‘Hoje, Jesus quer nascer também no coração de vocês’

Exortou Dom Cícero Alves de França em missa na Unidade Feminina Chiquinha Gonzaga da Fundação Casa

Dom Cícero, Bispo Auxiliar de São Paulo, preside missa em uma das alas da unidade feminina Chiquinha Gonzaga da Fundação Casa, dia 11
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

“Paz e Bem!” Quem entrava em uma das salas da unidade feminina Chiquinha Gonzaga da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa), na zona Leste da cidade, era recepcionado com essa saudação escrita na lousa, junto a um desenho singelo, retratando o nascimento de Jesus. 

O Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo foi ali celebrado, no dia 11, para cerca de 30 adolescentes e jovens que cumprem medidas socioeducativas de internação na Ala II desta unidade. 

A missa, organizada pela Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo e pelo Programa de Assistência Religiosa (PAR) da Fundação Casa, foi presidida por Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, e concelebrada pelo Padre Miguel Cambiona, CSSp, Assessor Eclesiástico dessa Pastoral na Região. 

Dom Cícero, que pela primeira vez esteve em um centro de atendimento socioeducativo, deteve-se em um momento de conversa com as adolescentes e jovens, antes do início da celebração. 

“Qual a diferença entre um padre e um bispo?”, perguntou uma delas ao ver o Bispo e o Sacerdote paramentados para a missa. Dom Cícero mostrou-lhe as insígnias próprias do episcopado: a cruz peitoral, a mitra, o solidéu e o anel, explicando o significado de cada uma. 

A PALAVRA SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS 

Com olhares atentos aos ritos e gestuais da missa, as “meninas”, como são comumente chamadas, ouviram as leituras da missa do Dia do Natal do Senhor, que relatam o anúncio do nascimento de Jesus, e como João, no Evangelho, o narra, poeticamente. 

Dom Cícero afirmou que o Natal é a festa do nascimento da Palavra que se fez carne: “João está dizendo que essa Palavra que era só escutada, agora a gente pode vê-la, porque ela se tornou carne, se tornou presença, é palpável. E quem é esta Palavra? É Jesus. Por isso, o Natal é a festa do nascimento desta Palavra, é a festa do nascimento de Jesus.” 

O NATAL DA PAZ, DO BEM, DA FÉ E DA ESPERANÇA 

“Está escrito aqui na lousa ‘Paz e bem!’. Exatamente. O Natal é a festa da paz e o bem que precisamos transmitir. Hoje, celebrando a festa do Natal, do nascimento de Jesus, nós somos convidados, todos, a tê-Lo no coração, a deixar que Ele nasça também no nosso coração e na nossa vida”, exortou Dom Cícero. 

O sim de Maria também foi recordado pelo Bispo Auxiliar, ao mencionar o anúncio do Anjo à Virgem. 

Ele salientou que ter fé é acreditar em Deus, no Deus do impossível. “Ter fé é não desanimar, é saber que nós somos amados e amadas”. Ele lembrou às adolescentes e jovens que Deus as ama. 

“Pode ser que o mundo não nos ame, mas Ele nos ama! E quando a gente sente esse amor, é aí que há fé. Portanto, o Natal é a festa da fé, é a festa da esperança, a esperança tem um nome, Jesus Cristo. E hoje Jesus quer nascer também no coração de vocês. Ele quer nascer na vida de vocês. Só que para Ele nascer, a gente precisa deixar – mas às vezes a gente não deixa – que Ele nasça. Deixem que Jesus hoje também nasça dentro de vocês”, exortou. 

Por fim, o Prelado encorajou as jovens a sentirem o amor de Deus e se abrirem ao Cristo nascente, pois assim elas verão “como são fortes e serão mulheres de fé.” 

ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS 

Após a Comunhão, Dom Cícero dialogou novamente com as jovens sobre o nascimento de Jesus. Entre perguntas e respostas, o Bispo e as meninas reconstruíram a narrativa do nascimento do Salvador. 

“Onde Jesus nasceu?”, perguntou ele. 

“Em Belém”, respondeu uma das jovens. 

“Vocês sabem o que significa Belém?”, questionou Dom Cícero, respondendo diante dos olhares curiosos: “Belém significa ‘Casa do Pão’. Jesus nasceu em uma cidadezinha, uma periferia, era um lugar pobre. E por que Jesus nasceu em Belém? Porque Belém significa ‘Casa do Pão’, portanto, Ele é o nosso alimento. Ele já nasce para ser o alimento que nos dá força, o alimento que nos faz fortes. Portanto, Ele quer nascer de novo, de novo na nossa vida para ser nosso alimento”, comentou, referindo-se à Eucaristia que elas tinham acabado de receber. 

Dom Cícero também explicou sobre o local onde Jesus nasceu, sobre como era uma manjedoura e um estábulo, sobre a visita dos pastores e dos Reis Magos, que representam toda a humanidade. Com toda a história da natividade contada, adentraram a sala “José” e “Maria”, representados por um seminarista e uma das jovens da Fundação, que segurava em suas mãos um boneco, representando o Senhor, ao som de “Noite Feliz”. 

“Deixem que Ele nasça de novo na vida de vocês. Porque só Ele pode nos salvar, ninguém mais”, concluiu Dom Cícero, abençoando as jovens. 

A ESPERANÇA QUE VEM DE JESUS 

A representação da Sagrada Família na missa fez com que Babi (nome fictício), 18, que está na Fundação Casa há um ano, recordasse de seu filho, de 2 anos de idade. 

“Momentos como estes são muito bons pra gente que está longe da nossa família. Acalmam o nosso coração ver outras pessoas se importando com a gente e querendo nos ver bem”, afirmou a jovem ao O SÃO PAULO

Como muitas outras jovens que ali estavam, Babi todos os dias faz seus momentos de oração e procura ler a Palavra de Deus para acalmar o coração. 

Ana Paula (nome fictício), 19, comentou à reportagem que as palavras de Dom Cícero foram marcantes. “Quando ele falou que Deus deve nascer em nosso coração, eu sinto que isso é verdade, porque vemos alguém falando de Deus e a gente se arrepia, compreendendo que Ele está presente com a gente”. 

ASSISTÊNCIA RELIGIOSA 

À reportagem, a presidente da Fundação Casa, Claudia Carletto, avaliou que o envolvimento religioso voluntário colabora no processo socioeducativo: “Todos os nossos adolescentes têm o direito constitucional de assistência religiosa enquanto cumprem a medida socioeducativa e contamos com diversas denominações, como a católica, presentes no cotidiano e colaborando com o clima local”. 

Keila Costa da Silva, diretora da unidade Chiquinha Gonzaga, enalteceu a presença da Igreja Católica. “Como elas não têm a possibilidade de ir até a missa, a Igreja vem até nós, e é muito importante. Um momento como este faz com que elas se sintam confortáveis e acolhidas em relação à sociedade”. 

Semanalmente, a Pastoral do Menor realiza a assistência religiosa em unidades da Fundação Casa, com evangelização e atividades lúdicas, e em datas especiais, como o Natal, a Semana Santa e a Páscoa, organiza missas. Também os seminaristas da Arquidiocese participam desse trabalho de assistência pastoral. 

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