No dia 3 de julho de 1980, às 9h32, o Peregrino da Paz desembarcou no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP), e foi recebido pelo Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo, e por uma multidão. Cinco mil crianças de escolas da periferia cantaram a música “Jesus Cristo”, para acolher o Santo Padre.
COM O POVO
“O trajeto Aeroporto-Campo de Marte, de 17 quilômetros, durou uma hora e meia. Calcula-se em 1 milhão e meio o público que se postou no trajeto para ver o Papa, saudado pelas Irmãs da Ordem Concepcionista, em frente ao Mosteiro da Luz, com os sinos tocando à sua passagem. Todos acenavam, agitavam faixas e bandeiras, emocionados”, relatou a edição número 1.268 do jornal O SÃO PAULO, publicada no dia 5 de julho de 1980.
No Campo de Marte, o Papa celebrou uma missa campal em honra ao Beato José de Anchieta, beatificado em 22 de junho daquele ano. Segundo relatos da imprensa da época, alguns fiéis chegaram para assistir a missa 24 horas antes do início, tamanha a expectativa.
Acolhei-me, assim como acolhestes Anchieta: que minha passagem no meio de vós tenha algo daquilo que foi a passagem e é a permanência do grande apóstolo no meio de vossa gente, nas vossas aldeias de então, no vosso grande País. Seja essa a passagem da graça do Senhor”, disse São João Paulo II, na homilia, também agradecido por receber o título de cidadão paulistano.
COM AS RELIGIOSAS
O Ginásio do Ibirapuera estava lotado com cerca de 10 mil irmãs pertencentes a diversas ordens religiosas, das quais 300 eram contemplativas e deixaram sua clausura para o encontro histórico. Duas irmãs saudaram o Santo Padre representando todas as religiosas do Brasil; uma contemplativa e uma de vida apostólica. Irmã Maria Tereza de Amoroso Lima, Abadessa Beneditina, e Irmã Maria de Fátima Maron Ramos, Provincial das Ursulinas.
“É motivo de grande alegria para mim este encontro convosco. Vós sois, como religiosas, riqueza e tesouro da Igreja e, ao mesmo tempo, uma base sólida para a evangelização e um ponto de referência importante para o povo cristão, encorajado na sua fé pela forma como viveis a vossa. Em vós, saúdo cordialmente todas as religiosas do Brasil”, disse o Papa, que finalizou seu discurso cantando o Pater Noster.
COM OS TRABALHADORES
Às 18h30, o Pontífice entrou em carro aberto no Estádio do Morumbi, sendo aclamado pela multidão de mais de 150 mil pessoas, que enfrentaram o tempo chuvoso e a temperatura de 11ºC para acolher o discurso do Papa Wojtylla, que foi operário na sua terra natal. Waldemar Rossi, da Pastoral Operária, foi o escolhido para levar a mensagem ao Papa, que respondeu em um discurso emocionante.
“Trabalhadores, meus irmãos e irmãs, dou graças a Deus por me ter concedido estar com vocês. E agradeço a vocês a alegria profunda que causa este encontro a este ministro de Jesus Cristo que nos anos da juventude, na sua Polônia natal, conheceu diretamente a condição de trabalhador manual com a grandeza e a dureza, as horas de alegria e os momentos de angústia, as realizações e as frustrações que essa condição comporta.”
Já passava das 20h quando o Papa entrou no Colégio Santo Américo e foi saudado por mais de mil religiosos. No local, o Santo Padre também se encontrou com as crianças, os judeus, os ortodoxos e os líderes sindicais, além de Ana Maria do Carmo, viúva do operário Santo Dias da Silva.
O PAPA PARTIU, SEM NOS DEIXAR
Na edição de 11 de julho de 1980 do jornal O SÃO PAULO, o Cardeal Paulo Evaristo Arns relatou em artigo na seção “Encontro com o Pastor” a experiência de acolher o Papa em São Paulo e acompanhá-lo durante 22 horas.
“Durante o café da manhã do dia 4 de julho, me perguntava: ‘O que mais querem do Papa?’ – Eu lhe respondi, na presença do Cardeal Secretário de Estado: ‘O povo gostaria que o Papa ficasse’. Ele repetiu três vezes esta frase ao Secretário de Estado e abriu os braços, num imenso sorriso de anuência”, disse Dom Paulo.
O Cardeal Arns, morto em dezembro 2016, escreve no artigo que o que mais o impressionou foi a doação de São João Paulo II, que não se importava com o tempo, sobretudo quando era o povo quem o procurava. “De fato, o povo brasileiro caminhou por 12 dias ao encontro de Jesus, guiado pelas mãos de Maria e pela simpatia e a fé do Peregrino de Deus”, concluiu.
NA CASA DA MÃE APARECIDA
No dia 4 de julho de 1980, São João Paulo II chegava à cidade de Aparecida para sua primeira visita ao Santuário Nacional. Na oportunidade, o Pontífice consagrou a Basílica. A mensagem central de sua homilia foi em relação aos milhares de peregrinos que visitam a Casa da Mãe anualmente.
“O que buscavam os antigos romeiros? O que buscam os peregrinos de hoje? Aquilo mesmo que buscavam no dia, mais ou menos remoto, do Batismo: a fé, e os meios de alimentá-la. Buscam os sacramentos da Igreja, sobretudo a Reconciliação com Deus e o alimento eucarístico. E voltam revigorados e agradecidos à Senhora, Mãe de Deus e nossa.”