Pastoral Carcerária reforça compromisso evangelizador e de promoção de dignidade nas prisões

Fernando Arthur/O SÃO PAULO

Em processo de reestruturação na Arquidiocese de São Paulo, a Pastoral Carcerária realizou assembleia no sábado, 13, no Centro Pastoral São José, no Belenzinho, com vistas a avaliar os trabalhos que realiza e planejar novas ações, tendo como horizonte o objetivo geral de sua missão: a evangelização e a promoção da dignidade humana por meio da presença da Igreja nas prisões, na busca de um mundo sem cárceres. 

De acordo com o Padre Edilberto Alves da Costa, Coordenador Arquidiocesano da Pastoral desde dezembro de 2023, a reestruturação contempla a melhor formação dos agentes, a recomposição das equipes, com a busca de mais pessoas, a realização de visitas periódicas aos cárceres e a designação de um padre coordenador da Pastoral em cada uma das seis regiões episcopais, para que haja um trabalho unificado.

“Estamos visitando semanalmente os Centros de Detenção Provisória no Belenzinho e em Pinheiros, o Presídio Feminino em Santana – algo que foi retomado após mais de um ano de interrupção –, além das unidades prisionais em Franco da Rocha (SP) e o Presídio Romão Gomes”, detalhou o Sacerdote ao O SÃO PAULO.

Padre Edilberto comentou que a Pastoral conta atualmente com cerca de 70 agentes. “É muito pouco! E por isso estamos fazendo esta reestruturação. Já estabelecemos um calendário de formação on-line e presencial e temos nos encontrado regularmente, nos falado, transmitido material de apoio e formado equipes de visitação”, explicou.

Um panorama dos cárceres

Dois juristas falaram aos participantes da assembleia. Carlos Alberto Correa, juiz de Direito Penal, destacou que o envolvimento com as drogas é o que mais tem levado ao encarceramento no Brasil, especialmente dos mais jovens. 

Já o Desembargador Sulaiman Miguel Neto, juiz de Direito da Infância e da Juventude, lembrou que o maior número de pessoas presas nos últimos anos é consequência de um panorama de famílias desestruturadas, nas quais os mais jovensse tornam mais propensos a ser cooptados por criminosos. 

Também participaram da assembleia o Padre Marcos Alves da Silva, Coordenador estadual da Pastoral Carcerária, e a Irmã Petra Silvia Pfaller, Coordenadora Nacional desta Pastoral. Ela enfatizou a realidade da superlotação nos cárceres e as condições insalubres a que são submetidos os presos. “Há 30 anos, quando eu comecei na Pastoral, havia 500 pessoas presas na penitenciária em Goiânia. Hoje são mais de 2,5 mil e no mesmo espaço de antes”, exemplificou. 

Irmã Petra também disse que a militarização do sistema prisional com a transformação dos agentes penitenciários em policiais penais tem dificultado os serviços de assistência religiosa aos presos, mas que a Pastoral persiste em sua missão que é balizada tanto pela evangelização quanto pela promoção da dignidade humana: “Essas duas colunas precisam ser equilibradas, pois se complementam”, enfatizou, lembrando que cada agente da Pastoral deve estar aberto à escuta das pessoas encarceradas e sempre ir aos cárceres com a consciência de que o faz não por si próprio ou por seu grupo ou movimento, mas em nome da Igreja para apresentar um Deus que é amor, misericórdia e perdão.  

Por fim, a Coordenadora nacional da Pastoral falou sobre o sonho de um mundo sem cárceres, destacando que isso não é algo utópico – “Utopia é acreditar que os presídios e os cárceres ressocializam alguém” –, mas totalmente possível e que já se realiza quando a Pastoral auxilia, por exemplo, que uma gestante encarcerada tenha o direito à prisão domiciliar ou quando colabora para que um egresso do sistema prisional encontre um emprego. Irmã Petra também destacou ser fundamental que o Poder Judiciário analise recorrentemente quem são as pessoas encarceradas no Brasil, já que muitas delas já cumpriram o período de prisão ou já têm direito a progressão de pena.

‘O que vamos fazer nas prisões?’

Com esta indagação aos agentes da Pastoral, o Cardeal Odilo Pedro Scherer iniciou sua explanação na assembleia, lembrando-os a se atentarem também aos familiares daqueles que estão encarcerados, uma vez que estes não medem esforços para visitar seus entes nas prisões e não raro são estigmatizados com expressões como a “mulher de prisioneiro”, o “filho do preso”.

“O trabalho da Pastoral Carcerária é muito complexo. Mas sei de uma coisa importante que vocês fazem ao ir às prisões: fazem uma visita e Alguém dirá: ‘Estive preso e você me visitou’. Tenham a certeza de que quando vocês vão às prisões, Jesus está com vocês, o Espírito Santo está com vocês, pois estão indo em nome Dele. Portanto, façam isso com alegria e com o melhor da sua dedicação”, exortou o Arcebispo.

Dom Odilo também motivou os agentes a convidar mais pessoas à participação na Pastoral, especialmente os jovens, os quais além de melhor conhecer esta obra de misericórdia recomendada a todo cristão poderão ter contato com as realidades da vida e, assim, evitar atitudes que resultem em encarceramentos.  

O Arcebispo também comentou sobre o ideal da Pastoral Carcerária de um mundo sem cárceres: “Jesus veio para anunciar a libertação dos presos, portanto, um dia não haverá mais prisões nem presos. E isso ocorrerá quando não houver mais crimes nem violência, ou seja, quando tivermos um mundo redimido, reconciliado e respeitoso. E este é o mundo que nós sonhamos e pelo qual trabalhamos para que exista”. 

Os interessados em integrar a Pastoral Carcerária arquidiocesana devem procurar seuescritório central (Rua da Consolação, 21, 9º andar) ou se informar pelo telefone (11) 3151-4272. Saiba mais sobre a Pastoral pelo site https://carceraria.org.br/faca-parte.

(Colaborou: Fernando Arthur)

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