A exposição fotográfica ‘Reconstruindo São Paulo’, na Paróquia Imaculada Conceição, Região Episcopal Sé, mostra como o templo e a cidade se transformaram ao longo das décadas
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A Paróquia Imaculada Conceição, confiada aos cuidados dos Frades Capuchinhos, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 2.071, completa 110 anos de inauguração. Dentre as atividades comemorativas, uma exposição foi montada na entrada da igreja com registros históricos que retratam as mudanças que aconteceram no entorno, no bairro, no templo e no convento dos frades.
A exposição foi montada a partir de fotos históricas do acervo dos franciscanos capuchinhos e tem o intuito de conduzir a comunidade paroquial e visitantes a um resgate histórico, evidenciar a contribuição da Igreja no desenvolvimento arquitetônico e da expansão territorial da região.
História
Nos primórdios, em 1901, quando os religiosos compraram o terreno, na antiga Estrada de Santo Amaro, nos Campos do Paraíso, atual Avenida Brigadeiro Luís Antônio, não havia asfalto, prédios; era estrada de chão, rodeada por poucas casas.
No local, em 1904, a capela do convento foi inaugurada e, no ano seguinte, foi formada a primeira Fraternidade, que chegou ao convento em 1905.
A construção da igreja, anexa ao convento, começou em 1909, e sua inauguração aconteceu em 20 de agosto de 1911. A igreja foi construída no estilo românico, sob os padrões do tirol, de onde provinham os frades.
Em 1911, a imagem da Imaculada Conceição, em escultura de madeira, foi doada pela senhora Helena Luchesi. Em 1912, o templo recebeu o altar-mor e dois púlpitos da antiga Catedral da Sé de São Paulo.
Em 1939, foi elevado à categoria de matriz da Paróquia Imaculada Conceição. O antigo convento foi demolido para dar lugar a um novo.
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Transformações
‘Reconstruindo São Paulo’ retrata em fotos como o fenômeno do crescimento da região em concomitância com o início da construção dos capuchinhos. Antes despovoados, os Campos do Paraíso começaram a se tornar lugar de muitas construções, tanto que rapidamente o convento se viu no centro de um bairro povoado: com ruas asfaltadas, as casas foram dando espaço aos prédios.
Com a crescente expansão e para atender as demandas, os frades foram ampliando sua área de atuação: criaram um cinema e uma escola para as crianças do bairro. Atualmente, a escola não funciona e o local do cinema é um estacionamento; no lugar do Convento demolido encontra-se um hipermercado. A torre sineira, também, foi demolida.
A igreja era pintada somente na cor branca por dentro e por fora. A partir de 1925, recebeu transformações artísticas com Pedro e Uderico Gentili. Em 1930, as obras foram finalizadas pelos Gentili.
“Há registros de que os frades foram criticados pela transformação realizada, algumas pessoas afirmavam que a novas pinturas havia ofuscado a simplicidade franciscana da igreja”, recordou Dom José Soares Filho, OFMCap, Bispo Emérito de Carolina (MA), durante a visita da reportagem à exposição, que foi iniciada em 21 de agosto e continua até 29 de setembro.
O itinerário da exposição retrata ainda, a modificação em sua fachada que aconteceu em 1953, as mudanças nos altares laterais e a pintura no teto que foi demolida e restaurada.
Ao final do circuito percorrido pelo espectador na exposição, no lado externo, os visitantes são convidados a entrar na igreja, guiados por um áudio-guia que explica detalhes do local.
Arlindo Alvarenga, 77, é paroquiano há 20 anos. Ele pontuou a importância da exposição para os fiéis, sobretudo para as novas gerações: “O resgate histórico do itinerário apresentado na entrada do templo é uma forma de manter viva as origens da Paróquia e a sua importância nos aspectos da expansão da fé e do carisma fransciscano na cidade”.
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A igreja e a cidade
Dom José Soares falou sobre o papel da Paróquia para a cidade de São Paulo. “A presença desta igreja é muito significativa para os frades, a Arquidiocese e para a capital, em vários aspectos, destacando a influência que a igreja teve frente ao desenvolvimento arquitetônico, a contribuição para o desenvolvimento e crescimento da região, a expressão de fé e fortalecimento das ações assistenciais junto à população em situação de vulnerabilidade, desde os inícios”, disse.
O Bispo destacou ainda que, a paróquia, durante muito tempo, fez parte do programa cultural da cidade de São Paulo.
“Por conta do órgão de tubos a Paróquia já foi palco de grandes apresentações de corais, orquestras e fez parte da rota cultural do municipio”, pontuou.
Ação pastoral
A Paróquia está localizada em uma área central da cidade, lugar de passagem de muitas pessoas que vão ao templo para rezar, participar da Eucaristia e dos sacramentos.
Frei Arcanjo de Sousa Soares, Ministro Provincial, destacou que as atividades pastorais da Igreja Imaculada Conceição são elementos importantes na dinâmica paroquial e inserção dos frades junto ao povo.
“A dimensão social é forte na Paróquia, por estarmos localizados em uma região de fácil acesso as pessoas nos procuram em busca de ajuda. Aqui, apesar das aparências de região nobre, se acumulam muitas realidades de pobreza”, disse o Provincial, destacando as obras assistenciais mantidas pelos frades com ajuda dos paroquianos: distribuição de cestas básicas, cobertores, roupas, junto aos irmãos que se encontram à margem de condições humanas básicas de sobrevivência nas periferias sócio-existenciais.
Selma Mendonça Nogueira, 84, é enfermeira e paroquiana há 42 anos. Ela comentou que a Paróquia Imaculada e os frades empenham-se no serviço comunitário, sacramental e pastoral, e dedicam uma atenção especial a crianças e famílias em situação de vulnerabilidade.
“Os freis conduzem a comunidade para a vivência evangélica do serviço e da gratuidade com atenção preferencial, como nos pede à Igreja, aos pobres, em busca de ser a pedido do Papa Francisco uma comunidade em saída”.
Presença capuchinha
No Brasil, os Frades Capuchinhos estão em dez províncias e duas custodias. Em São Paulo, a província tem 87 frades de votos perpétuos e 11 frades de votos temporários. O Convento Imaculada Conceição, anexo à Paróquia Imaculada Conceiçào, é atualmente a sede Provincial da Ordem Religiosa.
“Nós, frades, aqui, dialogamos com três realidades distintas: a administração da província, os serviços do convento e as atividades paroquiais”, ressaltou o Provincial.