a celebração da fé”. Assim afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, na manhã do domingo, 6, no começo da missa que ele presidiu na Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários, Decanato Santa Maria e São José da Região Belém.
A Paróquia completou 50 anos em 1º de maio, mas o Arcebispo Metropolitano não pôde celebrar com a comunidade de fiéis, pois à época estava em Roma para o Conclave que elegeu o Papa Leão XIV.
A missa do último domingo teve como concelebrantes os Padres Lorenzo Nacheli, Pároco, e Benedetto Rústico, italiano, que está em visita ao Brasil com o Diácono Massimo Surace, que assistiu a missa.
NOS TRILHOS DA FÉ
Em 1932, os ferroviários que viviam na região pediram a Nossa Senhora que os protegesse da Revolução Constitucionalista e, no ano seguinte, passaram a realizar uma procissão anual, sempre em 1º de maio, em ação de graças pelo Dia do Trabalhador, e pelo Dia do Ferroviário, comemorado em 30 de abril. Em 1934, eles instalaram um altar na sala das máquinas, onde foi colocada uma das primeiras imagens fac-símiles da Padroeira do Brasil, que está na comunidade até hoje.
Em 1968, foi construída uma capela na qual passaram a ser celebradas missas. Em 1975, com o crescimento da população e diante da crescente devoção, Dom Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo, erigiu a Paróquia. No entanto, somente na década de 1990, o Padre Roberto Gonçalves, à época Pároco, conseguiu, com a ajuda da Arquidiocese e de benfeitores, a aquisição de um terreno para a construção de um novo templo na Rua Almirante Brasil, 125, concluído no ano de 1998.
EVANGELIZAR EM UM BAIRRO EM MUTAÇÃO
Padre Lorenzo afirmou que a área de abrangência da Paróquia, na parte sul do bairro da Mooca, tem passado por mudanças significativas nos últimos anos.
“Toda essa área era considerada periferia de São Paulo, mas nos últimos dez anos vem sofrendo uma transformação radical”, explicou o Pároco. “A chegada de universidades atraiu muitos estudantes do interior, que hoje ocupam apartamentos pequenos. Ao mesmo tempo, antigos galpões industriais estão sendo substituídos por grandes empreendimentos residenciais. No momento são sete novos condomínios sendo construídos nesta região”, detalhou.
Diante desse cenário, a comunidade paroquial tem buscado se adaptar pastoralmente: “A estrutura da Paróquia já se mostra pequena diante da realidade atual. Apesar disso, a comunidade continua ativa em ações pastorais e sociais, especialmente por meio da parceria com o Arsenal da Esperança”, disse Padre Lorenzo.
As atividades pastorais e sociais estão organizadas em conjunto com a Paróquia Nossa Senhora de Casaluce, o Arsenal da Esperança e a própria Paróquia Nossa Senhora Aparecida, formando uma rede de evangelização e serviço à população.
Solange Domingues, secretária paroquial, destacou que a dinâmica pastoral vem sendo retomada de forma gradual após a pandemia: “Temos retornado com as atividades pastorais. Estamos com 50 crianças e adultos na catequese e reativamos os trabalhos que fortalecem o vínculo com os fiéis e com a vida paroquial”.
Durante a fase mais intensa da pandemia também houve a reforma do templo. “Aproveitamos para deixar o espaço celebrativo mais bonito e acolhedor”, comentou Padre Lorenzo.
ENVIADOS EM MISSÃO
Na homilia, Dom Odilo destacou a centralidade da Palavra de Deus e da Eucaristia como alimento para a fé e força para a missão cristã. Comentando o Evangelho do 14º Domingo do Tempo Comum, sobre o envio dos 72 discípulos em missão, afirmou: “O Reino de Deus está próximo. Esse anúncio revela que a presença de Deus já se manifesta no mundo por meio de Jesus Cristo e da vida daqueles que o seguem”.
O Cardeal também reforçou que o Reino de Deus não é uma promessa distante ou apenas espiritual. “O mundo não pertence ao mal, mas continua sendo de Deus. Embora existam forças contrárias – como a injustiça, a violência e a opressão –, é por meio do Evangelho que se torna possível transformar o mundo em sinal do Reino: um lugar de justiça, amor, paz e respeito. Jesus veio mostrar que é possível viver diferente, de forma reconciliada e fraterna”, disse.
Dom Odilo enfatizou que a Igreja continua essa missão ao longo dos séculos. “Jesus enviou os apóstolos até os confins da terra, e a Igreja continua enviando missionários”, destacou.
O Purpurado citou como exemplo a missão realizada por seminaristas da Arquidiocese de São Paulo, que todos os anos, no mês de julho, saem para viver experiências evangelizadoras em diferentes realidades: paróquias, hospitais, prisões e junto aos mais pobres.
A missão da Igreja, explicou o Arcebispo, se realiza em dois pilares: o anúncio e o testemunho. “O anúncio se dá pela proclamação da Palavra de Deus, pela evangelização e celebração dos sacramentos; o testemunho, por sua vez, se concretiza nas obras de caridade, no serviço ao próximo e na construção de um mundo mais justo, conforme os valores do Evangelho. Cada fiel, ao viver sua fé, torna-se sinal de que o Reino de Deus chegou”, afirmou.
PEREGRINOS DE ESPERANÇA
Por fim, Dom Odilo lembrou o tema deste Ano Jubilar – “Peregrinos de Esperança” – e incentivou a comunidade a renovar a fé e não se esquecer das promessas de Deus. “Este jubileu é tempo de reavivar a chama da esperança e caminhar com confiança rumo à plenitude que nos espera no céu”, concluiu.
Ao final da celebração, o Cardeal Scherer cumprimentou a comunidade pela festa jubilar e pela revitalização da igreja, destacando a beleza do templo como motivo de alegria e orgulho para os fiéis. Ele também incentivou a todos a olharem para o futuro com esperança: “Vocês estão escrevendo as primeiras páginas dos próximos 50 anos. Que sejam anos proveitosos e bem construtivos”.
Aparecida Pignatari, 81, que acompanha a trajetória da comunidade paroquial desde os primeiros anos, falou à reportagem sobre a emoção de participar da celebração do cinquentenário da Paróquia. “Lembro-me do início humilde, em uma pequena capela, e hoje temos esse espaço bonito que nos acolhe e nos faz rezar”, destacou.
