Hélio: o ‘plantador de árvores’ que revitalizou o Parque Linear Tiquatira

Hélio da Silva, morador da zona Leste de São Paulo, planta, a cada ano, 2 mil mudas de árvores: ‘Fico feliz em ver as pessoas cuidando e algumas se voluntariando para ajudar’

Arquivo pessoal

Com uma área de 320 mil metros quadrados, o Parque Tiquatira, na Penha, zona Leste, por muitos anos foi um local descuidado, mas com o engajamento da comunidade local se transformou no quarto maior parque linear do mundo, com mais de 40 mil árvores plantadas.

Hélio da Silva, 73, natural de Promissão (SP), chegou ao bairro da Penha há 65 anos. Ao longo dos anos, viu o amplo espaço, próximo à sua casa, ficar abandonado, degradado com muito lixo e com aumento de pessoas que se reuniam para o consumo de drogas. Ele, então, decidiu agir.

“Em 2003, comprei 200 árvores e paguei R$ 800. Quinze dias depois que as plantei, elas foram destruídas. Jogaram tudo dentro do rio [Tiquatira]. Então, pensei: ‘Não vou desistir’. Comprei mais 400 mudas. No primeiro fim de semana depois do plantio, elas ainda estavam lá, mas depois de um mês, foram novamente destruídas. Decidi, então, que iria plantar 5 mil árvores. Queria cansar as mãos das pessoas que arrancavam as mudas”, contou Hélio, que, por isso, se tornou conhecido como o “plantador de árvores”.

Em 2008, o local já estava com 5 mil árvores plantadas e tornou-se oficialmente o Parque Linear Tiquatira Engenheiro Werner Eugênio Zulauf, o primeiro linear da cidade de São Paulo, segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, criado e mantido por uma pessoa física. Os parques lineares são assim chamados porque sua extensão é significativamente maior do que sua largura.

O parque está localizado às margens do Rio Tiquatira, ao longo da Avenida Governador Carvalho Pinto, na Penha. Possui quadras esportivas, banheiros e academia de ginástica ao ar livre, pista de skate e 40.316 árvores plantadas ao longo de 21 anos.

“Em termos de biodiversidade, este é maior parque linear de São Paulo. Aqui temos 170 espécies de árvores, das quais cerca de 90% são típicas da Mata Atlântica, bioma em que está inserido o parque”, orgulha-se Hélio, enfatizando que são mais de 100 pés de pau-brasil; mais de 2,5 mil ipês; mais de mil araucárias; mais de mil jequitibás; jacarandás, várias espécies de frutíferas silvestres, entre outras, além de 45 espécies de aves.

O INVESTIMENTO E O ‘PAGAMENTO’

Hélio é executivo de empresas, pós-graduado em Propaganda e Marketing e aposentado. Ele planta, em média, 180 mudas por mês, 2 mil mudas de árvores por ano, com investimento financeiro pessoal. Cada muda custa de R$ 4,00 a R$ 8,00 e é comprada de viveiros localizados no interior de São Paulo. A manutenção inclui calcário, adubo e outros insumos necessários para o plantio.

“Já perdi a conta do valor investido. O que importa é ver esse verde, ver as árvores crescendo, crianças, jovens, adultos e idosos contemplando este pulmão verde, fazendo exercícios e zelando pelo espaço. Fico feliz em ver as pessoas cuidando e algumas se voluntariando para ajudar”, disse ao O SÃO PAULO.

“A Mata Atlântica foi destruída para aumentar as cidades. A generosidade de uma árvore é primordial para o meio ambiente. As árvores retêm 40% da chuva e depois gotejam aos poucos, inibem as enchentes, regulam a poluição e o clima, dão flores, atraem pássaros, são a maior máquina de ar-condicionado do universo. E fazem tudo isso de graça”, reforçou.

Emocionado, Hélio recordou as muitas histórias de moradores e visitantes que afirmaram ter se livrado de doenças como depressão, após uma rotina de caminhadas diárias pelo Parque. “Esse é o melhor pagamento. Aos finais de semana, chegam a passar aqui 2 mil pessoas”.

A meta de Hélio agora é chegar a 50 mil árvores plantadas. “Vou plantar até o meu último suspiro. Quero morrer, se Deus quiser, embaixo de uma árvore. Precisamos de mais espaços verdes em nossas cidades”, disse, revelando o desejo de que o estudo sobre as árvores seja incluído no currículo escolar: “Quanto antes começarmos a conscientização sobre o cuidado para com o planeta, menos serão os impactos frente a tamanha destruição por nós já causada”.

PARQUE LINEAR TIQUATIRA

Avenida Governador Carvalho Pinto, 1.403, Penha
Aberto de segunda-feira a domingo, das 8h às 18h

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