‘Dom Paulo Arns’ pode ser o nome de uma das estações do Metrô de São Paulo

Moradores da zona Noroeste da capital paulista e católicos se mobilizam para que assim seja chamada a estação Vila Cardoso, em construção na futura Linha 6-Laranja

Imagem panorâmica das obras da estação Vila Cardoso (Divulgação/Linha Uni)

Com previsão de transportar cerca de 630 mil passageiros por dia, a Linha 6-Laranja do Metrô, cujas obras come­çaram em 2014, deve ser entregue até o ano de 2026, com 15 estações.

E um dos avisos para o embarque e desembarque de passageiros pode ser: “Estação Dom Paulo Arns – Jardim Ma­ristela”. Moradores da zona Noroeste da capital paulista, com o apoio da Arqui­diocese de São Paulo, têm pleiteado ao governo do estado de São Paulo que este seja o nome da estação, por ora chama­da de Vila Cardoso, um bairro que nem existe no mapa da cidade.

“O nosso bairro sempre se chamou Jardim Maristela. Não sei de onde tira­ram Vila Cardoso. Não há razão para a estação ter este nome”, disse ao O SÃO PAULO Francisco Azevedo Aguiar Fi­lho, 62, morador do Jardim Maristela.

RECONHECIMENTO À IGREJA E A DOM PAULO

Quando o projeto da Linha 6-La­ranja foi anunciado em 2008, ainda não se projetava construir o Hospital Mu­nicipal na Brasilândia. Como as obras deste ocorriam em área próxima à da construção da estação Vila Cardoso, foi preciso readequar o projeto e, para isso, mostrou-se necessário demolir al­gumas edificações do Jardim Maristela, entre as quais a Capela Nossa Senhora de Guadalupe, pertencente à Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Região Brasilândia.

Francisco Azevedo Aguiar Filho re­cordou-se de toda a mobilização dos fi­éis para que a Capela fosse preservada, mas após ser desapropriada, a demoli­ção ocorreu no ano de 2018: “A nossa comunidade fisicamente foi extinta, não conseguimos outro terreno. Tivemos que ir para uma mais próxima, a Comu­nidade Maria de Nazaré, que também é da Paróquia Nossa Senhora do Carmo”.

A origem da Capela Nossa Senho­ra de Guadalupe está relacionada a um dos legados do pastoreio de Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998: a Operação Periferia, pela qual, de 1972 a 1978, a Arquidiocese adquiriu terrenos para a instalação de comunidades em diferen­ tes bairros, uma delas a Nossa Senhora de Guadalupe.

“Seria uma justa homenagem co­locar o nome Dom Paulo Arns nesta estação. A maior parte dos moradores aprova esta proposta, até pelo fato de a comunidade ter sido uma das que co­meçaram por iniciativa de Dom Paulo”, comentou Aguiar Filho.

COM O APOIO DA ARQUIDIOCESE

Desde que se tornou público que o nome da estação será, a princípio, Vila Cardoso, o Fórum Pró-Metrô Fregue­sia-Brasilândia, coletivo oriundo do “Fórum de Lutas”, iniciado na década de 1990 pelo Cônego Noé Rodrigues (falecido em 2012), pelo Diácono Bene­dito Camargo, o professor João Ferreira Mota e outras lideranças locais, tem se mobilizado pela mudança do nome.

“Na verdade, não estamos pedindo que se renomeie a estação, mas que cor­rijam o grave erro de chamá-la de Vila Cardoso, pois este bairro não existe na cidade de São Paulo. O que queremos, portanto, é uma correção na denomina­ção para ‘Dom Paulo Arns – Jardim Ma­ristela’, para que se reconheça o direito do bairro de ter seu nome usado corre­tamente e para que se faça memória do trabalho de Dom Paulo em nossa região, especialmente no Jardim Maristela, no qual ele construiu a Comunidade Nos­sa Senhora de Guadalupe”, enfatizou à reportagem Leandro Silva, membro do Pró-Metrô Freguesia-Brasilândia.

