Igreja de Sant’Ana recebe o título de basílica menor

A Santa Sé elevou a igreja matriz da Paróquia Sant’Ana, na zona norte de São Paulo, à dignidade de basílica menor. O anúncio foi feito neste domingo, 5, pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, no fim da missa por ele presidida na Catedral da Sé.

Construída entre 1896 e 1936, a igreja é um dos símbolos do bairro de Santana, que nasceu em torno da paróquia que, este ano, comemora 125 anos de criação.

Estavam presentes na celebração o Pároco da Paróquia Sant’Ana, Padre José Roberto Abreu de Mattos e Dom Jorge Pierozan, Bispos Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Santana.

“A concessão deste título a esta importante Igreja, intensificando o vínculo particular com a Igreja de Roma e com o Santo Padre, quer promover a sua exemplaridade como verdadeiro centro de ação litúrgica e pastoral na Diocese”, afirma o comunicado da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, datado de 2 de maio.

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O TÍTULO

De acordo com o decreto Domus Ecclesiae (Casa da Igreja), da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, entre as Igrejas de uma diocese, em primeiro lugar e com maior dignidade, está a catedral, “na qual é colocada a cátedra, sinal do magistério e do poder do Bispo, pastor da sua diocese, e sinal da comunhão com a cátedra romana de Pedro”. Seguem-se depois as igrejas paroquiais, que são sede das várias comunidades da diocese. “Existem, além disto, os santuários, aos quais acorrem em peregrinação os fiéis da Diocese e de outras igrejas locais”, explica o documento.

“Entre estas igrejas e outras que são chamadas por outros nomes, existem algumas dotadas de uma especial importância para a vida litúrgica e pastoral, que podem receber do Sumo Pontífice o título de ‘Basílica Menor’, mediante o qual vem expresso um particular vínculo com a Igreja de Roma e com o Sumo Pontífice.  

ORIGEM ROMANA

As basílicas são construções arquitetônicas que têm sua origem no Império Romano. Nessas edificações, a sociedade costumava se reunir para efetuar transações comerciais e discussões políticas e decisões judiciais. Era considerado o lugar dos reis, governantes e juízes.

Quando o cristianismo tornou-se religião oficial do Império, esse estilo de construção pública foi adaptado para a celebração do cultos religiosos, especialmente a Eucaristia.

À medida que os séculos passaram, este modelo arquitetônico inspirou a construção de inúmeras igrejas em todo mundo e, assim, o termo “basílica” foi utilizado também para referir-se a determinadas igrejas geralmente grandes ou importantes às quais haviam outorgado ritos especiais e privilégios em matéria de culto. Este é o sentido usado hoje, tanto do ponto de vista arquitetônico quanto religioso.

As basílicas são classificadas em dois grupos: “basílicas maiores”, que são apenas quatro no mundo, todas situadas em Roma: São Pedro, São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Extramuros. Já as “basílicas menores” passam de 1,5 mil em todo mundo. Esse título só pode ser concedido pelo Pontífice.

Para receber o título de basílica menor a igreja deve ser reconhecida um centro de atividade litúrgica e pastoral, sobretudo para as celebrações da Eucaristia, da Reconciliação e dos outros sacramentos, “sendo exemplar quanto à preparação e desenvolvimento, fiéis na observância das normas litúrgicas e com a ativa participação do povo de Deus”, como ressalta o decreto Domus Ecclesiae.

NO BRASIL

No Brasil, existem 65 basílicas menores, sendo a maior e mais famosa a de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo, a segunda maior basílica do mundo em dimensões, sendo apenas menor do que a Basílica de São Pedro.

Até então, na cidade de São Paulo havia quatro basílicas, sendo três delas no território da Arquidiocese: Basílica Abacial Nossa Senhora da Assunção (Mosteiro de São Bento), Basílica Santíssimo Sacramento (Paróquia Santa Ifigênia) e Basílica Nossa Senhora do Carmo, na Bela Vista. A Basílica Santuário Nossa Senhora da Penha, na zona leste da capital, agora pertence à Diocese de São Miguel Paulista, criada em 1989.

COMPROMISSOS E DEVERES

A Santa Sé também confia alguns compromissos e deveres às igrejas elevadas à dignidade de basílica menor.

Dentre os deveres, está a promoção da formação litúrgica dos fiéis, com grupos de animação litúrgica e cursos especiais de formação, encontros e outras iniciativas do gênero. Também pede-se que seja dada muita importância ao estudo e à divulgação dos documentos do Sumo Pontífice e da Santa Sé, especialmente àqueles referentes à liturgia.

