
A igreja matriz da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt, na Região Brasilândia, esteve lotada de fiéis, presbíteros e autoridades na tarde do dia 16, para missa de corpo presente de Dom Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Emérito de Blumenau (SC), que falecera no dia anterior, aos 92 anos, na casa paroquial, onde estava sob os cuidados de dois amigos Padres: Antônio Leite Barbosa Júnior, Pároco, e Armênio Nogueira, Vigário Paroquial.
Nascido em Saltinho (SP), em 19 de janeiro de 1933, Dom Angélico era conhecido como o “Dom dos Pobres”, seja na Região Brasilândia, onde foi Vigário Episcopal entre 1989 e 2000, seja nas Regiões Leste 1 (atual Região Belém) – a primeira em que atuou como Bispo Auxiliar de São Paulo, após ser ordenado em 1975 – e Leste 2 (atual Diocese de São Miguel Paulista), entre 1976 e 1989. Entre junho de 2000 e fevereiro de 2009, ele foi o primeiro Bispo da Diocese de Blumenau.
A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, que ao saudar a todos destacou a trajetória operosa de Dom Angélico como padre e bispo: “Queremos agora apresentar a sua vida a Deus com ação de graças por tudo o que ele fez e significou”.
‘Ele percebeu bem o que é essencial na vida’

Na homilia, o Cardeal Scherer recordou que o que vale na vida é ser sinceramente bom, justo, respeitoso e, principalmente, tudo aquilo que é realizado para a honra e glória de Deus, como o fez Dom Angélico.
O Arcebispo recordou a Eucaristia que celebrou em 25 de janeiro por ocasião dos 50 anos de episcopado de Dom Angélico. “Eu celebrei a missa com ele no quarto do hospital. Dom Angélico estava sereno, tranquilo e agradecido a Deus, e só dizia ‘muito obrigado’, repetidas vezes. Acho que naquele momento, ele vivia exatamente o espírito das bem-aventuranças. Ele percebeu bem o que é o essencial na vida”, comentou.
Durante a homilia, Dom Odilo passou a palavra a alguns bispos concelebrantes, entre os quais Dom Fernando José Penteado, Bispo emérito de Jacarezinho (PR) e que como Bispo Auxiliar na Arquidiocese conviveu por mais de 20 anos com Dom Angélico. O Prelado destacou que o colega de episcopado tinha profunda fé em Jesus Cristo – “essa era a razão de tudo que ele fazia”; se empenhou na luta contra as injustiças; “sempre trazia uma alegria, esperança, mas também uma verdade sobre a qual devíamos pensar”; tinha grande devoção a Nossa Senhora – “rezava o Terço todo o dia e isso marcou muito não só o coração dele, mas o de todos que com ele conviviam” – e nunca queria estar sozinho e entendia a Igreja como a grande família de Deus.
O Pastor ao lado do povo

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Cônego José Renato Ferreira, Vigário geral-adjunto da Região Brasilândia, recordou o papel de Dom Angélico para animar a ação evangelizadora nesta porção da Igreja na Arquidiocese.
“Ele sempre motivava esse modelo de uma ‘igreja rueira’, que o Papa Francisco chama de ‘Igreja em saída’. Pelos morros da Brasilândia, o seu testemunho maior como pessoa, como profeta, pastor, bispo, é o testemunho da misericórdia. Tudo o que Dom Angélico fez a todas as pessoas, de todos os níveis, de todas as ideologias políticas, foi por causa da misericórdia, desde carregar alça de caixão quando não havia gente suficiente para isso, até se envolver em favor da dignidade das pessoas em situação de vulnerabilidade.”, ressaltou o Cônego.
Dom Carlos Silva, OFMCap., Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, comentou à reportagem sobre a sensibilidade de Dom Angélico perante às realidades que encontrava, especialmente “seu respeito, amor e carinho com os mais pobres. Seu lema episcopal é ‘Deus é amor’ e se houve alguém que permaneceu fiel ao amor de Deus foi esse Bispo profeta e pastor”.
Antes do rito da encomendação do corpo, Dom Carlos Silva puxou o coro do “Muito obrigado, Dom Angélico”. Após a missa, o corpo de Dom Angélico foi transladado para Blumenau, sendo sepultado na quinta-feira, 17, na Catedral daquela Diocese.
