
Fernando Geronazzo
Entre os dias 4 e 7, em meio à tranquilidade e beleza do Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba (SP), foi realizado o Curso de Aprofundamento Teológico e Pastoral do Clero Arquidiocesano de São Paulo.
Em sua 22ª edição, o evento reuniu mais de 200 clérigos entre bispos, sacerdotes e diáconos permanentes da Arquidiocese, e contou com a presença de Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano; de Dom Carlos Lema Garcia, Dom Carlos Silva, Dom Cícero Alves de França e Dom Rogério Augusto das Neves, Bispos Auxiliares; e dos Padres Carlos Alberto Doutel e Jorge Bernardes, Vigários Episcopais e Gerais para as Regiões Santana e Ipiranga, respectivamente.
Em consonância com o Jubileu 2025 – Peregrinos de Esperança – e com as diretrizes do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade, a atividade teve como fio condutor o tema “A missão do presbítero na construção de uma Igreja sinodal: caminhando juntos em discernimento e comunhão”. A ocasião também foi uma oportunidade para recordar os 280 anos de criação da Diocese de São Paulo.
O saudoso Padre Roberto Carlos Queiroz Moura (Padre Beto), Coordenador arquidiocesano de Pastoral, falecido em junho, foi lembrado com gratidão, uma vez que muitas das propostas vivenciadas durante o Curso foram idealizadas por ele.

PROGRAMAÇÃO
Com uma ampla e diversificada programação, permeada de momentos de oração com a Liturgia das Horas e da celebração de missas, o Curso foi aberto pelo Cardeal Scherer, que saudou os participantes e apresentou as orientações gerais sobre o conteúdo a ser abordado.
O primeiro palestrante foi o Padre Luís Fernando da Silva, Secretário-executivo do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que apresentou uma palestra sobre a “Saúde dos presbíteros e fraternidade presbiteral”.
Partindo do contexto atual, o Sacerdote ressaltou a questão da grande autonomia da pessoa, o que acaba por fazer com que a fé seja relegada à esfera privada e haja uma diminuição da crítica social. Destacou tambémque hoje se vive a “sociedade do cansaço”, com a agonia do eros à exaltação de uma coletividade pornográfica e à consequente digitalização das relações. Ele lançou luzes sobre a morte da alteridade, uma vez que a polarização exacerbada acaba por converter-se no desejo de anular o outro.
Padre Luís Fernando fez também memória da caminhada recente, partindo dos aspectos vivenciados em função da pandemia de COVID-19, do sínodo arquidiocesano e a consequente reorganização das estruturas eclesiásticas, e propôs a reflexão: as medidas adotadas foram salutares ou apenas paliativas? Por fim, exortou à vivência das marcas da sinodalidade: comunhão, participação e missão.

Em seguida, foi a vez de Dom João Inácio Müller, OFM, que discorreu sobre a Teologia e a Espiritualidade do Sacerdócio Ministerial. Em sua abordagem, o Arcebispo de Campinas (SP) pediu que todos se imaginassem situações cotidianas do Mestre com quem O cercava, mesmo que não houvesse menção explícita delas nos Evangelhos.
Dom João Inácio lembrou a maneira terna com que Jesus se relacionava com seus discípulos, muitas vezes em conversas privadas, e partiu do exemplo de Maria Madalena, que, dominada por vários espíritos e “desnorteada”, encontrou seu norte em Cristo. Destacou que, na Última Ceia, o lava-pés não diz respeito somente ao exemplo do serviço e da entrega, mas traz em seu âmago o desejo que o Senhor teve de “lavar o caminho” percorrido por cada um dos apóstolos, no sentido de “endireitá-los”. Ofereceu a Judas Iscariotes o “pão da vida”, mergulhado no molho, alusão ao Seu sangue, tendo jamais deixado de amar seu traidor. Na cruz, as palavras “Tenho sede” se referem à sede que Jesus tem da humanidade, cujo pecado é simbolizado pelo vinagre por Ele sorvido. Exala, por fim, com a morte, o Espírito sobre os que circundavam a cruz e sobre toda a humanidade. Na conclusão de sua fala, o Prelado lembrou que todos foram criados para resplandecer a luz de Deus.
MÍDIAS SOCIAIS
O segundo dia do Curso trouxe à reflexão um tema atual, vinculado à Comunicação: “Mídias Sociais: possibilidades e desafios para a evangelização”, apresentado pelo Padre Arnaldo Rodrigues da Silva, Assessor de Imprensa da CNBB.
Ele abordou a presença / experiência da fé nos ambientes digitais; esclareceu aspectos vinculados às mídias sociais (todo tipo de conteúdo comunicacional produzido) e às redes sociais (experiência que se baseia em relacionamentos, com diálogos, aberta ao novo e semelhante aos ambientes físicos, capaz de se tornar um espaço de cultura, conforme o que apresenta a Gaudium et Spes, 4, que trata das profundas transformações, as quais conferem à sociedade de hoje uma cultura digital).
A Inteligência Artificial e algorítmica toma “decisões” a partir da lógica matemática, e o ser humano a partir de reflexões, que aquela não é capaz de “processar”. O que se experimenta hoje não é apenas um avanço tecnológico, mas uma mudança cultural semelhante à Revolução Industrial. As tecnologias organizam a matéria e trazem por isso uma dimensão “espiritual”. É graças a ela que a matéria pode elevar-se a algo mais sublime e torna possível ao homem elaborar significados (segundo a Caritas in veritate).

SINODALIDADE
A acolhida dada ao Documento Final do Sínodo sobre a Sinodalidade foi abordada por Dom Dirceu de Oliveira Medeiros, Bispo de Camaçari (BA).
Segundo o Prelado, a sinodalidade é o modus vivendi e operandi da Comunhão. Seu coração é o chamado do Espírito Santo à conversão e sua base é a estima recíproca, embora haja competências e responsabilidades distintas.
Por meio de uma analogia, Dom Dirceu afirmou que, no barco, todos estão juntos e, por isso, deve haver a conversão das relações (ter estima uns pelos outros). O lançar as redes simboliza a conversão dos processos (as instâncias de decisão e discernimento, avaliação e prestação de contas, com transparência e confidencialidade). E a pesca abundante representa a conversão de vínculos, sobretudo no ambiente digital, que depende dos missionários digitais para a criação de tais vínculos.
Ele afirmou ainda que o Sínodo somente será profecia para o mundo se houver esta abordagem: espaço para todos e correção para todos. Afinal, a sinodalidade não se dá por decreto.
SENTIDO DA VIDA
No penúltimo dia, houve uma noite cultural com a apresentação de Ziza Fernandes, com o tema “A arte e a beleza como estratégia de vida com sentido”. Por meio de relatos e canções, com foco na sua própria história, a cantora católica e logoterapeuta conduziu a plateia à reflexão sobre o sentido da vida, baseada nos ensinamentos de Viktor Frakl, idealizador da Logoterapia.