Há 100 anos, Liga Solidária é resposta fecunda às vulnerabilidades sociais de SP

Organização social, fundada por um grupo de senhoras católicas, atualmente beneficia cerca de 24 mil crianças, adolescentes, adultos e idosos. Missa em ação de graças pelo centenário, foi presidida pelo Cardeal Shcerer, no sábado, 12

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Gerar oportunidades às pessoas mais vulneráveis da cidade de São Paulo por meio de programas socioeducativos nos eixos da educação de qualidade, inclusão produtiva, vínculos comunitários e longevidade são os focos de atuação da Liga Solidária.

Criada há 100 anos, em 10 de março de 1923, com o nome de Liga das Senhoras Católicas de São Paulo, atualmente a Liga Solidária beneficia mais de 24 mil crianças, adolescentes, adultos e idosos.

PRIMEIRAS AÇÕES

Na década de 1920, São Paulo já caminhava para se tornar o grande centro industrial do País. Com isso, muitas mulheres ingressavam no mercado de trabalho, o que causava estranheza em parte da população naquela primeira metade do século XX.

Diante disso, uma das primeiras iniciativas da Liga das Senhoras Católicas de São Paulo foi inaugurar, em 1923, o primeiro restaurante do Brasil só para mulheres, localizado embaixo do Viaduto do Chá, na região central da capital paulista.

No local, as trabalhadoras podiam realizar suas refeições diárias. Além do restaurante, a Liga também oferecia cursos profissionalizantes e ajudava outras mulheres a conquistarem uma oportunidade no mercado de trabalho.

OLHAR PARA OS MAIS POBRES

Posteriormente, o grupo de senhoras católicas criou, a convite de Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro Arcebispo de São Paulo, uma entidade que se destinava às demandas sociais, especialmente as da região do Butantã, na zona Oeste.

No local, foi construído o Educandário Dom Duarte, que hoje concentra 65% do trabalho da Liga Solidária. Os outros projetos ocorrem nos bairros do Rio Pequeno, Jardim Rosa Maria, Cidade Monções, Sumaré, Saúde, Aricanduva, Vila Maria, Real Parque e Grajaú.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Rosalu Queiroz, presidente da Liga Solidária, falou sobre a história e o legado da instituição, fundada e gerida por mulheres.

“Isso nos traz uma responsabilidade muito grande. Se chegamos até aqui, foi graças ao empenho de cada uma que ocupou esse espaço ao longo destes 100 anos. Nós, que estamos hoje, temos o dever de continuar esse trabalho da melhor forma possível, mantendo a chama do fogo sagrado sempre acesa”, explicou a presidente.

Rosalu faz parte da Liga há 23 anos. Ela afirmou que o sentimento de ajuda ao próximo é um propósito de vida comum dos colaboradores. A presidente deseja, porém, que em alguns anos o trabalho da Liga não seja mais tão necessário, já que tem a esperança de que haverá a superação das vulnerabilidades sociais.

Mas enquanto este dia não chega, ela assegura que a Liga Solidária tem se modernizado e buscado alternativas para ampliar e qualificar seus serviços diante do atual cenário social.

“Nós temos um dever com a sociedade. Não cabe a uma organização centenária ficar parada no mesmo lugar. Criamos programas, fizemos um planejamento estratégico, crescemos para além dos convênios públicos, pois estabelecemos que cuidaremos de toda a família, principalmente neste período pós-pandemia, em que as relações ficaram tão deterioradas”, afirmou.

EIXOS DE ATUAÇÃO

A premissa de ajudar as famílias em sua missão se concretiza por meio dos programas Primeira Infância, Crianças e Adolescentes, Qualificação Profissional, Esportes, Idosos, Famílias, Empreendedorismo e Cultura.

Além disso, desde 2019, a organização tem atuado para reduzir o impacto dos resíduos em suas unidades por meio do projeto Ecoliga. Este consiste em uma central de compostagem instalada no Educandário Dom Duarte. Ao todo, 77,2 toneladas de resíduos orgânicos já foram compostadas.

Para Regiane Melo, especialista em projetos educacionais da Liga Solidária, todas essas iniciativas visam a reduzir as desigualdades sociais com ações realizadas lado a lado com a comunidade. Para ela, poder estar na Liga Solidária neste momento centenário representa a oportunidade de refletir sobre a própria colaboração para que a organização siga atendendo os inúmeros desafios que ainda existem na sociedade.

REUNIDOS PARA CELEBRAR

Os 100 anos da Liga Solidária foram comemorados no sábado, 12, com missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, no Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no Sumaré.

No início da celebração, Dom Odilo manifestou gratidão pelo trabalho de- senvolvido, descrevendo a oganização como iniciativa fecunda, muito produtiva e dinâmica para a cidade.

Na homilia, o Arcebispo Metropolitano recordou que, ao longo da história da humanidade, muitos santos dedicaram suas vidas às ações caritativas e que, com este exemplo, na época em que a cidade de São Paulo se transformava e as desigualdades se tornavam mais evidentes, as senhoras católicas não foram indiferentes a essa nova realidade, mas, “arregaçaram as mangas e sempre, com um espírito de amor ao próximo, deram testemunho concreto de fé”.

“Elas não fecharam os olhos diante do sofrimento do próximo, nem cruzaram os braços, mas iniciaram essa obra que se mostrou muito fecunda. Quantas senhoras católicas passaram pela direção e pelo voluntariado e com a garra e a per- severança das mulheres, uniram forças para encontrar as soluções necessárias”, recordou o Arcebispo.

Dom Odilo também animou os colaboradores para a continuidade da missão: “Parabéns pelo trabalho e perseverança. Vocês, hoje, são chamados a dar os primeiros passos para o segundo centenário. Que eles sejam marcados por uma grande generosidade, e, nas páginas dessa história, vocês continuem a ajudar, a socorrer e a se sensibilizar diante do sofrimento do próximo. Peço aos santos da caridade que continuem a inspirar o seu trabalho e a interceder por vocês”, concluiu o Cardeal.

Participaram da missa benfeitores e colaboradores da Liga Solidária, além de autoridades civis, como o prefeito de Ricardo Nunes.

“Eu fico tentando imaginar a quantidade de pessoas que foram beneficiadas e que tiveram suas vidas transformadas por tudo o que vocês já fizeram. O quanto é transformador e importante esse trabalho. A nossa mensagem, em nome da Prefeitura de São Paulo, é de agradecimento, agradecimento e agradecimento”, expressou o Prefeito.

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Abel Silveira Prado
Abel Silveira Prado
1 ano atrás

Parabéns!!!. Entidade maravilhosa!!!. Só tenho agradecimento.
Que bom seria se pudesse oferecer aos menores carentes de hoje, novamente, o mesmo método e disciplina socioeducativa que recebi quando fui aluno interno do Educandário Dom Duarte Leopoldo, entre os anos de 1957 a 1961 (pavilhão 22, n° 43, sob a responsabilidade do casal de educadores Dona Djalmira e Sr. Domingos).

Abel Silveira Prado
Jornalista e Publicitário