Nesses templos, deve ser reservado grande zelo ao preparo e ao desenvolvimento das celebrações do ano litúrgico, em particular do Tempo de Advento, de Natal, de Quaresma e de Páscoa.

A NOVA BASÍLICA

Com 54,72 metros de comprimento 32 metros de largura, a matriz paroquial de Sant’Ana  teve sua pedra fundamental abençoada em 1º de maio de 1896, por Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, então Bispo da Diocese de São Paulo, que, no ano anterior, no dia 12 de julho erigiu canonicamente o território da Paróquia Sant’Ana.

Em 26 de julho de 1908, foi inaugurada a capela-mor da matriz, que compreendia o presbitério e os altares laterais. A nave central do templo foi inaugurada em 1924.

Na festa da padroeira de 1941, foi concluída a construção das duas torres e abençoados os três sinos de bronze, por Dom José Gaspar de Affonseca e Silva, então Arcebispo de São Paulo. 

ARTE

Uma das relíquias históricas da comunidade é a imagem de Sant’Ana, fabricada no século XVI, em terracota pintada, que era do acervo da antiga capela da fazenda que deu origem à paróquia e ao bairro.

A maioria das imagens sacras da igreja foram feitas pelo artista e paroquiano Arthur Pederzolli, comos as imagens da padroeira, de 1933, de Nossa Senhora das Graças, a Via-Sacra, Senhor dos Passos, Sagrada Família, São João Maria Vianney, entre outras.

O templo também possui vitrais que retratam cenas como nascimento da Virgem Maria, sua apresentação no templo e o cuidado de Jesus sob os olhares dos santos avós. Na rosácea do alto do presbitério, há um vitral que retrata Sant’ana ensinando as sagradas escrituras para a Nossa Senhora.

Há ainda, uma pintura do Casamento de São Joaquim e Sant’Ana, do pintor Vicente Maezo, mestre da escola de arte de Madrid.

A portas principais do templo foram esculpidas em madeira pelos detentos da Penitenciária do Estado de São Paulo, localizada no bairro.

Em uma das torres, com 25 metros de altura, está o campanário. O sino da nota “si”, com 303 quilos, é dedicado a São José, padroeiro universal da Igreja; o segundo de nota “dó”, com 221 quilos, é dedicado a Sant’Ana e o terceiro sino, da nota “ré”, com 163 quilos, é dedicado a Santa Teresinha do Menino Jesus.

RECONHECIMENTO

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Padre José Roberto, que agora passa a ser reitor da nova basílica, destacou que o título de basílica menor é concedido pelo Santo Padre como reconhecimento da dignidade de uma igreja dentro de três características: arquitetônica, histórica e de devoção popular.

“A Igreja Sant’Ana possui essas três características. O conjunto arquitetônico é bonito, deslumbrante, harmonioso e, atualmente, está passando por uma grande reforma na parte interior. A história desta igreja e da devoção faz parte da tradição da Arquidiocese e da cidade… a Festa de Sant’Ana sempre foi uma das principais de São Paulo, sempre com grande participação de fiéis”, afirmou o reitor, acrescentando que a concessão desse título irá contribuir para estreitar ainda mais os laços da comunidade com o Pontífice.

“Reconhecendo a importância dos sinais e dos simbolismos religiosos para a expressão e a vivência da fé, o povo experimenta no templo uma especial proximidade de Deus e sua ação salvadora”, ressaltou o Arcebispo de São Paulo, no momento do anúncio.

Dom Odilo enfatizou que os templos são “sinais de que há lugar para Deus nesta cidade vibrante e sempre ocupada com mil afazeres e ajudam a testemunhar a fé na primazia de Deus em nossa vida pessoal e social”.

“No ritmo frenético e, muitas vezes, desumano, da cidade, as igrejas oferecem oásis de serenidade, onde as pessoas podem repousar e saciar sua sede de Deus e reencontrar o sentido da vida na acolhida da Palavra de Deus, na oração e na celebração dos Divinos Mistérios. Ali, reencontram-se também com a comunidade de irmãos, superando suas solidões e a abandonos”, completou o Cardeal.

FESTA DA PADROEIRA

A cerimônia da entrega do Título e do reconhecimento da dignidade de Basílica Menor à igreja paroquial de Sant’Ana acontecerá no próximo dia 26, festa da padroeira, em missa presidida pelo Cardeal Scherer, às 15h.

Nesse dia também serão celebradas missas às 7h, 9h, 11h e 18h, com a presença de fiéis, seguindo as recomendações sanitárias para conter o avanço da pandemia de COVID-19.

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