Silva também explicou que se a mu­dança do nome ocorrer antes da inau­guração da estação, isso não acarretará custos aos cofres públicos: “Fazer a alte­ração agora evitará que se gaste milhões de reais depois. Temos como o exemplo o caso da estação Liberdade-Japão, cuja mudança de nome custou mais de R$ 900 mil, pois foi necessário trocar toda a sinalização do sistema dos trens e do Metrô”.

Após tomarem ciência de todo o his­tórico referente à estação Vila Cardoso, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arce­bispo de São Paulo, e Dom Carlos Silva, OFMCap., Bispo Auxiliar da Arquidio­cese na Região Brasilândia, enviaram, em dezembro de 2023, um ofício ao secretário estadual de Parcerias em In­vestimentos, Rafael Benini, pedindo que a estação seja chamada de “Dom Paulo Arns – Jardim Maristela”.

“O Cardeal da Esperança sempre tra­balhou em defesa da democracia, da paz e da justiça social. Homenageá-lo com seu nome nesta estação é reconhecer a importância de seu trabalho, já eterniza­do no coração de todo o povo, e deixar registrada a sua presença naquele bairro, que assim como Dom Paulo se doou, a comunidade fez o mesmo ao entregar sua igreja para a construção do metrô, cuja linha irá beneficiar mais de 630 mil pessoas por dia”, consta em um dos tre­chos do documento.

Fachada da Comunidade Guadalupe, demolida para as obras da estação do Metrô e do hospital municipal (Arquivo Pessoal)

‘AINDA ESTÁ EM ANÁLISE’

A reportagem do O SÃO PAULO questionou a Secretaria de Parcerias em Investimentos sobre a previsão de res­posta ao pedido de mudança do nome da estação. Por e-mail, a assessoria de imprensa da pasta limitou-se a informar que: “A solicitação de mudança de nome da estação ainda está em análise”.

Não houve resposta da Secretaria aos questionamentos sobre qual critério será adotado para a escolha do nome; e qual a perspectiva para o início de fun­cionamento da Linha 6-Laranja e da re­ferida estação.

No começo deste mês, a tuneladora norte, conhecida como tatuzão, chegou à estação Itaberaba-Hospital Vila Pente­ado. A próxima será a estação Vila Car­doso, na qual mais de 24% das obras já foram concluídas, conforme consta no portal da Linha Universidade Partici­pações S.A, a Linha Uni, concessioná­ria responsável pela operação da Linha 6-Laranja

HISTÓRICO DA LINHA 6-LARANJA

Desde a década de 1990, o “Fórum de Lutas”, formado por lideranças locais, entre as quais católicos, pleiteia que o Metrô chegue à zona Noroeste. Ao longo dos anos, o grupo estru­turou o Fórum Pró-Metrô Fregue­sia-Brasilândia, para melhor arti­cular esta proposta e levá-la ao conhecimento do poder público.

Em 25 de março 2008, o então governador José Serra anun­ciou oficialmente o projeto de construção da Linha 6-Laranja, com prazo de entrega para o ano de 2012. Entretanto, a assi­natura do contrato da Parceria Público-Privada (PPP) com a concessionária Move São Paulo ocorreu somente em 18 de de­zembro de 2013, pelo então go­vernador Geraldo Alckmin.

Em 4 de julho de 2014, houve um ato simbólico do começo das obras no local próximo à futura estação Freguesia do Ó. Em setembro de 2016, as obras foram paralisadas após a Move São Paulo desistir do contrato. A retomada se deu apenas em ou­tubro de 2020, já sob a respon­sabilidade da concessionária “Linha Universidade Participa­ções S.A.”, a Linha Uni, liderada pelo grupo espanhol Acciona.

A Linha 6 deve entrar em ope­ração no ano de 2026, tendo 15 estações: Brasilândia, Vila Car­doso [para a qual há a proposta que seja renomeada para ‘Dom Paulo Arns – Jardim Maristela’], Itaberaba – Hospital Vila Pente­ado, João Paulo I, Freguesia do Ó, Santa Marina, Água Branca, Pompéia, Perdizes, Cardoso de Almeida, Angélica – Pacaembu, Higienópolis – Mackenzie, 14 Bis, Bela Vista e São Joaquim. Também terá interligação com as linhas 7-Rubi e 8-Diamante da CPTM; e com a Linha 4-Ama­rela do Metrô.

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