Exposição no MAS-SP recorda a contribuição da Igreja para a arte da encadernação

‘Livro-objeto: a arta da encadernação a partir do acervo do MAS’ pode ser vista até 8 de junho na sala expositiva do Metrô Tiradentes

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Uma mostra que propõe ao visitante um novo olhar sobre os livros, indo além do conteúdo textual para destacar o livro como um objeto artístico e sensorial. Assim é a exposição “Livro-Objeto: A Arte da Encadernação a partir do acervo do MAS”, instalada na Estação Tiradentes do Metrô. 

A proposta é inspirada em artistas como Augusto de Campos e Julio Plaza, e chama a atenção para os detalhes da encadernação e do design editorial do século XIX. Também se aprofunda na história da encadernação, mostrando que sua função vai muito além da simples proteção dos livros. Por meio de manuscritos, pinturas e objetos de época, o público é convidado a refletir sobre como esses itens carregam memórias, identidades, resistências e símbolos de status social e religioso. A exposição ficará em cartaz até 8 de junho, de terça-feira a domingo, das 9h às 17h. 

Elaine Caramella, diretora-executiva do MAS-SP, ressaltou que o público irá encontrar um espaço rico em conhecimento humanista, a importância da tipografia e o incentivo à leitura. “A questão do livro-objeto, de mexer, de tatear, de ler, de ouvir aquilo que se lê, é extremamente relevante para a cultura, de modo geral”, ressaltou. “Com certeza, quem vier a essa exposição terá um incentivo a mais à leitura”, salientou. 

O LEGADO MONÁSTICO NA PRESERVAÇÃO DE LIVROS 

Desde os manuscritos criados na Idade Média até às obras impressas em papel com encadernações em couro do século XIX, a mostra destaca elementos como presilhas metálicas, capas de madeira esculpida e policromada, e outras técnicas que remetem à arte sacra e à devoção religiosa. Esses exemplares revelam também o trabalho dos monges, que atuavam como copistas e encadernadores, assegurando a preservação do conhecimento e da fé. 

Livros litúrgicos, como antifonários, missais, livros devocionais e sermões, são exemplos que evidenciam a forte ligação entre arte, religião e cultura nas sociedades que os produziram. 

Segundo Tatiana Ricci, diretora de Planejamento e Gestão do MAS-SP, as práticas modernas de restauração e conservação de livros têm origem nos métodos organizacionais dos antigos scriptoria, espaços monásticos dedicados à cópia e preservação de textos. 

“A encadernação desses volumes não era apenas funcional, carregava significados religiosos e sociais, muitas vezes feita com materiais nobres como couro, madrepérola, marfim, metais e veludo que mostravam a reverência ao sagrado e o prestígio das instituições religiosas”, explicou ao O SÃO PAULO

“Havia uma consciência prática da necessidade de manutenção e reparo, na escolha de materiais duráveis. Essas ações permitiram a sobrevivência de muitos manuscritos até os dias atuais”, complementou. 

Um dos destaques da exposição são os Sermões do Padre Antônio Vieira, escritos entre 1679 e 1748, representativos da prosa barroca em língua portuguesa, com escritos que evidenciam as tensões entre fé, poder e liberdade de expressão na época em que foram redigidos. 

AS BASES DA ENCARDENAÇÃO 

Na exposição, é possível conhecer o processo de encadernação dos livros desde a Idade Média até a evolução da prensa por Johannes Gutemberg (1440), destacando as etapas da construção do livros e os profissionais que executavam seus papéis: 

  • O escrivão, responsável por copiar à mão os textos em pergaminho, feitos em pele de animal e tinta à base de fuligem; 
  • O iluminador, responsável por decorar os textos com desenhos coloridos, e bordas ornamentadas, ajudavam a orientar a leitura, especialmente para quem não sabia ler. 
  • O impressor (tipógrafo), responsável por organizar os tipos de letras, símbolos e espaços para formar as páginas. 
  • O encadernador, responsável pela confecção das capas dos livros, podendo ser encadernados com papel de seda, couro ou madeira. 
  • Na exposição, é ressaltado que após a invenção da prensa de Gutenberg, houve a multiplicação de exemplares idênticos em pouco tempo, graças à atuação dos seguintes profissionais: 
  • O impressor (gravador), responsável por imprimir as páginas em papel ou pergaminho; 
  • O encadernador, responsável por juntar as folhas e proteger o conteúdo com a capa (que poderia ser de couro, madeira ou tecido). 

Ramon Vieira Santos, museólogo, comenta que no século XVIII, o livro era um difusor de conhecimento e que a exposição busca resgatar a memória da história da encarnação e dar o seu devido valor: “Essa exposição é um convite à reflexão de um objeto que a gente passa por ele, não dá importância, mas que já foi um objeto de poder e de desejo”. 

“É importante o resgate, o não esquecimento do livro, de onde nós viemos e de como ele reflete a contemporaneidade”, finalizou Ramon Santos. 

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