Eucaristia: mistério da fé e sacramento da salvação

Dom Odilo exorta que padres falem mais aos fiéis sobre a participação na missa dominical
Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Instituída por Jesus Cristo na Última Ceia, a Eucaristia perpetua o sacrifício da cruz na Igreja ao longo dos séculos. Quando este sacramento é celebrado, o acontecimento central de salvação se faz realmente presente e “realiza-se também a obra da nossa redenção”, como expressou São João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia (2003).

O santo sacrifício eucarístico torna presente não só o mistério da Paixão e Morte de Jesus, mas também o mistério da sua Ressurreição. Por estar vivo e ressuscitado é que Cristo pode se tornar “pão da vida” (Jo 6,35.48).

Tal verdade de fé era proclamada pelos padres e doutores dos primórdios da Igreja. Santo Ambrósio lembrava aos cristãos recém-batizados: “Se hoje Cristo é teu, Ele ressuscita para ti cada dia”. Já São Cirilo de Alexandria sublinhava que a participação na Eucaristia “é uma verdadeira confissão e recordação de que o Senhor morreu e voltou à vida por nós e em nosso favor”.

PRESENÇA REAL

É certo que Jesus ressuscitado está presente na Igreja de diversas maneiras: na sua Palavra, na oração da Igreja – “Onde dois ou três estão reunidos em Meu nome…” (Mt 18,20) –, nos pobres, nos doentes, nos prisioneiros, nos seus sacramentos, dos quais é o autor, e na pessoa do ministro ordenado que preside a Santa Missa. A doutrina católica, porém, ressalta que é sobretudo sob as espécies eucarísticas que o Senhor manifesta sua presença por excelência.

Pelas palavras de Jesus na Última Ceia e pela invocação do Espírito Santo na celebração da missa, o pão e o vinho se tornam verdadeiramente o Corpo e o Sangue de Cristo. O Concílio de Trento afirma que na Eucaristia estão “contidos, verdadeira, real e substancialmente, o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo”, ou seja, “Cristo completo”.

COMUNHÃO

O ápice da participação na Eucaristia é a comunhão. É o próprio Jesus que convida: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53).

O principal fruto da comunhão eucarística é a união íntima com Cristo Jesus. “De fato, o Senhor diz: ‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele’ (Jo 6,56).

Os que recebem a Eucaristia ficam mais estreitamente unidos a Cristo, que une todos os fiéis em um só corpo: a Igreja. Como afirma o apóstolo São Paulo: “O cálice da bênção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque participamos desse único pão” (1Cor 10,16-17).

O DIA DO SENHOR

O Catecismo da Igreja Católica destaca que o domingo é chamado de “o Dia do Senhor”, pois foi nele que Jesus Cristo ressuscitou e deu início à nova criação. Por essa razão, os fiéis católicos devem santificar este dia, participando da celebração eucarística, em que se reúne a comunidade cristã, e buscando se abster de trabalhos e negócios que possam impedir tal santificação.

A observância dos preceitos litúrgicos não consiste apenas em mera formalidade legal, mas está profundamente relacionada com a experiência da fé cristã. Corresponde ao 1º mandamento da Igreja – participar da missa inteira aos domingos, de outras festas de guarda e se abster de ocupações de trabalho e negócios incompatíveis com a santificação do Dia do Senhor –, que está diretamente relacionado ao 3º mandamento da Lei de Deus – Guardar domingos e festas.

“A Eucaristia do domingo fundamenta e sanciona toda a prática cristã. Por isso, os fiéis são obrigados a participar da Eucaristia nos dias de preceito, a não ser por motivos muito sérios (por exemplo, uma doença, cuidado com bebês) ou se forem dispensados pelo próprio pastor. Aqueles que deliberadamente faltam a esta obrigação cometem pecado grave”, continua o Catecismo (CIC 2181).

A instrução Euchariticum Mysterium, publicada em 1967 pela então Congregação para os Ritos (atual Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos), enfatiza que, para que os fiéis aceitem de bom grado o preceito da santificação do dia da festa e entendam a razão pela qual a Igreja os convoca todos os domingos para celebrar a Eucaristia, deve-se propor e ensinar, desde o início da formação cristã, a importância do domingo como Dia do Senhor, testemunhando a beleza de a comunidade se reunir para celebrar o grande mistério da fé.

“Convém fomentar o sentido da comunidade eclesial, que se nutre de um modo especial na celebração comunitária da missa dominical, seja em torno do bispo, sobretudo na catedral, seja na assembleia paroquial, cujo pároco faz as vezes do bispo”, diz o documento.

A instrução também reforça que, para ressaltar o valor da missa dominical, procure-se celebrá-la com solenidade, preferencialmente com cantos que incentivem a participação ativa dos fiéis na liturgia.

DESCANSO

Em relação ao descanso próprio dos dias santos, São João Paulo II, na carta apostólica Dies Domini (1998), afirma que, para não se tornar vazio nem fonte de tédio, deve gerar enriquecimento espiritual, maior liberdade, possibilidade de contemplação e comunhão fraterna”.

“Nesta perspectiva, o descanso dominical e festivo adquire uma dimensão ‘profética’, defendendo não só o primado absoluto de Deus, mas também o primado e a dignidade da pessoa sobre as exigências da vida social e econômica, e antecipando de certo modo os ‘novos céus’ e a ‘nova terra’, nos quais a libertação da escravidão das necessidades será definitiva e total. Em resumo, o Dia do Senhor, na sua forma mais autêntica, torna-se também o dia do homem”, completou o Santo Padre.

EPIFANIA DA IGREJA

“Na celebração da Eucaristia, sobretudo a Eucaristia dominical, nós temos a verdadeira epifania da Igreja, a manifestação daquilo que Ela é: Jesus reunido com os seus discípulos”, afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, na missa da Solenidade de Corpus Christi, na Praça da Sé, na quinta-feira, 8.

Na ocasião, o Arcebispo de São Paulo pediu aos padres que se empenhem para que haja boa participação dos fiéis nas missas, e que possam orientá-los sobre a importância da Eucaristia para a vida do cristão.

“Temos de falar ao povo não simplesmente sobre o dever de participar da Eucaristia dominical, mas também falar da beleza, do significado alto, bonito, da participação na missa dominical”, exortou, recomendando que se fale a respeito disso especialmente às crianças, adolescentes e demais pessoas que estão no processo de iniciação à vida cristã, por meio de uma efetiva catequese progressiva ao mistério da fé celebrado na Igreja.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários