Muitas pessoas têm compartilhado como o período de isolamento ajuda a modificar rotinas preestabelecidas e propicia aprendizados com os familiares, bem como o crescimento da fé e a vivência de momentos de espiritualidade em família ou mesmo em relação a atividades simples do dia a dia, como a limpeza da casa.
União e fé!
Andréia Ferreira, 34, conta que os momentos de oração em família surgiram como uma forma de reunir amigos distantes e até mesmo os próprios irmãos. “Começamos a rezar e fazer lives junto com os familiares. Na minha família, temos o hábito de nos reunir para tocar violão e cantar, mas, com a pandemia, isso ficou mais difícil. Então, em vez de cantar outros tipos de música, decidimos fazer uma live com cantos católicos, e foi muito bom, pois conseguimos unir a família e amigos para rezar”, afirmou.
Mãe de dois meninos, Andréia explicou à reportagem que são momentos muito importantes para todos, idosos e crianças, pois proporcionam a esperança e o conforto de que tudo irá passar.
“É uma forma de aprofundar a fé e nos mantermos unidos”, completou. Além disso, os dois filhos da Andréia, com 10 e 5 anos, entraram em contato com a oração de forma mais intensa e aprenderam, com a mãe, a recorrer à proteção divina em momentos de dificuldade.
“No dia em que o ciclone passou por aqui [o ciclone bomba, que atingiu também a cidade de Ubiratã (PR), no fim do mês de junho], comecei a rezar e eles logo me acompanharam”, contou Andréia.
Solidariedade e partilha
A experiência de Fernanda Etlinger, 40, mãe de Leila, 9, e Lucas, 4, é uma realidade que aconteceu com muitas famílias e demonstra solidariedade e bom senso. Maria Duzolina, conhecida como Naná, começou a trabalhar com a família em 2011 e retornou em 2015, quando o segundo filho do casal nasceu. Desde 2018, porém, presta um serviço de organização e limpeza da casa duas vezes por semana e babá das crianças em algumas horas do dia.
Assim que os primeiros casos de COVID-19 começaram a ser divulgados no Brasil, Fernanda disse que ficou em dúvida, mas, a partir do dia 16 de março, a família decidiu ficar em casa, antes mesmo do anúncio oficial dos governos.
“Meu marido é gerente de projetos na Arcos Dourados e eu sou empreendedora, tenho uma startup de busca e recomendação de escolas. No mesmo dia em que decidimos ficar em casa, avisei à Maria que fizesse o mesmo”, contou Fernanda, que, mesmo sabendo que ela e a família não são do grupo de risco, decidiu pelo isolamento por ter consciência de que podem ser transmissores do vírus para outras pessoas.
Mesmo tendo muitas dificuldades com a organização da casa, a família decidiu dispensar Maria e continuar pagando, ao menos parcialmente, o salário dela. A empreendedora falou também sobre momentos de dificuldade e que é preciso muita paciência e união para que todos fiquem bem durante este período.
“Eu, com minha empresa parada fazendo freelas pra conseguir dinheiro; meu marido, com redução de salário e com o medo de ser demitido; Leila, impaciente com aulas on-line; e Lucas, entediado no limite em casa”, afirmou.
Além disso, a família resolveu mudar de casa para conseguir acertar as contas. “Mesmo com todas as dificuldades, em nenhum momento pensamos em cortar o pagamento da Naná, mas tivemos que reduzir 25%, na mesma proporção de redução de salário do meu marido. Sempre fomos honestos com ela e sempre nos ajudamos. O mínimo que poderíamos fazer é ajudar como podemos, mantendo um pagamento mensal para que ela, assim como nós, suporte este momento”, continuou.
Com a ausência de Maria, Fernanda disse que a família continuou, ainda mais, uma prática que já tinha: a de compartilhar as tarefas, ou seja, todos dão sua contribuição, como for possível. “Criamos uma rotina de faxina e dividimos as tarefas: banheiros são meus, louça e aspirador do marido, pano nos móveis e chão são meus e as crianças ajudam arrumando suas coisas, limpando os vidros, que nós achamos lindos, mesmo sabendo que depois que eles limpam, ficam ainda mais sujos”, brincou Fernanda.
Para ela, se for necessário, vai continuar fazendo os trabalhos domésticos e vê este momento de pandemia como aprendizado. “Da mesma forma que me aproximei dos meus filhos, estando com eles todo dia e toda hora no mesmo lugar, também sinto o peso de ser tanta coisa ao mesmo tempo… mulher, mãe, olhar a casa, trabalhar”, continuou Fernanda.
Família em primeiro lugar
Evelyn de Lima Vaz, 26, é filha de Jorge Vaz e Fatima Nogueira de Lima Vaz e irmã de Peterson de Lima Vaz. Ela estava fazendo intercâmbio na Irlanda quando viu crescer as notícias sobre casos de COVID-19 no Brasil. Embora estivesse vivendo uma experiência fantástica naquele país, com o aprendizado da nova língua, trabalho, lugares e pessoas novas, Evelyn decidiu voltar ao Brasil em junho.
“Estava na Irlanda havia nove meses. Tive muitos problemas no começo, para me adequar à nova vida, mas, com o passar dos meses, tudo foi se tornando mais leve e se encaminhando bem. Quando me perguntam como foi, sempre digo que foi a mais fantástica experiência da minha vida e que eu sei que não acabou”, contou à reportagem do O SÃO PAULO.
A jovem voltou para São Paulo no dia 10 de junho. “Fiquei extremamente preocupada com meus pais e decidi voltar para ficar perto deles neste momento. Não me perdoaria se algo acontecesse e eu estivesse longe. Eles são o único e exclusivo motivo de eu ter voltado e aqui estamos tomando todo o cuidado, na medida do possível, pois temos que nos deslocar”, contou Evelyn.
O momento com a família está sendo, para Evelyn, um tempo de partilha e diálogo. “Converso com meus pais sobre tudo o que planejo para meu futuro e escuto o que eles têm para me dizer. Aprendi a ser mais que uma filha para eles, aprendi a ser amiga também, para que eles possam compartilhar o que sentem. Assim, a quarentena está sendo para a nossa família um tempo de parceria entre pais e filha.”